Depois de atingirem recorde histórico em termos reais e nominais em meados de novembro, os preços boi gordo vão continuar a se acomodar em patamares mais baixos, mas o ritmo e o tamanho desse ajuste dependerão do comportamento da demanda externa pela carne bovina brasileira e dos reflexos do fim do auxílio emergencial no país sobre o consumo doméstico. Foi o que afirmou Miguel Gularte, CEO da Marfrig, durante Live do Valor de ontem.
O indicador Cepea/B3 para a arroba do boi gordo, principal referência para os preços nesse mercado no país, atingiu o pico de R$ 292 no dia 11 de novembro. De lá para cá, começou a ceder e chegou a cair abaixo de R$ 260 na segunda-feira, e no momento gira em torno desse eixo.
O executivo lembrou que os abates de bovinos continuaram em queda no Brasil no terceiro trimestre, como apontou levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que mantém a oferta restrita e reduz estoques, mas que os embarques para a China arrefeceram por questões sazonais e que as vendas de cortes nobres para as festas de fim de ano na Europa foram mais fracas, em boa medida por causa da pandemia.
Em contrapartida, as vendas ao food service no Brasil já estão praticamente em patamares normais depois dos problemas provocados pela covid-19. O auxílio emergencial do governo e o pagamento da primeira parcela do 13º salário deram mais fôlego para o consumo interno, embora no início de janeiro a demanda seja tradicionalmente mais baixa. No fim do mês que vem, porém, deverá haver um reaquecimento das exportações para a China, e é sobre essa mudança da equação dos preços que a Marfrig está agora debruçada.
“No Brasil, o consumo continuará focado na capacidade de solvência da população”, disse Gularte. Como essa capacidade tem efeitos diretos sobre os preços, realçou ele, a carne bovina, ao contrário do que projetam alguns analistas, não deverá se transformar tão cedo em um “artigo de luxo”, restrito apenas a consumidores mais ricos.
Embora não detalhe as previsões para 2021, a Marfrig, segunda maior empresa de carne bovina do país, trabalha com um cenário positivo no país e no exterior.
No Brasil, Gularte reforçou que ainda será preciso avaliar os reflexos do fim do auxílio emergencial sobre a demanda, mas realçou que as vendas ao food service estão voltando aos patamares pré-pandemia e que são boas as perspectivas para o avanço da companhia no mercado de produtos industrializados.
Além de prever boas exportações a partir do Brasil, sobretudo para a China, ainda na América do Sul a Marfrig tem boas expectativas para os embarques a partir de Argentina e Uruguai, onde mantém frigoríficos. Na América do Norte, por sua vez, o otimismo decorre dos bons resultados que vêm sendo obtidos por sua controlada National Beef, uma das maiores indústrias de carne bovina dos EUA.
No terceiro trimestre deste ano, a receita líquida total da Marfrig alcançou R$ 16,8 bilhões, 32% mais que em igual intervalo de 2019, e 72% do total foi gerado pela National Beef. Apesar desses bons resultados, turbinados pelo câmbio, Gularte afirmou na Live do Valor que os planos para uma listagem de ações nos EUA continuam indefinidos.
O executivo afirmou, ainda, que tanto lá quanto cá continuam rígidos os controles nas unidades da empresa para evitar a disseminação da covid-19 entre funcionários. Depois de um elevado nível de contaminação no início da primeira onda, enquanto os protocolos de controle estavam sendo melhorados, nesta segunda onda o número de funcionários infectados está muito baixo
Fonte: Valor Econômico.