Depois que o presidente Donald Trump supostamente ordenou à Imigração e Alfândega (ICE) que suspendesse as batidas em fazendas e frigoríficos na semana passada, novas reportagens indicam que o governo voltou atrás mais uma vez. Esse movimento de “vai e volta” nas ações do ICE está gerando insegurança entre os empregadores que dependem de mão de obra imigrante e já causa escassez de trabalhadores devido à ausência de funcionários.
Na sexta-feira à noite, houve uma nova atualização: o presidente Trump afirmou estar avaliando novas medidas de política migratória que permitiriam às fazendas assumirem responsabilidade pelos trabalhadores que contratam.
O Washington Post relatou na segunda-feira que oficiais do ICE instruíram líderes de escritórios regionais a continuar conduzindo batidas em locais de trabalho, revertendo uma diretriz que havia sido emitida poucos dias antes.
Representantes do Departamento de Segurança Interna (DHS) não confirmaram a matéria do Post, mas uma associação agrícola disse ao Farm Journal que o conteúdo está de acordo com o que foi discutido com o governo.
Em resposta, o DHS declarou: “O presidente foi extremamente claro. Não haverá zonas de conforto para indústrias que abriguem criminosos violentos ou que deliberadamente tentem enfraquecer os esforços do ICE”, afirmou Tricia McLaughlin, secretária assistente do DHS. “A fiscalização em locais de trabalho continua sendo um pilar essencial para garantir a segurança pública, a segurança nacional e a estabilidade econômica. Essas operações têm como alvo redes ilegais de emprego que prejudicam os trabalhadores americanos, desestabilizam o mercado de trabalho e expõem infraestruturas críticas à exploração.”
Na sexta-feira, outra atualização: a agência Reuters informou que Trump está considerando medidas que permitam às fazendas assumirem responsabilidade por seus contratados.
“Estamos estudando algo para que, no caso de fazendeiros de boa reputação, eles possam assumir responsabilidade pelas pessoas que contratam — e deixá-los manter essa responsabilidade — porque não podemos levar essas fazendas à falência”, disse Trump a repórteres. “E, ao mesmo tempo, não queremos prejudicar pessoas que não são criminosas.”
Segundo Michelle Rook, do Farm Journal, as recentes ações do ICE já estão provocando faltas e escassez de mão de obra que podem causar sérias rupturas na cadeia de abastecimento alimentar dos EUA. Grupos do setor agropecuário voltam a pressionar por uma reforma imigratória, com a esperança de que o tema ganhe prioridade.
Joe Del Bosque, proprietário da Del Bosque Farms em Firebaugh, Califórnia, está vivenciando a montanha-russa do mercado de trabalho e afirma que a política volátil gera medo entre produtores e trabalhadores.
“Há muita incerteza sobre o que o governo vai fazer,” disse Del Bosque a Rook no programa AgriTalk desta semana.
Del Bosque conta que as batidas em fazendas produtoras de hortaliças na Califórnia estão atrapalhando a colheita de produtos perecíveis.
“Não têm sido grandes operações. Eles geralmente pegam algumas pessoas. Mas isso causa muito medo, e as pessoas deixam de ir trabalhar. Isso é tão ruim quanto se fossem detidas,” afirma.
De acordo com um relatório exclusivo do The Packer, do Farm Journal, o impacto da ofensiva migratória de Trump pode ser profundo — caso o governo volte a focar na agricultura.
Kevin Kelly, CEO da Emerald Packaging — maior fornecedora de embalagens flexíveis para o setor de folhas verdes — está baseado em Union City, Califórnia, e atua há 62 anos no ramo. Kelly diz que a força de trabalho imigrante na Califórnia está se sentindo insegura e com medo.
“Certamente temos ouvido relatos de que pessoas não estão aparecendo para trabalhar nos campos, e estamos vendo isso na nossa instalação. Verificamos a documentação de todos, então sabemos que todos os nossos funcionários estão legalmente autorizados a trabalhar nos EUA,” disse Kelly a Jennifer Strailey, editora do The Packer. “No nosso caso, são irmãos e irmãs sendo deportados, e outros membros da família com medo. Nossos funcionários ficam em casa para ajudar parentes a se mudarem, cuidarem uns dos outros ou levá-los a advogados — coisas assim.”
Fazendas leiteiras em vários estados também têm sido alvo de batidas recentemente. Produtores de leite afirmam depender da mão de obra imigrante para garantir uma força de trabalho estável o ano inteiro e manter o abastecimento de alimentos.
“Precisamos dessas pessoas para cuidar dos nossos animais e produzir alimentos. Sem cuidado com os animais, não teremos leite, queijo, manteiga — nada,” disse Greg Moes, da MoDak Dairy em Goodwin, Dakota do Sul, a Rook.
As recentes detenções do ICE na Glenn Valley Foods, em Omaha, Nebraska, também resultaram em ausências no setor de frigoríficos.
“No início do governo Trump, já tínhamos essa mesma preocupação com a repressão — se isso ia causar faltas e problemas do tipo,” disse Brad Kooima, da Kooima Kooima Varilek em Sioux Center, Iowa. “Então, esperamos que isso fique no retrovisor.”
A notícia da semana sobre a suspensão temporária das batidas em fazendas e frigoríficos foi bem recebida pelo setor agrícola. Desde laticínios e hortifrutis até plantas de processamento de carne, todos esses segmentos dependem fortemente da mão de obra imigrante.
Os imigrantes representam uma parte significativa da força de trabalho nos frigoríficos, com estimativas variando de 37% a mais de 50%. Em estados como Dakota do Sul e Nebraska, a concentração é ainda maior: chega a 58% e 66%, segundo o Migration Policy Institute.
Nas fazendas leiteiras, mais da metade dos trabalhadores são imigrantes. Especificamente, estima-se que 51% da mão de obra nas propriedades leiteiras seja formada por imigrantes — responsáveis pela produção de 79% do leite consumido nos EUA.
A organização Farmworker Justice estima que 70% dos trabalhadores das lavouras de hortifrúti sejam imigrantes. Já as estimativas do USDA são um pouco mais conservadoras — em torno de 60%.
Fonte: AgWeb, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.