O estado de Mato Grosso, maior produtor de gado do país, inova produzindo boi orgânico. São cerca de 120 mil cabeças criadas nessa condição, no município de Tangará da Serra (239 km de Cuiabá). Do total de carne orgânica produzida no estado, cerca de 70% é para exportação, o restante distribuído nos grandes centros consumidores do país.
Os produtores perceberam a crescente preocupação, principalmente no mercado consumidor internacional, com o alimento ingerido e decidiram investir nessa metodologia de produção.
A demanda por produtos naturais, aliada ao conceito de sustentabilidade, vem aumentando cerca de 15% ao ano. De olho nesse filão, fazendeiros de Tangará da Serra decidiram inovar na produção de carne bovina e se tornaram modelo na criação de boi orgânico no país e no mundo.
A experiência começou há três anos nas fazendas Vale Formoso e São Marcelo, esta pertencente ao Grupo Carrefour. Elas tiveram de se adaptar, passando por um período de desintoxicação para adquirir o status de social e ecologicamente responsável.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos (Aspranor), Henrique Balbino, em Tangará da Serra existem três propriedades certificadas pelo Instituo Biodinâmico com selo de qualidade orgânica e outras seis estão em processo de certificação. “Em todo o país apenas Mato Grosso pode exibir alto nível nesse procedimento. Além de Tangará da Serra, somente Campo Grande (MS) possui uma propriedade criando boi nessa concepção, mas não atingiu o mesmo grau de desenvolvimento”, observou Balbino.
Mercado
Segundo Balbino, são abatidas cerca de duas mil cabeças por mês, produção que abastece a França e a Alemanha por meio do frigorífico Friboi. A empresa fechou contrato de exclusividade com a Aspranor por um ano e meio.
Do ano passado para este o crescimento na comercialização do boi orgânico foi de 100%. A expectativa dos produtores é aumentar mais 50% este ano.
A carne, apesar de produzida em Mato Grosso, ainda não é comercializada no estado. “Falta interesse das redes supermercadistas”, justifica.
Recentemente, o Friboi lançou o hamburguer orgânico feito a base do dianteiro do boi, já nas prateleiras dos supermercados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Balbino afirma que o aumento pode variar entre 7% e 30% em relação ao valor da carne comum. Essa diferença no preço deve-se ao alto custo de produção, que é em torno de 5% acima do boi produzido em condições normais.
“Os consumidores que compram a carne orgânica estão dispostos a pagar mais caro por ela porque sabem que estão consumindo carne de altíssima qualidade, sem agrotóxico. E ainda contribuem com a preservação do ambiente e da dignidade humana, uma exigência do próprio mercado”, destaca Balbino.
Exigências
O processo de produção orgânica obedece a uma tríade de exigências, que são regras amplas, gerais e imutáveis para obter os certificados de qualidade do Instituto Biodinâmico (IDB), Boi D´Terra e WWF (Programa de Educação Ambiental). “As fazendas certificadas respeitam o meio ambiente, adotam procedimentos de responsabilidade social e têm preocupação com o conforto animal”, informa Balbino.
Segundo ele, as fazendas atendem o princípio da sustentabilidade sem deixar de exercer as atividades de forma lucrativa. “Temos a certeza de estar produzindo a melhor carne do planeta”.
Um diferencial que será utilizado como uma ferramenta de marketing para avançar nos mercados internacionais. “Lá fora esse conceito produtivo ganha espaço cada vez maior. Muitos países estão dispostos a pagar mais e ter a confiança de estar oferecendo à sua população alimento seguro e saudável”, ressalta.
A Aspranor foi criada há cerca de um ano para organizar o setor e a produção orgânica. “Dessa forma podemos crescer organizados sem fazer concorrência predatória”, observa.
Fonte: Folha do Estado/GO (por Joana Dantas), adaptado por Equipe BeefPoint