
Após um 2025 marcado por custos baixos para terminação intensiva de bovinos e preços firmes da arroba, que garantiram margens positivas para os pecuaristas que confinam gado, o ano que vem promete margens ainda atrativas, apesar da virada no ciclo da pecuária.
Em novembro, por exemplo, as despesas com alimentação do gado em confinamento no Centro-Oeste ficaram em R$ 12,53 por cabeça ao dia, queda de 16,74% no comparativo anual, conforme dados do Índice de Custo Alimentar Ponta (Icap), calculados pela empresa de análises Ponta Agro.
No Sudeste, a redução foi menos expressiva, mas ainda houve baixa de 1,21% no período. O Icap da região foi de R$ 12,28 por cabeça ao dia.
Segundo a Ponta, a queda nas despesas com nutrição é resultado de um conjunto de fatores estruturais. A supersafra de grãos — especialmente milho e soja — ampliou a oferta interna e reduziu a pressão sobre preços ao longo de todo o ano, derrubando o custo destes insumos que são bases energéticas e proteicas das dietas do gado.
A menor volatilidade cambial e a recomposição dos estoques nacionais de grãos também contribuíram para estabilizar preços das commodities em patamares mais baixos.
“Além disso, a indústria de coprodutos operou com maior regularidade e competitividade, favorecendo insumos como DDG, polpa cítrica, bagaço de cana e caroço de algodão”, disse o CEO da Ponta, Paulo Dias.
“Todo esse conjunto fez de 2025 um ano estruturalmente mais barato para produzir arrobas no confinamento quando comparado a 2024”, acrescentou o executivo.
Ao mesmo tempo, a elevação contínua nos preços do boi gordo formaram a combinação perfeita para as margens dos pecuaristas confinadores.
Para o ano que vem, o CEO da Ponta ressalta que existem fatores em aberto que podem reduzir a lucratividade do setor, como a investigação de salvaguarda da China que está em curso e avalia o impacto das importações de carne bovina para a indústria do país asiático.
“A gente não sabe o que vem (da investigação). Se tivermos má noticia disso, automaticamente pode tomar uma parte da nossa lucratividade”, alertou. Os chineses são destino de mais de 40% da carne bovina exportada pelos brasileiros.
Entretanto, com base no cenário atual, sem nenhuma mudança ou tarifa da China causada pela salvaguarda, a perspectiva é promissora para as margens do setor pecuário como um todo, inclusive para os confinadores.
Dias acredita que os valores dos animais de reposição — bezerro e boi magro — ficarão cada vez mais caros ao longo de 2026, em função da virada de ciclo. Porém, “minha expectativa é que a arroba do boi também cresça mais e acompanhe esse avanço da reposição”, disse.
Dados do indicador do bezerro Cepea/Esalq mostram que a cotação do animal atingiu R$ 3.070,36 por unidade nesta sexta-feira (5/12), aumento de 1,29% na variação mensal e 13,75% na comparação anual.
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, destacou que muitos pecuaristas já esperavam por este avanço nos valores do animal de reposição e se prepararam para o momento, o que pode limitar o impacto para os custos da cadeia.
Sobre os insumos, Torres comentou que não há perspectiva de saltos muito significativos no valor do milho, por exemplo, porque a formação de preço é internacional, e países como Argentina e Estados Unidos vivem momentos de recordes na produção do cereal.
“Então, em 2026 a gente deve ter uma margem suficiente para estimular o confinamento se não vier nenhum fato novo, como mudanças na China”, estimou o especialista.
A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, calcula que as margens dos confinamentos podem ficar estáveis no primeiro semestre, com potencial para melhora de 4% a 7% no segundo semestre, “conforme os preços do boi gordo confirmem ou não valorização sazonal adicionada de correção cíclica (do gado)”.
Do lado da demanda, a Copa do Mundo e as eleições no Brasil previstas para o ano que vem tendem a fortalecer o consumo de carne, o que também contribui para melhores margens no setor. No mercado internacional, a tendência é que a procura pela carne brasileira permaneça firme.
Fonte: Globo Rural.