O PIB do agronegócio brasileiro registrou avanço que surpreendeu o mercado para um terceiro trimestre, quando a safra já está colhida, impulsionado principalmente pela recuperação da produção de grãos e pelo desempenho robusto da pecuária, segundo José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro Consultoria.
O resultado foi de alta de 0,4% em relação ao segundo trimestre de 2025 e de alta de 10,1% em relação ao mesmo intervalo de 2024. Apesar do crescimento expressivo, a melhora não reflete, na mesma intensidade, a situação financeira no campo, marcada por preços mais baixos, crédito escasso e margens apertadas, avalia o executivo.
A comparação interanual foi beneficiada por uma base deprimida em 2023 e pelo salto produtivo de 2024, diz o executivo da área. “Ano passado, a safra não foi boa e este ano tivemos uma safra recorde. Grãos fortes, como milho e soja, registraram boa produtividade, e isso ajudou no resultado da comparação interanual”, afirma ao Valor.
A reversão de perdas em culturas perenes também contribuiu, especialmente depois de 2023 e 2024 difíceis por extremos climáticos e desastres naturais. No ano passado, a citricultura enfrentou seca, queimadas e outros problemas climáticos que prejudicaram o desenvolvimento das plantas. “Hoje isso se reverteu e acaba ajudando a produção a crescer e ter um resultado mais forte no terceiro trimestre”, explicou o consultor.
Apesar do avanço de cerca de 10% no PIB internual, que reflete produção, a rentabilidade segue pressionada e o cenário para o produtor deve perdurar apertado. “Os preços caíram, o crédito está escasso, e essa série de problemas não se reflete nos 10% que puxam a produção. A alta compensa parte da perda de preço e renda, mas não resolve”, avalia Hausknecht.
Se por um lado os grãos impulsionaram o volume produzido, foi a pecuária que deu sustentação adicional ao PIB agro. O setor registrou produção e exportações em níveis recordes, superando inclusive os efeitos do tarifaço em mercados importantes. “Estamos com a pecuária indo muito bem. A produção recorde e as exportações recordes conseguiram driblar os efeitos do tarifaço. Isso é um dado que vai além do PIB e ajuda a explicar os resultados mais positivos”, pondera.
Na comparação com o segundo trimestre, o PIB do agro avançou 0,4% na série dessazonalizada. A leve alta ocorre apesar do período tipicamente mais fraco.
“O terceiro trimestre geralmente é menor que os outros, como o quarto, porque as colheitas já foram e estamos na entressafra. Isso é difícil de medir, mas a safra de milho, soja, laranja e cana — colhidas no segundo e terceiro trimestre — podem ter ajudado nessas variações”, diz Hausknecht.
Além disso, o ritmo mais forte da produção de carnes também contribuiu para o desempenho. Mesmo com números positivos no agregado, o setor segue operando em um contexto de margens menores, custos elevados e menor liquidez financeira.
O terceiro trimestre de 2025 foi de nova desaceleração no ritmo de crescimento da economia brasileira como um todo. O PIB brasileiro avançou 0,1% no terceiro trimestre, ante o segundo trimestre, segundo o IBGE.
Fonte: Globo Rural.