A tensão entre Brasil e Paraguai, provocada pelo ressurgimento da febre aftosa, deve piorar amanhã, em Montevidéu, na reunião do Conselho Veterinário Permanente do Mercosul. O Paraguai promete apresentar uma queixa formal ao Brasil, exigindo provas das suspeitas lançadas pelo governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, de que a doença teria sido causada por bovinos vindos do país vizinho.
Os paraguaios também acusam o Brasil de demorar a informá-lo sobre o surgimento do foco. A fronteira seca entre os dois países é de cerca de 600 quilômetros. “Houve má-fé por parte do governador, que lançou suspeitas sem confirmá-las”, afirmou o embaixador do Paraguai no Brasil, Luís Gonzalez Arias. Segundo ele, indicar que o gado doente tenha vindo do Paraguai é “irresponsabilidade, não uma coisa séria”. Arias acrescentou que, se o Brasil levantou a suspeita, “terá de provar”.
Os representantes paraguaios pedirão mais transparência ao governo brasileiro. De acordo com o embaixador, os dois países têm acordo sanitário firmado em 2002 e renovado em agosto de 2004. Por ele, no caso de suspeita de aftosa numa área de 50 quilômetros a partir da fronteira, os governos locais precisam ser avisados rapidamente. Em 24 horas, os técnicos dos dois países precisam já ter tomado medidas para controlar o foco.
No entanto, disse o embaixador, no caso de Eldorado, onde foi confirmado o primeiro foco, o Paraguai soube dos rumores no dia 8 de outubro e só depois de cobrar a Secretaria de Defesa Agropecuária do Brasil é que recebeu informações sobre o foco.
Há rumores de que o Paraguai entrará com representação contra o Brasil no conselho porque técnicos brasileiros teriam entrado em território paraguaio sem autorização para investigar os casos de aftosa.
Na semana passada, tão logo foi descoberto o primeiro foco em Mato Grosso do Sul, o Ministério da Agricultura pediu ao governo paraguaio autorização para uma investigação no local. Mas o pedido foi negado por autoridades paraguaias. “Eles (paraguaios) não permitiram a entrada de técnicos brasileiros para vistoriar os rebanhos”, disse um técnico do governo.
O secretário de Política de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel, negou qualquer irregularidade. “Com o Paraguai temos trabalhado em perfeita parceria, transparência e reciprocidade”, disse. “Tudo o que é feito por nós para conter o foco da aftosa na fronteira é de comum acordo com eles”, acrescentou.
Maciel defendeu a vacinação assistida do rebanho paraguaio e boliviano. O Brasil doaria vacinas e técnicos dos dois países vistoriariam a vacinação. Em 2003, o Brasil fez duas doações de vacinas ao Paraguai e à Bolívia.
Fonte: O Estado de S.Paulo, adaptado por Equipe BeefPoint