Depois de derrubar os preços de exportação da carne bovina para a União Européia no primeiro semestre, a Argentina está menos agressiva nas vendas desde o mês passado. O resultado, segundo frigoríficos e traders, é que os preços nos negócios para aquele mercado começam a se recuperar. Do fim de julho até agora, os cortes nobres produzidos no Brasil se valorizaram mais de 10% nas vendas para o mercado europeu, estimam as empresas.
Um dos motivos para a menor pressão argentina é que os frigoríficos enfrentam alta dos preços do boi gordo no país por conta da escassez de oferta de animais para abate. Com isso, muitas vezes, não conseguem atender aos clientes europeus.
A conseqüência é a maior procura pela carne brasileira por países como Alemanha e Holanda, diz o supervisor de exportação do Frigorífico Mondelli, Rogério Bonato. “Com a menor oferta, os preços da carne argentina subiram e o Brasil acompanhou”, afirma. Segundo ele, no início do mês, o contrafilé era cotado a US$ 2.800 por tonelada FOB. Hoje, já consegue US$ 3.200.
Nos negócios realizados dentro da cota Hilton, a do Brasil é de apenas cinco mil toneladas, o contrafilé é negociado a US$ 4.800 ante US$ 4.300 no começo de agosto, informa um trader.
Segundo ele, os exportadores argentinos elevaram seus preços a um patamar que quase não encontram comprador na Europa. A tonelada do rump loin (alcatra, contrafilé e filé) foi ofertada a US$ 7 mil na última semana, US$ 2 mil acima do início de agosto.
A menor disponibilidade de boi na Argentina tem duas explicações: o pecuarista está retendo o gado, considerado moeda segura em momentos de crise. “O criador só vende quando precisa de dinheiro”, diz o diretor da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da República Argentina, Miguel Schiariti.
Além disso, a alta dos preços do milho reduziu a oferta de animais criados em semiconfinamento este ano, segundo ele. Conforme apurou a câmara, o quilo vivo do boi gordo na Argentina subiu 17,8% entre a última semana de junho e a última semana de julho para US$ 0,377.
“Com o boi caro, os frigoríficos argentinos abateram menos”, observa o gerente de exportação do Frigoestrela, Benedito de Paula. Ele acredita que a demanda por carne deve ficar aquecida com o fim das férias na Europa. A “relativa recuperação do consumo europeu” também deve elevar a procura, avalia o trader.
Outro motivo para a menor pressão de venda da Argentina é que o país tem, novamente, 12 meses para cumprir a cota Hilton. A cota anterior, que vigorou de julho de 2001 a junho de 2002, teve de ser negociada em apenas cinco meses, pois o país ficou quase um ano sem exportar para a UE devido a casos de aftosa registrados em 2001. De fevereiro a junho, os frigoríficos venderam 26,5 mil toneladas da cota total de 28 mil toneladas, segundo o governo argentino.
A cota atual, que foi ampliada em 10 mil toneladas, deve ser cumprida de forma mais pulverizada, avalia um trader. “A nova cota acaba de começar, por isso não há urgência nas vendas”, afirma Schiariti. A cota iniciada em julho passado deve ser cumprida até junho de 2003.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint