Produtores e representantes da avicultura se reuniram na quinta-feira (30/03) em Campinas/SP, no evento “Influenza Aviária: Estratégias para um novo cenário na avicultura”, organizado pela AnimalWorld. Diante da gripe aviária no mundo e da possibilidade da chegada da doença no Brasil, foram discutidas as mudanças no cenário internacional e mercado interno e as estratégias caso a doença chegue no país.
Segundo a FAO, o consumo mundial de carne de aves deve ser de 81,8 milhões de toneladas, 3 milhões abaixo de estimativas realizadas antes do aumento da importância da gripe aviária no mundo. Segundo o USDA, as exportações dos principais países é 6,7 milhões. O USDA estima que o Brasil detém 41% desse montante.
Cerca de 30% da produção brasileira de frangos é destinada a exportação, o que gera forte dependência deste mercado, a queda mundial no consumo dos países importadores acaba gerando excesso de disponibilidade de frango para consumo interno, derrubando os preços. Notícias já afirmam que o frango está sendo comercializado abaixo de R$ 1,00/Kg no varejo.
Exposição na mídia
Em sua palestra, o consultor Osler Desouzart, especialista na cadeia avícola, enfatizou como a exposição das notícias sobre a gripe aviária influenciam o consumo de carne de aves na UE.
Segundo ele, houve uma recuperação imediata no consumo, assim que outras notícias tomaram o lugar das relacionadas à doença nas primeiras páginas dos principais jornais na UE. Segundo ele, a queda no consumo decorre de um medo infundado, já que a probabilidade de haver contaminação humana é quase nula, comparando casos confirmados e a população desses países.
Osler criticou a imprensa por fazer alarde em cima da doença, e por não deixar clara a falta de higiene existente nos países asiáticos, onde surgiu a doença, na comercialização e consumo de carne de aves.
Queda nas exportações
Osler afirmou que as exportações mundiais de frango devem cair entre 600 e 900 mil toneladas, das quais o impacto para as exportações brasileiras deve ser de 60% do total, por estar presente nos principais mercados compradores, em especial a UE.
Em sua palestra, Christian Lohbauer, gerente de relações internacionais da Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos) apresentou os dados de exportações referentes ao primeiro bimestre de 2006, os quais já apresentam queda em fevereiro, em relação a janeiro de 2006.
Segundo ele, é a primeira vez nos últimos anos que as exportações de fevereiro ficam abaixo de janeiro. Em projeções apresentadas na palestra, Christian estima queda de 10% nas exportações de março a dezembro em relação a 2005.
A conseqüência imediata desta queda, segundo os palestrantes, é o aumento da disponibilidade interna de frango. A queda nos preços internos é resultado disso, uma vez que a população, apesar de ter uma boa capacidade de consumir o excedente, não paga por este aumento no consumo.
Ajuste na produção
Erico Pozzer, presidente da APA (Associação Paulista de Avicultura) discutiu a rentabilidade das empresas de produção de carne de aves, os custos na atividade e a necessária redução na produção em função da queda na demanda.
Segundo Erico, a produção de pintinhos, que cresceu muito no desde o ano passado, chegou a 413 mil por mês em fevereiro. Em março, esta produção deve cair para 350 mil. A meta é reduzir a produção para 300 mil pintinhos por mês. Em março, Erico estimou que a produção de carne será de cerca de 800 mil toneladas, onde 200 mil serão exportações e 600 mil ficarão no mercado interno.
A recuperação dos preços deve ser dificultada por um estoque elevado, que no mês de março está em cerca de 250 mil toneladas. Erico estima que este estoque somente será equalizado em julho, mês cuja produção foi estimada por ele em 672 mil toneladas, exportações em 150 mil toneladas e disponibilidade interna em 522 mil toneladas.
Erico lembrou que, além das granjas, a produção de grãos também deverá ser fortemente afetada, já que as aves são responsáveis por grande parte do consumo de soja e milho produzidos no Brasil.
Regionalização
As iniciativas que vêm sendo discutidas e implementadas pelo governo e setor privado para lidar com a possível chegada da doença no Brasil foram apresentadas nas palestras.
Entre elas, a questão da regionalização foi bastante discutida, que, segundo o professor Ariel Mendes, presidente da Facta (Fundação Apinco Ciência e Tecnologia Avícolas), o plano já foi aprovado pela OIE. Nos debates, Ariel explicou que a aprovação pela OIE não implica na aceitação pelos países importadores do conceito, mas que é um primeiro passo nas negociações.
Experiência tailandesa
O setor avícola na Tailândia foi assombrado pela gripe aviária, depois do seu surgimento em janeiro de 2004. O fato foi apresentado pelo ex-vice-presidente do Rabobank, Gordon Butland, como um exemplo do que pode acontecer com o Brasil, caso a doença chegue aqui.
Naquele ano, o consumo interno caiu 80%, houve devolução em massa de produtos exportados e o país ficou sem exportar produtos avícolas por 90 dias, período após o qual, apenas carne de aves industrializada foi autorizada à exportação.
Naquele país, o governo realizou campanhas enfatizando a segurança do alimento quando cozido ou industrializado, o que levou à recuperação de 85% do consumo.
Riscos da gripe do frango no Brasil
Ariel avaliou em sua palestra os riscos de entrada do vírus no Brasil e as forças e fraquezas do Brasil na eliminação de um eventual foco.
Segundo ele, características do setor que favorecem a eliminação eficaz são a estrutura da produção, o forte associativismo e a existência de um canal eficiente de comunicação com o governo.
Entre os riscos de contaminação, Ariel salientou a movimentação de contêineres, o fluxo de pessoas entre países, o contrabando de aves ornamentais e galos de briga e os programas de incentivo a avicultura familiar, entre outros como a migração de aves.
Deficiências no monitoramento também foram apontadas, como falta de laboratórios de diagnóstico (Lanagros credenciados), lentidão nas decisões do serviço veterinário.
Ariel, assim como outros palestrantes, enfatizou a necessidade da criação de um plano de contingência, tanto para as indústrias quanto para as granjas, caso uma medida de erradicação seja necessária.
União dos setores
Uma iniciativa defendida por Ariel, e que foi apoiada por Antonio Pontes, diretor de estratégias de proteínas para a América Latina do McDonald´s (que foi convidado para o debate) foi a união do setor avícola com os setores produtivos de outras carnes, em especial o setor de carne bovina, para fortalecer o sistema de defesa sanitária.
Otavio Negrelli, Equipe BeefPoint