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Pesquisa Milionária Acelera o Gene da “Carne Macia” na Maior Raça Bovina do País

Peões conduzindo o gado em área de pasto numa das propriedades da Agro Maripá. Foto: Divulgação/Forbes

Uma pesquisa inédita e milionária pode revolucionar a qualidade da carne nelore, a maior raça de bovinos no País. A ferramenta tecnológica para isso? O sequenciamento genético, onde foram encontrados os genes relacionados ao marmoreio. Essa é a gordura que fica no meio da carne (gordura intramuscular) e que responde pela maciez e suculência dos cortes.

Agora o próximo passo é reproduzir animais que transmitem esta característica aos seus descendentes, que deve acontecer no segundo semestre do ano que vem.

Se antes a qualidade da carne estava apenas reservada a animais como o britânico angus ou mesmo o japonês wagyu, imagine levar um rebanho estimado em 190,5 milhões de animais a este mesmo patamar. Este é o número de bovinos nelore e anelorados (com um grau de sangue de nelore) no País e que são estimados em 80% do rebanho brasileiro, que chega a 238,2 milhões de bovinos, segundo o IBGE, o maior rebanho comercial do mundo.

O estudo identificou bovinos nelore com nível dez de marmoreio. O wagyu, por exemplo, pode chegar ao nível 12, que representa hoje o máximo de gordura intramuscular já detectado num bovino no mundo.

“Sou empreendedor, meio maluco, como sempre, e adoro o desafio. Se não houver desafio na minha vida, acho que não sou ninguém”, diz o pecuarista e selecionador de animais nelore puro de origem (PO) Marcelo Baptista de Oliveira, CEO da Agro Maripá

Com sede em Jaguariúna (SP) e mais fazendas em Minas e Mato Grosso, a Agro Maripá fatura R$ 30 milhões anuais com a pecuária (venda de animais e leilões).

Foi em suas andanças em feiras e exposições técnicas que ele conheceu Carolina Barbosa, cofundadora e CEO da Earth Biome. A empresa é especialista em análise genética de animais de grande porte, do microbioma de solos e de sementes e está ligada ao Grupo Eva, que reúne mais cinco empresas.

Nos últimos três anos, o Grupo Eva investiu cerca de R$ 70 milhões em tecnologia de pesquisa genética, em diversos campos, como genoma humano, detecção de doenças raras e genoma de pets. Atualmente é um dos maiores laboratórios genômicos da América Latina.

União para o melhoramento genético da raça nelore

Há cerca de três meses, a Earth Biome e a Agro Maripá estão nesta cruzada para afinar ainda mais o projeto de melhoramento genético da propriedade, buscando elevar a qualidade da carne dos animais, identificando os genes relacionados a essa característica.

“Especificamente neste projeto do nelore, estamos investindo R$ 2,5 milhões, não apenas na pesquisa do marmoreio, mas no apuramento geral da raça”, diz Carolina.

Neste trabalho, foi feito o sequenciamento genético de 304 animais (entre machos e fêmeas da raça nelore) e ainda deve contemplar outros 104 animais da raça Gir. Todos fazem parte do rebanho de 22 mil animais puros da Agro Maripá.

No estudo, três genes foram identificados e estão diretamente relacionados com o marmoreio. No entanto, existe uma interação entre esses genes. Um deles, por exemplo, pode anular o outro, e, por consequência, anula o marmoreio do animal.

O cuidado da pesquisa é buscar os animais que não possuam este gene que anula o marmoreio. E é pela tecnologia da Earth Biome, descrita com genética de precisão, que a leitura da cadeia do DNA passa a ser essencial.

O sequenciamento, porém, não é uma novidade. Um estudo coordenado pelo professor José Fernando Garcia, da Unesp de Araçatuba, apresentou em meados de 2011 o primeiro sequenciamento do genoma do nelore.

“Eles até utilizaram uma tecnologia de ponta para a época, mas não como essa que nós estamos utilizando agora, que é o NGS (Next Generation Sequencing)”, diz Carolina.

