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Utilização eficiente do mercado futuro – BM&F

Cada vez mais o produtor nacional vem sendo exigido quanto à qualidade aplicada na gestão de seu negócio: produzir carne com eficiência. Técnicas de produção aplicadas na seleção genética, manejo de pastagens, sanidade e nutrição animal são referências mundiais consagradas como extremamente competitivas e estão disponíveis através da extensão ou mesmo via internet. Temos a tecnologia da produção, mas é preciso aprimorar a tecnologia da comercialização.

Existe um antigo jargão no meio agropecuário para justificar a administração de propriedades rurais que cita: “Uma fazenda deve ser administrada como uma empresa”. Em pleno século 21, isto é o mínimo, o óbvio, porém insuficiente. É preciso muito mais que isto, até por que administrar bem uma fazenda pode ser muito mais complexo do que administrar uma empresa.

A exploração pecuária encarada como um negócio é sempre comparada com outras atividades agropecuárias ou mesmo aplicações financeiras para a tomada de decisão quando da entrada no negócio. Atividades produtivas ou especulativas devem ser observadas a fim de se conhecer a oportunidade do capital empregado.

Imaginemos uma aplicação de longo prazo, onde a rentabilidade será pós-fixada, havendo chance inclusive de ser negativa, de risco considerável, sendo afetada pela variação cambial, por fenômenos climáticos, pelo mercado internacional e outros. Este pode ser um perfil que se encaixa no mercado especulativo de capitais, ou por exemplo aplicação em ações. Mas por incrível que pareça, também se encaixa para o nosso negócio de produzir carne. Como se não bastasse, a formação de preço do nosso produto ainda é influenciada por questões sanitárias (aftosa, vaca louca, etc), pela condução da política econômica e pelos preços de carnes alternativas, determinando a demanda interna.

A viabilidade do negócio “produzir carne com eficiência” passa pelo fator preço. Preço pago por insumos objetivando minimizar custos e preço recebido pelo produto, para maximizar receitas.

É comum depararmos com sistemas de produção onde não se sabe com exatidão qual o custo da arroba produzida e muito menos que preço será recebido pelo produto produzido. Será que a atividade é tão boa que não é necessário ter estes números conhecidos? Não seria especulação entrar em um investimento onde não se sabe quanto custa e nem quanto será recebido pelo produto?

Há pouco mais de uma década, a BM&F vem aprimorando o sistema de comercialização de commodities agrícolas, proporcionando uma ferramenta extremamente eficiente para a gestão de riscos de preços.

O primeiro passo para a utilização eficiente desta ferramenta é conhecer profundamente o custo de produção, a participação de cada item que o compõe e o histórico de preços pagos e recebidos. De posse destes parâmetros, com uma programação de compra de insumos e venda de produtos, será possível reduzir riscos de preços através da negociação de contratos junto à BM&F.

Vamos exemplificar através de um sistema de recria e terminação de garrotes, onde a recria é feita exclusivamente a pasto e a terminação se dá em confinamento, sendo que um dos principais ingredientes da dieta do confinamento é milho em grão. Este sistema depende de uma série de fatores, porém em grande importância: preço pago pelo bezerro quando da sua compra, preço do milho em grão para a ração do confinamento e preço recebido por arroba vendida no abate.

O produtor poderá reduzir seus riscos de preço negociando através da BM&F inicialmente, o preço de aquisição dos bezerros. Havendo uma programação mínima da ocasião de compra da recria, é possível acompanhar antecipadamente as cotações dos contratos de bezerro negociados na BM&F, e baseado em custo histórico, perspectivas de mercado e o próprio empreendimento, pode ser interessante “travar” antecipadamente o custo de aquisição de pelo menos uma parcela do total de animais programados para compra, diminuindo riscos de flutuações desfavoráveis de preço.

Sob a mesma ótica de garantir preços interessantes de insumos, sendo neste exemplo o milho o componente de maior peso na dieta dos animais na fase de confinamento, será possível antecipadamente, acompanhar as cotações das negociações dos contratos de milho negociados na BM&F, e ocorrendo valores onde o produtor ou seu consultor julgar interessante para garantir preços favoráveis da matéria prima, poderá reduzir seu custo de produção realizando a compra a futuro de parte do volume estimado de milho que irá utilizar em seu confinamento.

A outra possibilidade, talvez a mais importante, seria vender a futuro uma parcela do volume total da produção. Mais uma vez, baseado em uma programação de venda dos produtos, preços históricos, análise setorial e custo de produção, a partir de um ano de antecedência é possível acompanhar as negociações de boi gordo na BM&F e julgando-se interessante, vender a futuro uma parcela da produção programada, saindo do risco de preço influenciado por inúmeros fatores conforme citado.

O ano de 2005 foi um clássico exemplo de como a prática de “seguro de preço” ou “hedge” – termo usado na operação junto a BM&F – pode ser decisivo quanto a determinação da viabilidade econômica da atividade. Os contratos negociados na BM&F, com vencimentos em outubro de 2005 chegaram a ser cotados acima de R$ 70,00 por arroba, valor muito atraente tendo em vista os preços praticados no mercado físico em outubro, após toda a tragédia sanitária observada e que sempre estaremos vulneráveis.

Percebe-se que administrar bem um empreendimento agropecuário não é para amadores, foi-se o tempo em que a terra e o rebanho se justificavam apenas por serem reserva de capital, e talvez chegará o momento em que o antigo “jargão” seja alterado para: “uma empresa deve ser administrada como uma fazenda”…

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Marcus Vicente Petrosino é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, consultor e diretor técnico da Aliança Pecuarista.

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  1. Luiz Henrique Leite Nogueira disse:

    Interessante artigo. Falta pouco para que o setor pecuário utilize esta ferramenta de negociação pela BM&F.

    O que trava a adesão, me parece ser ainda uma grande dificuldade que o produtor pecuário comum entenda da matéria, e se sinta suficientemente seguro para fazer operações em “economês”.