Atraídas pela concentração do rebanho bovino e pelo baixo preço da terra, as indústrias de curtume desencadearam nos últimos anos um intenso movimento de migração das regiões Sul e Sudeste para os Estados do Centro-Oeste, que concentram 31 processadoras de couro com capacidade instalada para industrializar 40,5 mil peças/dia, a maior produção nacional.
A transferência dos negócios não foi, no entanto, suficiente para tornar Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul grandes fornecedores e exportadores de matéria-prima semi-acabada (crust) e acabada. A região não só se caracteriza por fornecer insumo em estágio básico de fabricação, couro salgado e wet-blue, como também enfrenta dificuldades em reunir toda a cadeia formada pelas fábricas de calçados, acessórios e de móveis que têm o couro como matéria-prima. Em termos de diferença de receita, enquanto a peça wet-blue é comercializada por US$ 30 a US$ 40, a unidade do couro acabado é negociada entre US$ 70 e US$ 80.
A cadeia produtiva do Centro-Oeste, sua capacidade instalada, a ociosidade, o faturamento e as possibilidades de negócio que oferece estão sendo objeto de uma pesquisa conduzida pela Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento do Ministério da Integração Nacional. Segundo informou o consultor Régis Postal, responsável pelo levantamento, o diagnóstico servirá para definir políticas setoriais e linhas de financiamento para expansão e modernização das empresas com recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO).
“Vamos propor a verticalização da cadeia produtiva para chegar ao couro no nível mais avançado de acabamento e nossa idéia é sensibilizar os empresários a investir na compra de equipamentos. Os investimentos não são muito elevados, uma estimativa preliminar aponta ser necessário cerca de R$ 5 milhões por curtume”, expõe Postal, ao informar que estão sendo enviados questionários a 140 empresas, entre curtumes e frigoríficos.
Em Goiás, Estado que detém 18 das 31 indústrias de curtume da Região e capacidade de produção de 19 mil peças/dia, os empresários alertam que não basta ao governo querer incentivar a produção de couro acabado se a demanda interna não absorver a produção. “Queremos agregar valor ao couro, mas temos que ter fábricas de calçados, de acessórios e de móveis para garantir a compra da nossa produção. Ao se propor a verticalização, deve-se considerar que as empresas que compram semi-acabado e acabado devem estar próximas aos curtumes”, afirma o diretor-administrativo do Sindicato das Indústrias de Curtume e Correlatos de Goiás, Emílio Carlos Bittar, vice-presidente corporativo do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil.
Exemplo de política desastrosa que, na opinião de Bittar serviu para atrasar a cadeia do couro, foi a taxação de 9% sobre as exportações do wet-blue adotada a partir de novembro de 2000. “Se eles adotaram a taxação para reduzir as vendas externas do wet-blue e estimular a produção de semi-acabado e acabado, o efeito obtido foi o contrário: aumentaram as exportações do couro salgado, um estágio ainda mais primário que o blue“, comentou.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Luciana Otón), adaptado por Equipe BeefPoint