

A possível abertura de mercado do Japão para a carne bovina brasileira ficará para 2026. Apesar de esperada com expectativa pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ainda para este ano, há etapas a concluir no processo de avaliação técnica que vão demandar tempo, segundo duas fontes qualificadas a par do assunto.
A principal etapa a ser vencida é a auditoria in loco para avaliação de risco do sistema sanitário brasileiro. O Brasil havia pedido para que a visita ocorresse em outubro ou novembro, mas não foi atendido. No início deste mês houve uma nova tentativa de alinhar a agenda, para que a missão japonesa chegasse ao país em dezembro, mas ainda não houve resposta do lado dos asiáticos.
A auditoria deve ocorrer entre janeiro e fevereiro de 2026, apostou uma fonte ouvida pela reportagem com conhecimento do assunto. Recentemente, Fávaro disse que a abertura estava muito próxima e que a missão japonesa poderia ocorrer ainda em novembro.
A missão realizada pelo Japão em junho deste ano não foi a “oficial” para abertura, disse uma fonte. Os japoneses sempre foram francos quanto a isso e não havia falsa expectativa de que o mercado já seria aberto, completou. A auditoria foi tocada por “experts” no assunto.
A missão atendeu ao acordo político feito pelo governo japonês durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão em março deste ano de que haveria o envio imediato de uma comitiva técnica ao Brasil.
Mesmo que não tenha sido definitiva, a missão elaborou questionários, que foram respondidos pelo lado brasileiro, e houve “avanços”, disse outra fonte
Agora, o Brasil aguarda o agendamento da missão oficial. O Ministério da Agricultura pediu uma nova reunião por videoconferência com o Ministério de Agricultura, Florestas e Pesca japonês (MAFF, na sigla em inglês) para a próxima semana.
Além da análise de risco para abertura do mercado de carne bovina ao Brasil, a Pasta quer discutir as condições para exportação do Japão para o Brasil de produtos oriundos de animais aquáticos.
Após essa auditoria in loco, será elaborado um relatório, que deverá ser submetido ao conselho de segurança alimentar do Japão, formado por ministérios, universidades e experts terceiros, para aprovação.
Este é o meio do caminho de um longo e complexo processo de elaboração do protocolo sanitário para exportação de carne bovina. É a sexta etapa de 12 previstas, mas depois disso a análise é apenas documental, o que pode caminhar mais rapidamente.
O processo de abertura é focado nos três Estados da região Sul, sem possibilidade de ampliação para todo o país nesse momento, confirmaram as fontes. A alegação é que Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul obtiveram o status de livre de febre aftosa antes e enviaram documentos mais cedo para análise dos japoneses. Acre e Rondônia também entraram na fila, mas devem ser contemplados posteriormente.
Uma fonte pondera que o foco do Japão está realmente no Cone Sul. O Uruguai já pode exportar e a Argentina está em processo até mais avançado que os três Estados do Sul para receber o aval. A aprovação poderá ser conjunta para não gerar pressões políticas sobre os japoneses.
Ainda não há definição de como será a habilitação dos frigoríficos com a eventual abertura de mercado. Normalmente, o Japão adota sistema de pré-listing, em que o país exportador indica as plantas. Mas os detalhes ainda serão negociados no acordo sanitário.
O Brasil importa a carne dos animais da raça wagyu dos japoneses. A habilitação, nesse caso, é planta a planta, com auditoria in loco pelos técnicos brasileiros. Há possibilidade de o Japão adotar um sistema recíproco, ou seja, com habilitação individual, disse uma pessoa que acompanha as tratativas de perto.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, acredita que a abertura do mercado japonês ocorrerá ainda no primeiro semestre de 2026 e que a habilitação deverá ser por pré-listing.
“A expectativa é que se conclua o processo de abertura no primeiro semestre do ano que vem”, disse.
O executivo defende ainda a necessidade de discutir a questão tarifária na negociação com o Japão. As exportações de carne bovina são taxadas inicialmente em 38%. É essa a tarifa paga nos embarques do vizinho Uruguai. A avaliação de Perosa é que as exportações brasileiras para lá perdem competitividade por conta da tarifa, apesar do preço mais valorizado pago pelos japoneses.
“Como diz o presidente Lula, nós vamos ter conversa e nada é proibido. A relação transparente e franca é melhor para fazer uma negociação”, disse. A expectativa é poder iniciar o fluxo comercial com uma tarifa mais baixa.
A Abiec ainda mantém a esperança de que a negociação para abertura do mercado possa envolver todos os Estados, já que o Brasil recebeu o certificado de livre de febre aftosa da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) em junho deste ano.
“O ideal sempre é que seja considerado o país como todo livre. Respeitamos os países quando querem fazer aberturas faseadas. Vamos acompanhar e trabalhar para aumentar essa abertura. Não está na mão do Brasil”, disse Perosa.
A Abiec também indicou ao governo brasileiro a necessidade de uma agenda oficial na Coreia do Sul para destravar as negociações pela abertura de mercado. Além de coreanos e japoneses, o Brasil também tenta o aval da Turquia – três destinos importantes que seguem fechados para a carne brasileira.
“Seria importantíssima uma visita presidencial no primeiro semestre para destravar as negociações. O setor está tentando articular para que haja essa visita governamental”, disse Perosa.
Segundo ele, a negociação depende do cenário geopolítico, principalmente da atuação dos Estados Unidos nesse mercado, mas ressaltou que o Brasil não pode ficar esperando o que vai acontecer. “O governo brasileiro tem se demonstrado muito hábil nessa área”, destacou.
O setor também espera respostas do Vietnã para a habilitação de plantas. O tema foi levado ao vice-presidente Geraldo Alckmin na semana passada. O mercado vietnamita foi aberto em março de 2025, mas só dois frigoríficos da JBS receberam aval. Mais de 100 unidades aguardam autorização.
“Penso que a habilitação vai ser faseada. Temos que pensar no Vietnã como um país irmão da China. Quando a China abriu seu mercado, todo mundo pediu e foi sendo habilitado aos poucos. Vai ser uma habilitação mais demorada, mas estamos solicitando para o governo muito fortemente que se habilite as plantas do Vietnã”, disse. “Acho que deve ter habilitação de plantas para o Vietnã nos próximos dias”, concluiu.
Fonte: Globo Rural.