Uma safra de grãos cheia no país já era esperada, mas a confirmação de que os preços do milho estão caindo animou os investidores das empresas de carne listadas na B3 nesta segunda-feira (7/7). Isso porque o recuo no custo da principal matéria-prima da ração animal significa melhora nas margens dos frigoríficos.
O dólar favorável à exportação, que se torna ainda mais importante em momento de preço menor do frango do Brasil, após o foco de gripe aviária em granja comercial em maio, também sustentou as altas na bolsa.
A companhia mais beneficiada foi a BRF, maior exportadora de frango do país. Depois de ficarem o pregão todo no positivo, em um dia de quedas da maioria das empresas do Ibovespa, as ações da companhia de alimentos fecharam em alta de 9,37%, a R$ 21,71. Com isso, a empresa ganhou R$ 3,1 bilhões em valor de mercado, que alcançou R$ 36,5 bilhões.
Os papéis da controladora da BRF, a Marfrig, subiram 4,09% para R$ 23,14, enquanto a concorrente Minerva terminou com ganhos de 1,16%, a R$ 5,23.
“O setor de frigoríficos sobe hoje na bolsa impulsionado por dois fatores principais: a forte queda no preço do milho, que reduz os custos de produção, e a alta do dólar, que favorece as exportações”, disse Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), divulgado nesta segunda-feira (7/7) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) referente a junho, mostrou recuo de 14,33% no milho e de 3,86% nos produtos agropecuários, na variação mensal, animando os investidores do setor de carnes.
“Ha uma combinação positiva de queda de custos e uma atratividade maior com o aumento de 1% no câmbio, apesar da desvalorização acumulada no ano”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
“Milho mais barato, redução de custo para frango e suínos”, acrescentou Chinchila. No caso dos bovinos, o milho é utilizado na ração do gado terminado em confinamento.
Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que os preços do milho operam, neste começo de julho, nos menores patamares do ano na maior parte das regiões acompanhadas.
Na sexta-feira (4/7), na região de Campinas (SP), a saca de 60 quilos foi cotada a R$ 64,05, uma queda de 4,43% desde o início do mês. Foi o menor valor em termos nominais desde setembro de 2024. Segundo o Cepea, a pressão vem sobretudo da maior oferta do cereal no mercado à vista.
No Brasil, a segunda safra de milho deve somar 108,2 milhões de toneladas, levando a safra total para 136,1 milhões de toneladas em 2024/25, projeta a Stonex.
Régis Chinchila acredita que o avanço nas negociações para retirada dos embargos à carne de frango brasileira — em função do caso de gripe aviária em granja comercial ocorrido em maio em Montenegro (RS) — é outro fator que sustentou o desempenho das ações de frigoríficos na bolsa.
Ele citou as conversas entre Brasil e China sobre o tema durante o encontro do BRICS, a reunião da cúpula de países emergentes, que terminou nesta segunda-feira no Rio.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro tratou do assunto durante a bilateral entre o presidente Lula e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, no Rio. “Ele [o primeiro-ministro] disse que já estava ciente do caso e que os protocolos estão sendo revistos rapidamente para retomar as compras”, disse Fávaro, segundo nota do Ministério da Agricultura.
Também nesta segunda-feira, a BRF obteve vitória na Justiça sobre a assembleia do dia 14, que vai votar a fusão com a Marfrig. Segundo o colunista Lauro Jardim, d’O Globo, o juiz Ricardo Nascimento, da 17{ Vara da Justiça Federal de São Paulo, decidiu pela extinção da ação popular proposta na semana passada por um aposentado da Previ que tentava suspender a assembleia.
William Curi Baena argumentava que a fusão seria lesiva aos interesses da Previ (dona de 6% da BRF), que perderia R$ 2,9 bilhões com o negócio.
Na contramão do segmento, as Brazilian Depositary Receipt (BDRs) da JBS caíram 0,17% na B3 na segunda-feira, a R$ 75,17. Na visão de Gustavo Cruz, o anúncio de novas tarifas pelo governo Trump pode ter pesado.
Fonte: Globo Rural.