Por Héctor S. Diaz1; Leonardo de M. Menezes2; José A. Fontoura Jr3; Evâneo A. Ziguer2; José C. Seganfredo2; Marcio N. Corrêa4; Luiz F. M. Pfeifer5; Nelson J. L. Dionello6
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A pecuária de corte no Brasil vem sofrendo importantes transformações no que diz respeito a qualidade e quantidade de volume de carne produzida, adquirindo com isto um papel cada vez mais destacado na economia nacional. O fato de sermos hoje o maior exportador do mundo responsabiliza ainda mais as instituições afins, que deverão intensificar a busca e aplicação de novas tecnologias e correções de manejo que visem aumentar a produtividade, para que o sistema torne-se cada vez mais rentável e competitivo.
A reprodução é um dos mais importantes fatores associados com a rentabilidade da pecuária de corte. Esse processo afeta diretamente o nível produtivo de um rebanho e depende diretamente de fatores nutricionais, sanitários, genéticos e de um manejo adequado, sendo que a fêmea bovina é uma unidade de produção do sistema.
Neste contexto o intervalo entre partos é um importante parâmetro para analisarmos a reprodução na pecuária de corte. O rebanho brasileiro de corte possui aproximadamente 48 milhões de matrizes com uma produção anual de 35 milhões de bezerros, com intervalo entre partos de 20 meses (ANUALPEC, 1999). Nos últimos anos, foram desenvolvidos vários trabalhos buscando alternativas para melhorar a eficiência reprodutiva em matrizes de corte, a partir da diminuição do intervalo entre partos, já que este se constitui em uma das principais causas da baixa produtividade dos sistemas de criação extensiva. Para atingir o adequado intervalo entre partos de 365 dias, é necessário que as vacas concebam em no máximo 85 dias após o parto.
Devido à relevância que atinge este dado zootécnico há necessidade de avaliá-lo de uma maneira ampla. Sendo o estudo em vivo muito oneroso, uma alternativa tecnicamente viável para a realização destes estudos, é o uso de modelos de simulação. Tais modelos são ferramentas que permitem reduzir o tempo e o custo da experimentação de campo.
A partir de dados simulados podemos observar o impacto econômico relacionado ao volume de terneiro produzido (em Kg) de acordo com diferentes intervalos entre partos, e ainda simular essa situação para diferentes módulos de produção (tamanho em hectare). Consideraremos o impacto econômico de três diferentes períodos de intervalo entre partos (IEP) em sistemas de produção de bovinos de corte, sendo eles: 12, 16 e 24 meses, os quais serão inseridos em três módulos de produção, de 1.000, 10.000 e 50.000 hectares, totalizando nove cenários. Consideraremos uma taxa de lotação, igual para todos os cenários, de 0,70 U.A./ha, e ainda, um tempo de cinco anos de vida produtiva por vaca, que somado aos dois anos até a matriz ser exposta ao primeiro serviço, totaliza sete anos no sistema de produção.
Considerando 12 meses de IEP, as vacas produzirão um terneiro por ano, portanto, cinco terneiros durante a vida produtiva. O intervalo de 16 meses está relacionado com vacas que pariram cedo na estação de parição concebendo somente no final da estação reprodutiva, causando atraso no ciclo reprodutivo e produzindo 3,75 terneiros por vaca em cinco anos de vida produtiva. O IEP de 24 meses considera vacas que pariram num ano e não concebem no ano seguinte produzindo, portanto, 2,5 terneiros durante a vida produtiva. Para efeito resposta serão fixados o peso de venda dos terneiros em 170 Kg e o preço de venda em R$ 1,70/Kg.
Dentro dos cenários propostos acima o gráfico 1 nos mostra que o intervalo de 12 meses foi o que obteve maior receita bruta, conseqüência da maior produção em kg de terneiro desmamado, o que era esperado. Porém, ressalta-se que esse acréscimo comparado ao menor resultado, intervalo de 24 meses, corresponde a um ganho adicional de 100%. Embora a receita analisada não seja a líquida, salienta-se também que não foram incluídos os custos de manutenção das vacas que ficam improdutivas no sistema por determinados períodos, quando seus intervalos entre partos são superiores a 12 meses.
Outra questão importante é que, com a redução do intervalo entre partos, temos uma antecipação dos nascimentos e isso determina um maior peso ao desmame. Dados de literatura mostram que à medida que os sistemas de produção se intensificam, diminui a importância relativa da categoria vacas falhadas e novilhas de reposição, o que acontece quando a idade ao primeiro parto é reduzida e a taxa de natalidade aumentada. Com essa intensificação o intervalo entre partos, consequentemente, é diminuído.
A superioridade do IEP 12 meses é devida ao maior número de terneiros produzidos por vaca, no período de 5 anos. Este sistema produziu 544.000, 5.414.500 e 27.072.500 Kg de terneiro desmamado em 1.000, 10.000 e 50.000 ha, respectivamente, sendo superior aos 16 e 24 meses de intervalo entre partos em 50% e 100%, respectivamente. Os módulos de 1.000, 10.000 e 50.000 ha foram simulados para demonstrar a diferença no impacto econômico de acordo com a escala de produção.
É bastante evidente que em propriedades maiores, com os mesmos índices produtivos das menores, a receita bruta seja também maior. Porém, é válido salientar que alguns dos custos fixos para as três áreas são iguais, e, portanto, nos módulos maiores há uma diluição dos mesmos, o que gera um ganho pela economia de escala.
Gráfico 1 – Receita bruta (R$) de acordo com IEP em diferentes módulos de produção.
Em princípio, analisando-se o modulo de produção de 1.000 ha no gráfico 1, não observamos uma inclinação da linha de resposta tão acentuada quanto nos outros módulos, observamos sim que quanto maior o módulo, maior a inclinação da linha de resposta. Isto é devido à comparação entre módulos de produção bastante diferentes, onde um é 10 e o outro 50 vezes maior que o módulo em questão. Mas ao observarmos esta unidade isoladamente no gráfico 2, fica evidente que a amplitude de variação da resposta a diferentes IEP, mantêm a mesma proporção independente do módulo de produção.
Gráfico 2 – Receita bruta (R$) de acordo com IEP para o módulo de 1.000 ha.
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1Médico Veterinário
2Estudante de Medicina Veterinária
3Zootecnista, M.C., Doutorando em Zootecnia
4Médico Veterinário, M.C., Dr., Professor Adjunto
5Médico Veterinário, M.C., Doutorando em Zootecnia
6Engenheiro Agronômo, M.C., Dr., Professor Adjunto
Universidade Federal de Pelotas
Faculdade de Veterinária – Departamento de Clínicas Veterinária
1 Comment
É bem útil esta busca para diminuir cada vez mais o intervalo entre partos, além de outras características reprodutivas, com o intuito de produzir cada vez mais animais precoces, pois gerará um retorno rápido e um lucro maior. No trabalho realizado foi possível mostrar que a precocidade aumenta a taxa de desfrute de maneira fantástica.