As restrições comerciais relacionadas a doenças animais nos setores de bovinos, suínos e aves marcaram os mercados de produção animal dos Estados Unidos desde o meio de 2003. Em particular, os mercados de bovinos e carne bovina continuam sofrendo os impactos das restrições comerciais impostas após a descoberta de casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou doença da ‘vaca louca’, na América do Norte em 2003.
Outros fatores influenciaram nos mercados de produção animal de 2004, incluindo mudanças no fluxo de produtos animais à medida que os países se ajustaram para redefinir os mercados. O Brasil, em particular, surgiu como um importante participante dos mercados internacionais de carne bovina. Os movimentos na taxa de câmbio que enfraqueceram o dólar com relação a outras moedas também tiveram um papel importante.
O impacto negativo das doenças animais no comércio de carne bovina e de aves contrastou com o bom desempenho nos mercados de suínos, ovinos e lácteos. As forças internacionais tiveram uma influência nesses mercados, mas não de forma tão negativa como ocorreu com os mercados de carne bovina e aves.
Divisão do mercado
Os mercados mundiais de carne bovina vêm há algum tempo sendo dividido entre países com restrições relacionadas a doenças animais – principalmente febre aftosa – e países livre de doenças. Existe também uma categorização baseada na qualidade. A carne bovina de menor qualidade vem de animais criados a pasto, geralmente usados para carne processada (hambúrguer) e a carne bovina de alta qualidade é oriunda de animais jovens (menos de 30 meses de idade) alimentados a grãos.
Hoje, os mercados de carne bovina estão sendo fragmentados em países com EEB, países com risco mínimo para esta doença e países livres de EEB. Atualmente, os EUA e o Canadá estão entre os mais notáveis países com risco mínimo para EEB e os mercados de bovinos e carne bovina dos EUA permanecem sendo o principal produtor de carne bovina de alta qualidade do mundo.
Exportações dos EUA
As exportações de carne bovina dos EUA (incluindo carne de vitelo) aumentaram durante o ano de 2003 devido ao enfraquecimento do dólar e aos mercados geralmente fortes, particularmente no Japão, que foi se recuperando dos efeitos de seu primeiro caso de EEB, descoberto em 2001.
As exportações de carne bovina dos EUA se aceleraram após a descoberta do primeiro caso de EEB no Canadá em maio de 2003, que levou inicialmente a uma barreira mundial às exportações de carne bovina e bovinos canadenses.
A carne bovina e suína dos EUA se tornaram substitutas para as importações de carne bovina canadense em muitos mercados, principalmente no México. Tanto os EUA como o México reabriram seus mercados à carne bovina sem osso do Canadá de animais de menos de 30 meses de idade ao abate vários meses depois, mas outros importantes mercados ainda permanecem fechados à carne bovina canadense.
Como resultado disso, as exportações de carne bovina dos EUA atingiram níveis recordes em 2003 e perderam somente para a Austrália, até então o maior exportador mundial de carne bovina.
Exportações dos EUA pós EEB
No entanto, as limitações nas exportações de carne bovina dos EUA impostas por outros países após o registro do primeiro caso de EEB nos EUA, no Estado de Washington em uma vaca nascida no Canadá, levaram a significantes ajustes no mercado internacional de carne bovina.
As exportações de carne bovina dos EUA em 2004, de 209.106 toneladas, foram quase 82% menores do que o recorde registrado no ano anterior, reduzindo a participação dos EUA nas exportações de 18% para 3%. No entanto, as exportações por outros importantes exportadores – Austrália, Argentina e, talvez o mais importante, Brasil- aumentaram durante o ano.
Comércio de carne bovina dos EUA, 1999-2005
Barreiras aos EUA e Canadá
Em 2004, a carne bovina dos EUA e do Canadá enfrentaram barreiras nos principais mercados do mundo, enquanto as importações de carne bovina e bovinos e as exportações continuaram entre os países do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement – NAFTA), que incluem EUA, Canadá e México, sob uma série de restrições.
Um acordo de estrutura fechado em outubro de 2004 entre os EUA e o Japão, mais importante mercado de carne bovina dos EUA, permitiu o início de um processo de preparação de regulamentação em ambos os países, focado principalmente em como confirmar a idade dos bovinos abatidos e o número de animais a serem testados para EEB.
A imposição de uma idade mínima para importação de 20 meses de idade vale somente para as negociações entre os EUA e o Japão – os EUA e o Canadá estão trabalhando com limite de idade de 30 meses.
As exportações de carne bovina dos EUA em 2005 dependerão da resolução de abertura de fronteiras com o Canadá e de outros mercados importantes para o produto norte-americano, como Japão e Coréia do Sul, para que o comércio seja restabelecido.
As previsões do USDA de julho de 2005 assumem que as políticas dos demais países permanecerão em prática com relação às exportações, para aqueles países que proibiram o comércio devido às preocupações com a EEB (No meio de julho, cortes norte-americanos rejeitaram uma ordem preliminar que mantinha a fronteira fechada para as importações de bovinos canadenses de menos de 30 meses de idade desde março e o comércio foi retomado).
Baseado nas expectativas de que os assuntos comerciais relacionados à carne bovina e aos bovinos entre EUA e Canadá serão resolvidos em 2005, as exportações deverão aumentar modestamente para 278.959 toneladas em 2005. Apesar do aumento de 33% com relação a 2004, as previsões para 2005 mostram exportações bem menores do que o recorde registrado em 2003, de 1,143 milhão de toneladas. Menores preços e uma taxa de câmbio mais favorável para o dólar norte-americano ajudarão a manter ou até a aumentar as exportações para os atuais mercados abertos.
