Um levantamento realizado com apoio da Fapesp por pesquisadoras do Laboratório de Economia, Saúde e Poluição Ambiental (Lespa) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com base em dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) constatou que a pecuária brasileira emite mais do que o dobro do limite necessário para o país cumprir suas metas ambientais internacionais.
Segundo os cálculos realizados a partir dos registros de 2000 e 2020, as emissões do setor foram projetadas em 0,42 a 0,63 gigatonelada de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, acima do o limite para atender à meta da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), compromisso assumido durante o Acordo de Paris, assinado em 2015, seria de 0,26 GtCO2e.
A avaliação usou como base a NDC em vigor até 2024, que prevê a redução das emissões em 43% até 2030 em comparação a 2005. Contudo, em novembro do ano passado o Brasil atualizou seu compromisso, se propondo a reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO2 equivalente até 2035 – o equivalente a uma queda de 59% a 67% na comparação com 2005.
Para chegar a esse resultado, as pesquisadoras calcularam a taxa média de emissão de CO2 por tonelada de carne produzida no período analisado, chegando ao resultado de 51,86 tonelada de carbono equivalente por tonelada de carne bovina produzida, e projetaram esse valor sobre as previsões do Ministério da Agricultura para a produção nacional ao longo desta década.
O estudo lembra que os dados de emissões utilizados para o gado bovino não abrangem as emissões indiretas ligadas à produção de carne bovina, tal como potencial desmatamento, uso de máquinas e calagem do solo.
As pesquisadoras também buscaram quantificar o impacto financeiro das emissões na sociedade por meio de um indicador chamado custo social do carbono (CSC). Ele avalia impactos não comerciais sobre o meio ambiente e a saúde humana e incorporando consequências, como perdas na agricultura e danos provocados por eventos climáticos extremos.
Segundo os cálculos realizados, o potencial de redução de custos varia entre US$ 18,8 bilhões e US$ 42,6 bilhões até 2030 dependendo do cumprimento das metas. Esses custos, explicam as pesquisadoras, poderiam ser redirecionados para investimentos em práticas de produção pecuária mais sustentável por meio de políticas públicas e linhas de crédito acessíveis.
“Sabemos da importância do setor de carne bovina não só para a economia como para o cardápio dos brasileiros. Nosso objetivo não é dizer: produzam ou comam menos carne, mas sim trazer uma discussão sobre a forma atual de produção, que vem atrelada ao desmatamento, a altas emissões e sem adotar técnicas sustentáveis”, destaca, em nota, a primeira autora do estudo, a bióloga Mariana Vieira da Costa.
Segundo ela, as conclusões mostram que é preciso adotar na cadeia produtiva práticas que mitiguem as emissões. “Isso contribui também com a redução dos custos associados às mudanças climáticas”, completa a pesquisadora.
Fonte: Globo Rural.