Por Edson Neme Ruiz1
Nos últimos dias, os veículos de comunicação têm divulgado com ampla repercussão a crise provocada com o decreto de febre aftosa no nosso Estado e a indignação de seus leitores com o sacrifício de animais saudáveis, gerando um grande desperdício de alimentos e indenizações com recursos financeiros públicos. Lamentamos apenas que algumas pessoas insistem em atribuir aos agropecuaristas à responsabilidade por tamanha crueldade.
Com a finalidade de resgatar a continuidade da atividade do agronegócio, obstruído pela crise instituída com o evento “febre aftosa no rebanho paranaense” e atender aos protocolos de comércio internacional, firmados pelo Governo Federal, os proprietários rurais afirmaram que aceitavam o sacrifício dos animais, com o objetivo de solucionar todo o impasse técnico criado.
Desde o início do levantamento das suspeitas de febre aftosa no rebanho paranaense – em Outubro/2005, a Sociedade Rural do Paraná e os produtores rurais, que tiveram suas propriedades interditadas, discordaram dos procedimentos adotados pelas autoridades governamentais e afirmaram sempre que: o Paraná Não Tem Aftosa.
Não mudamos a nossa opinião, como muitos fizeram pelo caminho, e vamos continuar lutando pela verdade. Nestes últimos quatro meses foram muitas reuniões políticas e encontros técnicos – na fazenda do Ministro Roberto Rodrigues, em Londrina, em Curitiba, em Brasília e Maringá – que contaram com a presença de representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, do Pan-aftosa, da Missão Européia, de representantes dos Poderes Legislativos Estadual e Federal, Conselhos e entidades do setor, que nos levaram a crer que o impossível pode tornar-se possível e o possível pode transformar-se em impossível com relação aos procedimentos sanitários.
E é por isso que, recentemente, lutamos pela necropsia dos animais. Queremos tecnicamente saber o que de fato aconteceu no rebanho paranaense!
Talvez, o que muitas pessoas desconhecem é que os representantes do nosso País assinaram acordos sanitários junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a União Européia (UE) que permite situação como esta para atender protocolos comerciais. Lá no “primeiro mundo”, nem vacinar o rebanho é preciso, pois estão num grau bem mais avançado de defesa animal. Aqui ainda não conseguimos afastar o temido vírus da febre aftosa na América do Sul.
Acreditamos e esperamos que esta experiência que vivenciamos sirva de subsídios para adequação das exigências internacionais à realidade brasileira. Enquanto isso não acontece, somos contrários a qualquer ato insano em favor da sanidade. Muito mais que a perda do patrimônio material, estamos enterrando anos de trabalho em melhoramento genético.
Ao exterminar estes animais, os honramos com o nosso suor, nossa luta e nosso trabalho, construídos ao longo de décadas de muito sacrifício. Conscientes que ao olhar para a coletividade, resgatamos as tradições de honras do nosso passado, tomamos na mão o nosso presente e nos tornamos dignos de nosso futuro.
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1Edson Neme Ruiz, presidente da Sociedade Rural do Paraná e do Conselho das Sociedades Rurais do Estado do Paraná
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Caro amigo Edson,
Foi muito bom revê-lo através de suas palavras lúcidas e corajosas.
O nosso setor necessita de líderes que não se calam, assim como desses pecuaristas, que com brasilidade, oferecerem seus animais ao sacrifício.
Até quando seremos sempre nós, a sociedade dos excluídos, que sem política agrícola, esquecidos pelos tecnocratas que nos governam há décadas, que iremos garantir a demagogia, a incapacidade e os interesses espúrios e ocasionais dos políticos que nos governam.
É chegada a hora do setor articular-se em busca não mais de interesses de classe, mas sim de sobrevivência.
Parabéns
Romualdo Negrelli