Por Itamar Netto1
Ao tomar conhecimento de uma matéria divulgada pelo Ministério da Agricultura visando incentivar a integração lavoura/pecuária em terras degradadas do Mato Grosso com objetivo de produzir mais… Para que? Para ofertar ainda mais produtos num mercado extremamente ofertado, provocando ainda maiores baixas nos preços de nossos produtos, já totalmente defasados e gerando prejuízo real?
Em sã consciência, não é possível enxergar nenhum motivo em apoiar tal iniciativa, pois o que se vê de fato, é uma falta de política agrícola e pecuária, que dê condições de sustentabilidade para o setor de maior importância na economia do País.
Da mesma forma, verifica-se também uma ação conhecida por parte dos pecuaristas por meio do SIC, (Serviço de Informação da Carne) tentando, desesperadamente, via propaganda e outras ações para incentivar o aumento de consumo da carne de boi, enfrentando uma concorrência fortíssima de outras carnes alternativas ofertadas no mercado com muita abundância e preços mais baixos.
Nos exemplos acima, nota-se um grande paradoxo: de um lado o esforço do setor público em desejar aumentar a produção de alimentos e de outro lado o setor privado, com um esforço brutal tentando escoar a produção a qualquer custo. Ora, não há outra saída para o segmento agropecuário, senão o de adotar a milenar sabedoria comercial que não se normativa por nenhum decreto: a lei natural de oferta e procura.
É evidente que a solução para tais problemas está exclusivamente nas mãos dos produtores, por meio de uma ação adequadamente coordenada, representada pela campanha nacional conduzida e patrocinada pela Confederação Nacional da Agricultura, Federações de Agricultura e Sindicatos Rurais de todo país, incentivando uma redução estratégica e planejada da produção de alimentos que, atualmente, está excessivamente ofertada.
É importante chamar a atenção de todos os colegas produtores rurais que não há o que temer em apoiar uma ação conjunta neste sentido pois, a redução da produção agropecuária, estaria diretamente proporcional na redução dos prejuízos que os produtores vem contabilizando por anos seguidos, deixando a atividade cada vez mais endividada sem capacidade de solvência e sem perspectivas de sustentação.
O efeito desta notícia, repercutiria imediatamente no mundo globalizado que depende da produção brasileira de alimentos, proporcionando uma rápida recuperação nos preços, promovendo, conseqüentemente, algum beneficio comercial para um segmento econômico tão prejudicado.
Deve-se esclarecer, ainda, que esta sugestão não deve ser interpretada como tentativa de manobra inflacionária, mas apenas e tão somente, uma atitude correta e digna, para corrigir um desequilíbrio tão desastroso que já dá sinais de paralisação obrigatória de nossas atividades produtivas, e principalmente, para que não tenhamos que assistir de braços cruzados a falência total de nossa atividade agropecuária.
Trata-se de um apelo para todos os produtores rurais envolvidos na atividade, desde o mais humilde, até as grandes empresas rurais, inclusive todos os órgãos representativos, desde o Ministério da Agricultura até o Sindicato Rural para o engajamento imediato desta ação que tem o intuito único de salvar a Agropecuária Brasileira.
____________________
1Itamar Netto, produtor rural agropecuarista em Porteirão, GO e em São José do Xingu, MT. ASSPORT (Associação dos Produtores do Porteirão).
0 Comments
Sábia, sensata e inteligente. Se nós não nos ajudarmos, estamos fadados a sermos futuros sem-terra.
Caro Sr. Itamar Netto
A abordagem da conjuntura vivida pela pecuária exposta pelo Sr., particularmente no tocante ao excesso de oferta e a propositura de sua redução, me parecem muito corretas.
No entanto, permita-me discordar quanto a eventual participação de maneira útil de Sindicatos, Federações ou da CNA. A estrutura sindical brasileira não foi realmente criada para proteger e lutar muito pelas classes que representam. Raríssimos sindicatos e federações cumprem esse papel.
Não tenho notícia de que algum sindicato, federação ou a CNA tenha alertado a classe dos pecuaristas de que ao longo destes últimos anos caminhava-se para uma superprodução.
Acredito que esse importante papel somente poderá ser exercido por Associações, como essa de que o Sr. Participa, ou alguma forma de organização que reunissem essas Associações, de maneira absolutamente independente de Governos.
Creio também que o principal trabalho deva ser o de fornecer previsões de mercado, porque produzir os pecuaristas sabem muito bem.
Que tal se os produtores começarem uma campanha para favorecer o consumo no mercado interno?
A saída é uma reforma fiscal e tributária ampla, reforma na política de trabalho deste país, a união dos produtores com os órgãos públicos para o controle das doenças que atingem o rebanho e a lavoura e uma ofensiva junto ao mercado internacional para colocar nossos produtos. E o mais importante que é um planejamento da produção juntamente com o governo para evitarmos a superprodução de alguns produtos.
Em artigo do caro produtor Itamar questionando a integração Lavoura/Pecuária, enquanto jornalista da área, vejo este tipo de sistema de produção como positivo, pois reduz custos, aumenta a produtividade e a eficiência.
Para aqueles que podem e desejam, não adotar é andar para trás. Acredito que com conhecimento do mercado e articulação, não necessariamente deverá ocorrer um aumento da oferta, mas busca-se sim a eficiência do sistema pecuário, que poderá ser com menos animais, e a um custo menor de produção. Paralelamente, é claro, buscando sempre a abertura de novos mercados (interno e e externos). Ciclo de baixa na pecuária não é novidade.
Caro Itamar,
Parabéns, foi ótimo ler seu artigo. Há muito venho dizendo e propagando aos 4 ventos que nós produtores carecemos de política de produção, que esquecemos da máxima do comércio, que é a lei da oferta e da procura.
Pagamos os custos de todos os planos econômicos lançados no país: cruzado, real, fome zero etc…Quem se preocupa com nossos custos?
Sabe, nós estamos como aquela vaca magra, amarrada numa corda e sem pasto, da qual o dono tenta todo dia extrair leite das tetas murchas.
Respondi a um artigo desse site, que falava que a produção do rebanho no estado de Rondônia era maior do que a capacidade de abate dos frigoríficos, que talvez nós produtores devêssemos pensar seriamente em redução dos nossos rebanhos. Recebi a resposta de uma cooperativa, dizendo que a minha idéia não seria a mais correta, que deveríamos procurar outras soluções ao invés de deixarmos de produzir riquezas. Então me pergunto: será que nesse momento estamos realmente produzindo riquezas ou estamos empobrecendo gradativamente por falta de política de produção.
Quando falo política, me refiro a capacidade de decidir estrategicamente sobre o que produzimos e quanto deveríamos produzir.
Veja o que fizemos na região centro oeste há 3 anos atrás: aumentamos as áreas de lavoura, entrando em 10% das áreas de pastagens. Resultado: aumento da oferta de gado de reposição e queda drástica dos preços. Hoje estamos com pecuária e agricultura em crise.
Janete Zerwes
Coordenação de Tenologia e Pecuária
Comissão das Produtoras Rurais – FAMATO – MT