O NGS é capaz de ler sete terabytes em tempo recorde. Isso significa uma capacidade máxima de atingir 30 mil genomas em um ano e 70 mil exames genéticos no mês, sem deixar de fora nenhum dos 2,87 bilhões de pares (os nucleotídeos) que formam a base do DNA do animal, segundo a especialista.

Além disso, a pesquisa da Earth Biome conta com todo o trabalho de 20 anos de informações sobre melhoramento genético da própria Agro Maripá, desenvolvida pelo médico-veterinário Luiz Otávio Pereira de Lima, diretor da Agro Maripá.

Fim da era das informações de baixa acurácia

Lima destaca que este é um grande passo para um trabalho mais certeiro no melhoramento genético. Ele conta que, além de ser associada, a fazenda trabalha com as informações da própria Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), principal entidade que comanda o registro de bovinos puros como o nelore e o gir.

A entidade está dentro do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) e traça indicadores como as DEPs (diferenças esperadas na progênie).

Essas DEPs correspondem às características que os filhos mais vão herdar de seus pais, potencialmente. Atualmente essa base chega a 18,2 milhões de animais com DEPs avaliadas, segundo a ABCZ. Entre essas DEPs estão às de marmoreio. Só que a acurácia chega a apenas 37%, segundo Lima.

Isso significa que a cada 100 animais, filhos ou filhas de touros e vacas com DEP para o alto marmoreio, 37 devem nascer com essa característica. Já a grande maioria, os 63 restantes, não. Com o trabalho a Earth Biome, a acurácia para o marmoreio chega a 80% ou até mais.

“O que que estamos esperando hoje? Resultados acima de 85%”, diz Lima.

Esse trabalho também será acompanhado de uma avaliação das condições do meio em que vive o animal, pois é o ambiente é fundamental para a expressão efetiva dos genes.

“No caso do marmoreio, por exemplo, o tipo de alimentação influencia muito no resultado”, diz Lima. “Temos de padronizar a análise e testar com a mesma nutrição. Não adianta ter a genética e não ter o meio. Se não tem o alimento correto, o marmoreio não aparece, mesmo que a genética esteja presente”.

A estratégia financeira

A Agro Maripá vê o projeto como uma vantagem competitiva para a venda de genética assertiva (sêmen e touros). O objetivo é garantir que os 400 touros vendidos por ano gerem descendentes com marmoreio de ponta, elevando o padrão do rebanho comercial brasileiro.

A Agro Maripá já tem 52% de machos com marmoreio acima de 3, um avanço de 15% desde 2017. O foco é elevar o marmoreio do nelore (que tem mais sabor que o gado europeu) para o nível de 4,5 (já alcançado por uma novilha da fazenda) e, ousadamente, até atingir o nível dez.

O trabalho, contudo, não se limita ao marmoreio (que é caro para produzir, exigindo 15% a 20% a mais de custo de ração), mas se estende à saúde do animal (com a identificação de mais de 100 genes) e à funcionalidade (longevidade, adaptação ao meio e sustentação da carcaça).

Corrente para elevar o marmoreio no nelore

Assim como a Agro Maripá, outros produtores também estão numa força-tarefa para elevar o marmoreio da raça nelore. Um exemplo é o trabalho desenvolvido pela Associação Confraria da Carcaça Nelore (ACCN), criada em 2021 por pecuaristas, técnicos, professores universitários e especialistas na produção de carne bovina.

O grupo faz a identificação dos animais por exames de ultrassonografia de carcaça, que leem a carne do animal e mostram o nível de marmoreio. Com a mensuração dos resultados, a ACCN passa a acompanhar, listar e indicar os touros reprodutores nelore que mais transferem a característica de mais marmoreio a seus filhos.

“Também utilizamos a ultrassonografia, mas queremos ir muito além, por isso estamos apoiados na pesquisa genômica da Earth Biome”, diz Oliveira.

Fonte: Forbes.

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