Sem avanço nas negociações de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, os grãos negociados na bolsa de Chicago subiram ontem de maneira expressiva. As negociações do trigo chegaram a ser interrompidas quando o contrato de maior liquidez do cereal, para maio, subiu 8% e atingiu seu limite máximo de valorização para um só pregão.
As negociações foram retomadas, e os papéis terminaram em alta de 5,22% (55,50 centavos de dólar), a US$ 11,1925 o bushel. Na semana passada, esses contratos recuaram quase 4%, depois de acumularem valorização de 30% desde o início da guerra. Os lotes de segunda posição, com vencimento em julho, subiram 4,62% (48 centavos), a US$ 10,93 o bushel.
A continuidade da guerra reduz a oferta de trigo no mundo e faz os compradores buscarem outros fornecedores. Segundo a agência Bloomberg, a Índia está em negociações finais para começar a exportar trigo para o Egito, que é o maior importador do produto, e China e Turquia também negociam compras no exterior.
Outros grandes importadores, entre eles Argélia, Jordânia e Marrocos, “continuarão adquirindo trigo porque precisam manter seus estoques”, escreveu Tobin Gorey, estrategista de agricultura do Commonwealth Bank of Australia, em relatório.
Na Ucrânia, a aposta é que os produtores não conseguirão semear as lavouras de milho, trigo e girassol de verão. Também há risco de a colheita de trigo de inverno não ocorrer no país.
“Os combates na Ucrânia ocorrem em um momento em que os agricultores começariam a plantar suas safras de verão, principalmente trigo, milho e cevada [no hemisfério norte]. O quanto a guerra afetará a produção agrícola da Ucrânia é uma grande incógnita entre analistas e operadores”, afirmou, em relatório, Richard Buttenshaw, corretor da Marex Spectron.
Para a consultoria APK-Inform, a Ucrânia deverá exportar apenas 200 mil toneladas de trigo entre março e junho porque os portos do país no Mar Negro estão bloqueados. Segundo estimativa que apresentou em relatório, a empresa calcula que as exportações ucranianas de trigo entre julho de 2021 e junho de 2022 não passarão de 18,3 milhões de toneladas, enquanto os estoques devem ficar em 5,9 milhões de toneladas. A Ucrânia exportou 18,1 milhões de toneladas de trigo de julho de 2021 até março deste ano.
Fonte: Valor Econômico.