Pesquisa feita no Cerrado mostrou que a braquiária sob pastejo sequestra mais carbono do que a vegetação nativa do bioma e, também, do que um pasto vazio
O produtor Piotre Laginski abriu 70 ha de sua fazenda em Baixa Grande do Ribeiro (PI) para um estudo inédito sobre sequestro de carbono, cujo objetivo era demonstrar que o boi, ao contrário do senso comum, pode contribuir para o carbono positivo no solo.
Segundo as medições, a pastagem submetida ao pastejo sequestrou 168 t de CO₂eq/ha, superando tanto a gramínea solteira (148,85 t/ha), quanto a vegetação nativa (134 t/ha), considerando análises de matéria orgânica até 60 cm de profundidade.
A diferença é expressiva: o pasto com animais capturou 34 t/ha a mais de CO₂eq do que o Cerrado virgem e foi 2,3 vezes superior à vantagem da pastagem solteira, que registrou 14,95 t/ha a mais.
Para Piotre, isso desmonta a imagem negativa da atividade. “De vilão, o boi virou a cereja do bolo”, resume o produtor. Ele reforça que “fazemos uma pecuária de carbono positivo. Todos precisam saber que o boi é um reciclador de nutrientes essencial para o equilíbrio entre produção e meio ambiente”.
O estudo integra o Projeto Cerrado Carbono Positivo, coordenado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Associação dos Produtores de Soja do Piauí e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).
A vice-reitora da UTFPR e coordenadora do projeto, Tangriani Simioni Assmann, explica que incluir o boi nos sistemas agrícolas potencializa o sequestro de carbono.
Segundo ela, “ao colocar o boi dentro do processo de produção agrícola, é possível usar gramíneas C4, como as do gênero Brachiaria ou o milheto, que são fixadoras de carbono. Assim, fazemos com que a captura do carbono pela fotossíntese e sua posterior incorporação ao solo sejam maiores do que as emissões entéricas dos animais”.
Tangriani também destaca que o estigma em torno da pecuária foi construído com base em narrativas incompletas.
“Para a pesquisadora, o conceito do boi como poluidor foi construído em cima de desinformação.”
Ela afirma que “muitos países da Europa, que desejam criar barreiras comerciais para a carne brasileira, criticam nossa produção agropecuária e somente consideram as emissões entéricas para embasar essas críticas.
Eles desconsideram totalmente a captura do CO₂ via fotossíntese por nossas plantas forrageiras, que são 25% mais eficientes do que as de clima temperado”.
Fonte: Abcz.