Análise semanal – 03/05/2006
3 de maio de 2006
Japão: Importações de carne bovina aumentam em março
5 de maio de 2006

A recuperação da pecuária vem aí. Você está preparado?

Por Ian David Hill1

Preços baixos para venda de reprodutores e animais de abate, elevação dos insumos, dólar desvalorizado frente ao real, febre aftosa e certa insegurança devido ao cenário nacional e internacional. Todos esses fatores ajudam a explicar a longa crise porque passa a pecuária brasileira.

Cenário negativo, não resta dúvida. Mas o atual momento também pode marcar a recuperação da atividade ou, para ser mais preciso, representa uma oportunidade de recuperação. Afinal, como há disponíveis no mercado reprodutores e matrizes de qualidade, a custo baixo, é consideravelmente maior a possibilidade de os pecuaristas adquirirem animais que possam incrementar o padrão do seu rebanho com ganhos genéticos e de produtividade. Ou seja: esta é a hora de investir em genética de qualidade para ter rentabilidade.

Previsões de especialistas acenam que haverá recuperação dos vários segmentos da pecuária, a começar pelo gado de abate, principalmente a partir do segundo semestre de 2006. Até junho, explicam os técnicos, há grande oferta de animais para o frigorífico e o preço deve continuar baixo. Está aí mais um alerta ao pecuarista: este é o momento de se preparar para a recuperação que certamente virá! Não tenho dúvidas de que quem tiver animais de superioridade genética comprovada – porque falar é fácil, difícil é fazer -, poderá usufruir dessa melhora do cenário da cadeia produtiva da carne vermelha.

Por outro lado, esse período de crise é também uma oportunidade de os pecuaristas reverem sua estrutura administrativa, profissionalizando a gestão da fazenda, cortando gastos desnecessários, investindo em melhorias nas pastagens.

Muito já se falou sobre as causas da crise da pecuária, já que as exportações de carne bovina batem recordes seguidos. Acredito que um dos fatores está relacionado à união do setor. Falta associativismo à classe produtora. Se os pecuaristas se unissem para vender animais de qualidade aos frigoríficos, ganhariam em escala. Ou mesmo se juntassem para obter a certificação do EurepGap – certificação de qualidade exigida pelos varejistas europeus. Os custos poderiam ser rateados e os ganhos seriam maiores para todos.

A Agropecuária Jacarezinho conseguiu grandes benefícios com a união com outros projetos pecuários. Fazemos parte da Conexão Delta G, programa de melhoramento genético surgido há três décadas no Rio Grande do Sul e com forte presença no Brasil Central desde 1993.

A conexão reúne atualmente 28 empresas agropecuárias nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, congregando rebanho de 230 mil cabeças. Negociamos em bloco e conseguimos vantagens na compra de insumos e venda de animais com o frigorífico. Em 2005, a conexão movimentou 25 mil cabeças e deve atingir 40 mil animais este ano.

Na outra ponta, produzimos reprodutores superiores garantidos por um rígido programa de melhoramento genético – em 2005 chegamos à marca de 500 mil animais avaliados. Há também o grupo dos parceiros da carne, produtores que não participam do programa de melhoramento, mas utilizam essa genética e abatem seus animais dentro do programa, buscando sempre carne padronizada e de qualidade superior.

Além disso, há intensa troca de informações e conhecimento entre os participantes, buscando novas oportunidades, além de exercer representatividade na cadeia produtiva.

Essa fórmula já está testada e aprovada! Unir forças em torno de objetivos comuns é a melhor maneira de se fortalecer para enfrentar uma crise. Enquanto os produtores não se convencerem disso, continuarão amargando prejuízos e se lamentando da situação em que se encontra o mercado.

______________________
1Ian David Hill é gerente-geral da Agropecuária Jacarezinho

0 Comments

  1. Tiago Jacintho disse:

    Achei a posição do Ian muito realista, e há tempos venho lutando aqui em prudente para conseguir uma união da classe, mas a coisa não é fácil.

    Acredito muito na venda de animais com genética aprovada, por isso há anos produzimos animais das raças Nelore Mocho, Canchim e Brahman, p/venda de touros e matrizes, e é isso que nos garante uma rentabilidade um pouco melhor.

    Abraço a todos

  2. João Pires Castanho disse:

    Olhando melhor a conjuntura econômica atual, não consigo ser tão otimista como sugere o artigo, com a valorização do Real nos patamares atuais e arroba está em torno de US$ 25,00, o que não deixa margens para elevação.

