Por que a tarifa de 50% sobre a carne beneficia JBS e Marfrig – e pouco afeta a Minerva
14 de agosto de 2025

Como os EUA preenchem o enorme vazio de carne bovina deixado pelas tarifas do Brasil?

Por Steve Kay

A ameaça ou a imposição de tarifas enormes sobre bens e serviços importados para os EUA de vários países dominou os primeiros sete meses do governo Trump.

O presidente Trump usou ameaças de tarifas para obter acordos comerciais da União Europeia, Japão e Indonésia. Mas a ameaça de novas tarifas ainda paira sobre as importações do Canadá e do México, enquanto uma tarifa enorme de 50% foi imposta em 1º de agosto sobre várias importações do Brasil, incluindo carne bovina e café.

A imposição da tarifa ao Brasil terá, até agora, o maior impacto sobre o abastecimento de carne bovina dos EUA. Mas a ameaça de tarifas contra Canadá e México significa que a indústria de carne bovina dos EUA continua sob risco de tarifas sobre importações de gado vivo e carne bovina.

Isso obviamente aumentaria o preço dos animais que entram nos EUA para engorda ou abate direto. As importações de bezerros de engorda do México ainda estão suspensas devido à doença da bicheira (New World screwworm).

No acumulado do ano até 1º de agosto, totalizaram 230 mil cabeças, contra 863 mil no mesmo período do ano passado. No acumulado até 26 de julho, os EUA importaram do Canadá 418 mil cabeças para engorda ou abate.

A tarifa sobre a carne bovina brasileira importada não poderia vir em pior hora

A tarifa sobre a carne bovina brasileira importada não poderia vir em pior hora. As importações de carne bovina dos EUA dispararam em maio, refletindo a demanda contínua por carne magra para hambúrgueres.

As importações totalizaram 250 mil toneladas, mais de 60% acima do registrado no ano anterior e o segundo maior volume mensal, atrás apenas de janeiro deste ano, segundo o Serviço de Pesquisa Econômica do USDA.

O Brasil foi o maior responsável pelo aumento, com 79 mil toneladas importadas, mais de cinco vezes o volume importado em maio de 2024. No acumulado do ano, as importações do Brasil mais que dobraram em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a 302 mil toneladas. O volume subiu 347% na comparação anual.

No entanto, essas importações agora desapareceram devido à imposição da nova tarifa sobre muitos produtos brasileiros em 1º de agosto. O Brasil pode perder pelo menos US$ 1,3 bilhão em vendas de carne bovina e produtos de origem animal para os EUA no segundo semestre de 2025, a menos que consiga negociar algum alívio da tarifa adicional, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos.

Como já noticiado pelo Beef Central, a imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre a já existente de 26,4% elevaria o total para 76,4%. O comércio se tornaria inviável nessas condições, disseram analistas no Brasil e no exterior antes da entrada em vigor da nova tarifa.

Os EUA são agora o segundo maior destino de exportação de carne bovina do Brasil, atrás apenas da China. De janeiro a maio, os EUA importaram 165 mil toneladas de carne bovina brasileira, um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O governo brasileiro enviou em 22 de julho uma mensagem formal a Washington expressando indignação com a tarifa adicional imposta às exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, a carta sinalizou disposição para dialogar com as autoridades norte-americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável. Sem carne bovina brasileira entrando nos EUA, consumidores finais como pequenas redes de hambúrgueres e mercados de bairro serão os mais afetados, já que quase toda a carne brasileira exportada para lá era carne magra para hambúrguer.

Austrália suspende restrições a importações dos EUA e Canadá

Como amplamente noticiado, a Austrália está suspendendo suas restrições às importações de carne bovina dos EUA, permitindo a entrada de produtos frescos e congelados no país. No entanto, a medida é em grande parte simbólica, já que pouca carne bovina dos EUA deve ser exportada para lá até que o rebanho e a produção norte-americana aumentem significativamente, como também informou o Beef Central.

Um Acordo de Livre Comércio entre EUA e Austrália entrou em vigor em 2005, com a intenção de permitir a venda de carne bovina dos EUA na Austrália. Mas a Austrália usou diversas táticas para negar o acesso, o que irritou e frustrou as organizações da indústria de carne bovina dos EUA. O país finalmente cedeu, afirmando estar satisfeito com os programas de rastreabilidade implementados pela indústria norte-americana. Não surpreendentemente, a indústria de carne bovina australiana imediatamente pediu uma revisão do processo.

Enquanto isso, o governo Trump fechou acordos comerciais com Japão e Indonésia favoráveis à indústria de carnes dos EUA. A Federação de Exportadores de Carne dos EUA (US Meat Export Federation) afirmou que valoriza muito o novo acordo comercial com o Japão, que garante e amplia as oportunidades no segundo maior destino das exportações de carne bovina e suína dos EUA.

Trump anunciou o que chamou de um “acordo maciço” com o Japão, que inclui tarifas recíprocas de 15% sobre as exportações japonesas para os EUA, com tarifas sobre automóveis sendo reduzidas para esse patamar.

Em uma postagem no Truth Social, Trump disse que o Japão investirá US$ 550 bilhões nos EUA e que os EUA “receberão 90% dos lucros”. Trump também afirmou que o Japão “abrirá seu país para o comércio, incluindo carros e caminhões, arroz e certos outros produtos agrícolas, entre outras coisas”.

No primeiro mandato de Trump, foi firmado o crucial Acordo Comercial EUA-Japão, que colocou novamente a carne vermelha norte-americana em condições iguais de concorrência no Japão (referindo-se às restrições de idade anteriores baseadas em preocupações com o BSE) e restaurou sua posição como um mercado extremamente confiável, segundo a USMEF.

Em outro avanço comercial, EUA e Indonésia firmaram um “acordo comercial histórico” em 22 de julho, segundo anúncio da Casa Branca. O Acordo de Comércio Recíproco proporcionará aos exportadores de ambos os países “acesso sem precedentes” aos mercados um do outro, disse a Casa Branca.

* Coluna mensal escrita para o Beef Central por Steve Kay, comentarista dos mercados de gado e carne bovina dos EUA, editor do US Cattle Buyers Weekly

Fonte: Beef Central, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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