A disputa entre Brasil e Argentina pelo mercado internacional de carne bovina se acirra a cada dia. Se por um lado a Argentina leva vantagem nas vendas para a União Européia(UE), principal comprador mundial, por outro o Brasil tem se mostrado incansável na luta para manter o abastecimento de antigos clientes da vizinha Argentina, afastada do cenário mundial em 13 de março do ano passado, após a descoberta de focos de aftosa em seu rebanho.
Há quem acredite que a liberação das exportações do Uruguai e da Argentina para os Estados Unidos, a partir de outubro, seja benéfica ao Brasil. “Como os preços do mercado norte-americano são mais atrativos, é provável que o Uruguai e Argentina deixem de abastecer alguns países que podem ser ocupados pelo Brasil”, acredita o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Edvar de Queiroz.
É o caso, por exemplo, da Rússia, que ainda não liberou a entrada do produto argentino. “Estamos exportando um bom volume de cortes dianteiro para a Rússia e a perspectiva é de que, pelo menos este ano, a Argentina não volte a vender para aquele país”, diz o subgerente de exportações do Frigorífico Vangélio Mondelli, de Bauru (SP), Rogério Bonato. O mesmo pode acontecer com o Chile, Peru, Egito e com alguns países dos Oriente Médio. “Existe mercado para todo mundo. O Brasil não tem nada a perder com o avanço da vendas da Argentina”, afirma o diretor de exportações do Frigorífico Amambai, de Maringá (SP), João Martins.
Martins ressalta, entretanto, que algumas questões pontuais podem atravancar as vendas brasileiras para a Europa. “A partir de segunda-feira (02) apenas carne bovina rastreada e com certificação de origem poderá ser embarcada para a Europa e não existe animal (rastreado) em volume suficiente para atender a demanda do mercado europeu”. Isso vai provocar um vácuo nas exportações brasileiras para a UE.
O resultado é que alguns frigoríficos já projetam vendas menores este ano em comparação com o resultado do ano passado, como é o caso do Frigorífico Porto, de Carapicuíba (SP), que estima uma redução entre 25% e 30% nas exportações em 2002. “Nosso maior volume de vendas segue para os Emirados Árabes, que estão com estoques altos este ano”, diz o gerente de exportações, Waldir Pereira.
O Frigorífico Mondelli também estima uma queda de 15% este ano. “A volta da Argentina ao mercado europeu, os altos preços da arroba do boi no Brasil e a suspensão das linhas de financiamento às exportações são os principais entraves para o avanço das vendas externas este ano”, diz Bonato.
Apesar do desaquecimento das exportações para alguns mercados, em 2002 as vendas externas do Brasil devem se manter nos mesmos volumes de 2001, em cerca de 800 mil toneladas. Já a receita deve atingir US$ 1 bilhão, ligeira queda de 1%, por conta da retração dos preços internacionais.
Entre janeiro e julho, as exportações cresceram 12% em receita e 20% em volume, somando US$ 411 milhões (212 mil toneladas). Um bom desempenho, considerando o valor da arroba do boi brasileiro de US$ 16,60, 10,6 % maior que os US$ 15 na Argentina.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Luciana Franco), adaptado por Equipe BeefPoint