    Tendo-se em contrapartida uma política econômica na qual ficamos totalmente dependentes do capital externo especulativo, não poderemos baixar a taxa de juros tão cedo, pois isso implicaria numa debandada desse capital, e como conseqüência, a desvalorização da moeda nacional, isso traduzido significaria inflação, e aumento do risco país, que são duas metas imbecis que o governo persegue, como questão de honra.

    Isso somado ao tamanho do rebanho, e às defasagens de remuneração que o setor pecuário passou, e ao aumento de custos, significaria dizer que a recuperação do setor seria de fato se a arroba chegasse à algo em torno de R$ 90,00, pelos meus cálculos, isso é utopia, e mais utopia ainda é se pensar em união de classe entre pecuaristas, quem está no meio sabe que isso não para curto prazo, é uma questão cultural.

    Assim sendo, sinto não poder compactuar com o artigo, sem falar, no cartel formado pelos frigoríficos, concluindo, a pecuária literalmente acabou, como acabou a agricultura, a avicultura etc…sejamos realistas, o pecuarista ganha em torno de 5 arrobas brutas com um boi para abate, isso com a arroba a R$ 70,00, se chegar a isso, ainda não sobra um líquido suficiente para justificar o investimento, infelizmente a realidade é essa, acredite quem quiser.

  3. Breno J P Barros disse:

    Como representante do Grupo Braido e também como Diretor Técnico da Conexão Delta G, venho reiterar as palavras do Ian.

    Chamo a atenção para o Associativismo, a Grupalidade ou qualquer outro sinônimo para o trabalho em conjunto que fazemos na Conexão Delta G.

    O grupo formado pelas pecuárias da Conexão Delta G se solidifica e cresce a cada ano, com base em discussões, opiniões e interesses, que nos levam a formação de um grupo consistente com princípios e interesses coletivos, não individuais.

    Trabalhar junto não é tarefa das mais fáceis, são dois passos para frente e um para tráz, mas o trabalho é possível.

    Estamos vendendo e comprando em conjunto. O importante, para o sucesso desta iniciativa é o alinhamento de todas as pecuárias em torno dos mesmos objetivos, não se caracterizando como um amontoado de pecuárias.

    Aproveito para agradecer as idéias sempre pertinentes do Ian e a união do grupo de pecuárias da Conexão Delta G.

    Acreditamos, é claro, que dias melhores virão.

  4. Marcos Murilo Gonçalves disse:

    Que essa virada virá, não resta dúvida, mas como investir em pastagens e tecnologias vendendo um boi gordo e bem acabado por R$ 46,00 a arroba?

    Ruim para todos, os grandes talvez suportem, mas os pequenos terão sucumbido a essa “politiva” que acaba com o setor.

    Parabéns pelo comentário

  5. Rodrigo Miranda disse:

    Levando em conta a velha máxima de que “A esperança é a última que morre”, tenho que concordar com o artigo, apesar de a crise que atingiu nosso segmento ter afetado, ou pelo menos postergado, vôos mais altos por parte da nossa empresa.

    Sou diretor da Agrotec Inseminação Artificial, empresa de reprodução animal com franquias em várias regiões do País.

    Em Outubro de 2005 escrevi um artigo, aqui mesmo para o BeefPoint, onde mostrava, através de números e planilhas, o efeito a médio e longo prazo de se fazer uma economia em genética, nesse período de crise. Infelizmente, talvez por ser uma tecnologia ainda pouco difundida no País (como sabemos, estima-se que apenas 6% de nossas matrizes são inseminadas), o produtor prefere “cortar” os gastos com tecnologia. Apesar de entender que muitas vezes essa é a única forma de sobrevivência dos mesmos, o prejuízo para eles virá quando os tempos das vacas gordas, tão bem escritas e aguardadas pelo Ian, vierem.

    Como impulsionador e eterno idealizador de um melhoramento genético constante e de qualidade, continuamos acreditando e dispostos a levar à pecuária de corte nacional e internacional animais de qualidade. Já que o espetáculo do crescimento proposto por esse governo em tempos de campanha eleitoral não chegou e nem vai chegar, façamos nós mesmos a nossa parte. Abraço a todos

  6. Sivaldo Barbosa Goes disse:

    Parabéns pelo assunto, extremamente oportuno. No entanto, está muito difícil investir em genética de ponta, com o preço do boi a 39,00 reais ( aqui em Rondônia), isto para 30 dias. Obviamente que teremos sempre que ser otimistas, mas não é fácil termos tanta certeza, em uma economia de tanta instabilidade e frágil, como as dos países da América do Sul.

    Principalmente quando deparamos com administradores de países como Bolívia, Argentina, Venezuela e principalmente Brasil. O melhor é dar atenção máxima à todas informações em circulação, estudar muito antes de tomar qualquer decisão, diversificar nossos negócios e rezar.