

O mercado pecuário começa a última semana de novembro de olho na China. Isso porque termina na próxima quarta-feira, 26, o prazo estipulado para que o governo chinês adie novamente ou anuncie sua decisão sobre as investigações para aplicação de medidas de salvaguardas às importações de carne bovina do País.
Desde o fim do ano passado, Pequim apura se há excesso de compras externas de carne bovina. Como justificativa para a abertura do processo, o governo chinês mencionou o excesso de oferta no mercado interno, que derrubou os preços domésticos da proteína entre 2019 e 2023. Durante o processo de defesa, os exportadores brasileiros, que têm na China o seu principal mercado comprador, argumentaram que caso restrições sejam adotadas a inflação no país asiático pode subir.
Entretanto, na última semana, rumores de que o principal país comprador de carne bovina adotaria medidas para limitar o crédito aos importadores chineses mexeu com o mercado. Embora nada tenha sido oficialmente confirmado, o CEO da Scot Consultoria, Alcides Torres, alerta que essa possibilidade é preocupante. “O que mais me preocupa é o governo chinês diminuir ou limitar o crédito para os importadores de carne bovina, pois a gente sabe que o mercado global vive de crédito”, disse.
Alcides destaca ainda que a China costuma agir estrategicamente. Segundo ele, caso medidas restritivas venham a ser adotadas agora, elas ocorreriam justamente em um período do ano em que a importação chinesa é naturalmente menor, reduzindo o atrito interno e ampliando a eficácia das ações.
Enquanto isso, o mercado futuro reage com força à apreensão dos agentes. Conforme lembra Alcides, a especulação na B3 já vinha desde o início do mês motivada pela incerteza envolvendo a China, mas ganhou intensidade na última semana. Os contratos futuros chegaram a cair para a faixa de R$ 315 por arroba em novembro — cerca de R$ 5 abaixo do mercado físico, que se mantém mais resiliente na casa dos R$ 320 a R$ 325 por arroba, de acordo com levantamento da Scot consultoria.
A Scot consultoria lembra que, sazonalmente, a China costuma reduzir o ritmo de compras entre novembro e dezembro. O país asiático tradicionalmente aumenta as aquisições até outubro, com o objetivo de abastecer o mercado interno para o Ano Novo Lunar — que ocorre entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, dependendo do calendário chinês. Neste ano, porém, o movimento foi atípico.
Diante da incerteza sobre as salvaguardas, Pequim antecipou parte das compras. Conforme levantamento da consultoria, desde julho deste ano a China tem importado mais de 150 mil toneladas mensais de carne bovina brasileira. Em setembro e outubro, o volume subiu para cerca de 180 mil toneladas. No entanto, a tendência agora é que haja uma desaceleração.
De acordo com a Scot, esse recuo temporário abre espaço para outro destino ganhar relevância nas exportações brasileiras: os Estados Unidos que retiraram adicionais impostas às compras de carne bovina do Brasil.
Em um período no qual a China deve reduzir o ritmo das compras, a melhora no acesso ao mercado norte-americano tende a abrir oportunidades para o preenchimento de escalas e para uma intensificação dos embarques a partir do início de 2025. “A gente estava com 26% mais os 50%; passamos a ter 26% mais os 40%; e agora, nós passamos a, neste final de ano, só os 26%, e em janeiro volta para os 4% — dentro de um acordo com países membros do Mercosul. Então, uma notícia muito boa para o setor exportador, que pode buscar mais boiada agora no final do ano, talvez, para preencher suas escalas e intensificar a exportação a partir de janeiro”, destacou Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria.
Fonte: Estadão.