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Redução de custos estimula confinamento de gado no Brasil

A queda no preço dos grãos e a melhora nas margens de lucro estão levando produtores em todo o país a ampliar o confinamento e a Terminação Intensiva a Pasto em 2025. Com a alimentação mais barata e o boi gordo valorizado, o resultado tem sido um aumento expressivo na oferta de animais terminados e uma recuperação financeira após anos de margens apertadas.

Em Mato Grosso, o pecuarista Aldo Rezende Telles, que atua há mais de cinco décadas na atividade, resume o momento como um dos mais favoráveis dos últimos anos. “Hoje estamos vendendo o boi por R$ 300 a arroba e produzindo por cerca de R$ 200. Isso significa um ganho de 50%”, afirma. O produtor opera três fazendas no Estado e espera abater até 24 mil cabeças em 2025, contra 19 mil no ano passado.

A melhora nas condições de mercado o levou a antecipar investimentos. Rezende já comprou 400 mil sacos de milho da safra nova a R$ 47,50 e constrói um novo confinamento em Santo Antônio do Leverger, com capacidade para 4 mil animais. Ele também vem apostando no reaproveitamento de resíduos do confinamento.

“Estamos transformando o esterco em adubo orgânico mineral. Em vez de comprar fertilizante, vamos usar o que sai do gado para corrigir o solo”, revela o produtor.
Em Cáceres (MT), o produtor João Oliveira Gouveia Neto, diretor da Acrimat e do Instituto Mato-grossense da Carne (IMAC), também ampliou a escala neste ano. O custo mais baixo da alimentação e o uso intensivo de tecnologia na TIP permitiram aumentar em cerca de 35% o número de animais terminados em relação a 2024.

“Estamos conseguindo produzir uma arroba com custo bem mais baixo, o que nos dá uma margem confortável. Há dois anos pagávamos para produzir; agora estamos recuperando as perdas”, afirmou.

Segundo ele, praticamente todos os pecuaristas da região intensificaram a produção este ano. “Conseguimos elevar a lotação de três para até quatro bois por hectare em algumas áreas, com melhor adubação e mais cochos disponíveis”.

A preocupação agora, aponta Neto, é com o aumento no preço da reposição: “O ágio já está em torno de 30% sobre o boi gordo, mas ainda fecha a conta porque o ganho de peso compensa. Mesmo assim, há sinal de retenção de vacas e valorização dos bezerros para o próximo ano”.

Proteção de preços

As experiências dos produtores refletem uma tendência nacional de crescimento do confinamento em 2025. De acordo com Maurício Velloso, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), o avanço é sustentado por boas oportunidades de compra de insumos e pela maior adoção de estratégias de proteção de preços.

Ele avalia que o setor deve registrar um dos maiores volumes de animais terminados já vistos no país, com 11 milhões de cabeças confinadas até o final do ano comparado a uma expectativa inicial de nove milhões.

“O confinamento convencional e a terminação intensiva a pasto foram favorecidos pela queda nos preços dos grãos e pela valorização da arroba ao longo do ano, elevando a taxa de ocupação das estruturas no país”, disse Velloso. “Não existe desabastecimento de animais terminados. Ao contrário, há oferta suficiente para que o Brasil continue batendo recordes de exportação”.

Para produtores como Rezende e Gouveia Neto, o momento é de consolidar ganhos e investir em eficiência. “O produtor sabe que o mercado é cíclico, mas quando há margem, todo mundo trabalha com mais ânimo. Agora é hora de recuperar o que se perdeu e se preparar para o próximo ciclo”, completa Neto.

Fazendo as contas

Em outubro, os custos de confinamento de gado registraram estabilidade no Brasil. Segundo o Índice de Custo Alimentar Ponta (ICAP), o custo médio foi de R$ 12,87 por cabeça/dia no Centro-Oeste, alta de 1,74% frente a setembro, e de R$ 12,17 no Sudeste, praticamente estável no período.

Segundo a Ponta Agro, responsável pelo indicador, a safra recorde de grãos ajudou a conter a pressão sobre os custos nutricionais, mas o mercado já sinaliza uma mudança de direção, especialmente no Centro-Oeste, antecipando uma janela de alta nos preços dos insumos.

“O piso da nutrição ficou para trás: o produtor que estiver estocado e fizer bom uso desse estoque conseguirá segurar a elevação dos custos até a próxima safra”, afirma o boletim.
No Centro-Oeste, os alimentos energéticos, proteicos e volumosos subiram 1,78%, 7,62% e 7,25%, respectivamente, elevando o custo da dieta de terminação para R$ 1.100,30 por tonelada de matéria seca, alta de 2,89% no mês.

Já no Sudeste, a alta de 3,59% dos insumos energéticos e de +5,73% dos proteicos foi compensada pela forte queda de 14,85% dos volumosos, resultando em custo de R$ 1.144,37 por tonelada, variação positiva de 1,22%.

Na comparação anual, os custos nutricionais caíram 13,62% no Centro-Oeste e subiram 2,35% no Sudeste. A diferença reflete a maior disponibilidade de grãos na região central do país e o impacto do aumento dos fretes e da entressafra de coprodutos no Sudeste.

Mesmo com a recomposição gradual dos custos, a valorização da arroba e o bom desempenho das exportações mantêm a rentabilidade dos confinamentos.

“As exportações recordes em outubro e a firmeza dos contratos futuros na B3 indicam continuidade de preços valorizados até o fim do ano”, destaca o relatório.

Com base nos valores do ICAP, a Ponta Agro estima o custo de produção em R$ 188,87 por arroba no Centro-Oeste e R$ 193,18 no Sudeste, garantindo lucro superior a R$ 810 por cabeça nas duas regiões.

Fonte: Globo Rural.

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