Exportações para Canadá e México
Na ausência do acesso aos mercados do Japão e da Coréia do Sul – as exportações para ambos os países estão abaixo de níveis históricos -, as exportações de carne bovina dos EUA para Canadá e México têm ganhado importância. As exportações para o Canadá estão limitadas pelas questões atuais relacionadas às importações pelos EUA de bovinos e carne bovina de animais de mais de 30 meses de idade do Canadá. Além disso, a combinação de estoques ciclicamente baixos de bovinos dos EUA e a contínua forte demanda de carne bovina no país contribuem para altos preços domésticos que não devem estimular as exportações.
Os estoques de bovinos no Canadá têm aumentado desde a descoberta de EEB em maio de 2003, devido em parte à barreira dos EUA às importações de animais vivos canadenses e à barreira às importações de carne bovina canadense pelos países de fora do NAFTA.
Diante deste aumento na oferta de animais, o número de abates atingiu o recorde de 4 milhões de cabeças em 2004, quase 10% a mais que o normal. Esta oferta adicional de carne bovina e as restrições às exportações juntas mantiveram os preços da carne bovina canadense de forma geral menores do que os preços nos EUA e, consequentemente, as exportações de carne bovina dos EUA ao Canadá declinaram.
A diferença nos preços da carne bovina embalada ou boxed beef – cortes de carne bovina embalados a vácuo e colocados em caixas de papelão para embarque – dos EUA com relação ao produto canadense tem diminuído significantemente desde agosto de 2004, quando a carne bovina canadense sem osso de animais de menos de 30 meses de idade teve permissão para entrar nos EUA.
Como resultado disso, as exportações de carne bovina dos EUA para o Canadá podem aumentar em 2005. Entretanto, o Canadá ainda tem excesso de bovinos e carne bovina de animais de mais de 30 meses de idade, sendo vendidos domesticamente a preços relativamente baixos.
Desde março de 2004, o México limitou as importações de carne bovina dos EUA para animais de menos de 30 meses de idade. Isso, combinado com o enfraquecimento do peso mexicano e com os altos preços dos EUA levou a uma redução abaixo de níveis históricos das exportações de carne bovina dos EUA ao México.
A apertada oferta de carne bovina a preços recordes nos EUA, talvez mais do que os atrasos nas exportações relacionados à EEB, explica a falha nas exportações de carne bovina ao México em retornar aos níveis recordes registrados em 2002, quando a oferta dos EUA estava em nível recorde.
As ofertas de outras carnes que não a bovina dos EUA no México aumentaram em 2004, algumas fornecidas pelo Canadá. O aumento da produção doméstica de outras carnes no México também reduziu a necessidade de importação de produtos dos EUA em 2004.
Importações dos EUA
Os EUA também importam carne bovina (principalmente processada) e de vitelo. Em 2004, as importações totalizaram 1,678 milhão de toneladas – 14% a mais do que o recorde anterior de importações, registrado em 2002.
Ciclicamente, o menor abate de bovinos nos EUA forçou os processadores a usarem carne bovina importada no processamento de seus produtos de carne moída, como por exemplo, os hambúrgueres. Uma comparação com 2003 é menos significante porque as barreiras relacionadas à EEB às importações de carne bovina canadense após maio de 2003 alteraram o mercado.
Depois da abertura da fronteira para alguns produtos, as importações dos EUA de carne bovina canadense se recuperaram em 2004 para quase o recorde de 498.952 toneladas registrado em 2002.
As importações dos EUA de produtos da Austrália declinaram à medida que as vendas normalmente feitas para a América do Norte foram redirecionadas para mercados da Ásia devido às barreiras às importações de carne bovina dos EUA.
As importações norte-americanas de carne bovina do Uruguai aumentaram para níveis históricos em 2004, como resultado de o fato de o país sul-americano ter 352 mil bovinos a mais disponíveis em primeiro de janeiro de 2004 comparado com o ano anterior e cerca de 2 milhões acima dos níveis históricos para o ano.
Os estoques uruguaios aumentaram devido à febre aftosa em 2001, que resultou em perdas nos mercados de exportação. As importações de carne bovina dos EUA deverão aumentar pouco (0,6%) em 2005 com relação aos níveis de 2004.
Os EUA são importadores líquidos de bovinos. Entretanto, em 2003, as importações de bovinos do Canadá foram proibidas devido à EEB e as importações totais de bovinos caíram para 1,75 milhão de cabeças, de 2,5 milhões do ano anterior, e declinaram mais em 2004, para 1,37 milhão de cabeças. Os fortes preços dos animais de engorda resultaram em um grande aumento nas importações de bovinos peso leve do México durante este período.
Comércio de bovinos dos EUA, 1999-2005
Importação de gado em pé
Em 14 de julho de 2005, a Corte de Apelação do Nono Distrito retirou a ordem preliminar que proibia a implementação da lei de risco mínimo regional para EEB e os bovinos canadenses voltaram a cruzar a fronteira em 18 de julho. A resolução final da disputa sobre o fechamento da fronteira para o comércio de bovinos entre EUA e Canadá tem um grande papel no cenário de importação tanto de bovinos como de carne bovina, mas os EUA deverão permanecer como o principal destino da carne bovina e bovinos canadenses.
Fonte: Relatório “Disease-Related Trade Restrictions Shaped Animal Product Markets in 2004 and Stamp Imprints on 2005 Forecasts” elaborado pelo Serviço de Pesquisa Econômica (Economic Research Service – ERS), Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) (por Don P. Blayney), adaptado por Equipe BeefPoint