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14 de novembro de 2006

Assocon, Bertin e ACNB falam sobre o boi ideal para indústria

Entre as opções para seleção de animais para reprodução, as pistas de julgamento de animais PO são hoje um dos direcionadores dos critérios de seleção genética do gado bovino. No processo de melhoramento genético, sua função é avaliar quais parâmetros devem ser buscados, se as características valorizadas serão pureza racial, produtividade animal, adaptabilidade, conformação etc.

Entre as opções para seleção de animais para reprodução, as pistas de julgamento de animais PO são hoje um dos direcionadores dos critérios de seleção genética do gado bovino. No processo de melhoramento genético, sua função é avaliar quais parâmetros devem ser buscados, se as características valorizadas serão pureza racial, produtividade animal, adaptabilidade, conformação etc.

Isso refletirá nos touros, considerados melhoradores, que irão às centrais de inseminação e fazendas de cria. É o primeiro estímulo para que essas características seja transmitidas para o gado de corte, que busca nesses touros, a aprimoração do rebanho. Por isso, é fundamental que se faça uma avaliação criteriosa dos parâmetros que serão considerados nas avaliações. A ABCZ, em um esforço para avaliar quais serão os critérios que o júri técnico deverão adotar e uniformizar esses critérios de avaliação, realizou em Uberaba (7 a 9 de novembro de 2006) um encontro dirigido para o corpo técnico da associação, jurados, associados e demais interessados. Foi a segunda edição do Seminário de Revisão de Critérios de Seleção das Raças Zebuínas.

O seminário trouxe profissionais com experiência em frigoríficos, objetivando entender as necessidades da indústria sobre sua principal matéria-prima: o boi gordo. A idéia era promover uma interface entre o melhoramento genético e a qualidade das carcaças para a indústria.

O conceito de qualidade é bastante variável, não só do ponto de vista do atributo a ser considerado como qualidade, mas também de quem o enxerga. Qualidade pode ser o custo de produção, pode ser algum atributo organoléptico (maciez, sabor), uma percepção do usuário final, ou mesmo o atendimento de certos padrões e requisitos (ex. peso mínimo, dentição ou determinado padrão de acabamento).

Há, ainda, pontos de vista diferentes. Por exemplo: para o produtor, qualidade pode ser o animal que tenha maior ganho de peso com menor tempo e custo; para a indústria, que dê peso e rendimento na desossa; e, para o usuário final, que tenha conveniência, sabor, maciez, segurança, boa relação custo-benefício etc.

O que a indústria entende por qualidade da carcaça e como traduzir isso em melhoramento genético? Coube aos palestrantes, com uma visão abrangente, interpretar, apresentar esses atributos e encontrar um ponto de equilíbrio que traga benefícios para produtor, indústria e consumidor.

Fábio Dias, da Assocon: custo operacional e valor comercial

Fábio Dias, diretor executivo da Assocon, e que já atuou na compra de bovinos do Marfrig, abriu o painel e introduziu dois aspectos de especial interesse para a indústria: o peso e acabamento de carcaça, fazendo uma avaliação econômica para ambos. Dias não incluiu a idade em sua avaliação, pois, segundo ele, ainda não há diferença na percepção do usuário final, o consumidor, nem nos custos operacionais para o frigorífico.

Para Dias, o aumento do peso dos animais terminados tende a reduzir os custos operacionais; abate, desossa, embarque etc. Para apresentar essa hipótese, fixou algumas variáveis no produção industrial (1.000 animais/dia, 300 km de frete para buscar bois, R$ 60/@ na compra e outras) e simulou alguns custos operacionais variando o peso de abate.

Dias estimou que, enquanto um animal de 12@ gera um custo frete de R$ 2,28/@, um animal de 15@ gera um custo de R$ 1,82/@ e, para 20@, o custo será de R$ 1,45/@. Os custos de administração, abate, desossa, embalagens, também têm a mesma tendência com diferentes dimensões, em função dos ganhos de escala.

Em média, Dias afirma que o custo operacional de um animal de 12@ é de 7 a 12% acima de animais de até 20@. Sobre o efeito do peso, Dias também realizou uma abordagem acerca do valor comercial das peças comercializados nos mercados interno e externo, que tende a aumentar com o tamanho.

Para avaliar o efeito do acabamento de carcaça para a indústria, Dias analisou o impacto comercial. Segundo ele, no mercado interno há um nicho voltado às churrascarias, que exigem peças muito bem acabadas e pesadas, conhecido por cortes Grill. Por exemplo, o corte janela da costela somente atinge os parâmetros desejados por este mercado a partir de um boi de 18@. Basicamente, os cortes da alcatra completa, que inclui a picanha, têm grande importância no mercado interno. Bois de a partir de 17@ bem acabados são os mais vantajosos neste mercado, com ganhos adicionais a partir de 18@.

No mercado externo, avaliou os cortes mais exportados para a UE: filé mignon, contra-filé e o coxão mole. No caso do filé, por exemplo, um conteiner recebe preços-prêmio por peças a partir de 1,81 quilos, com padronização na carga (categorias 4/5 libras ou 5 libras acima). Neste mercado, Dias avalia que animais a partir de 17@ como acabamento acima de 3 mm de gordura geram peças de tamanho e acabamento suficientes para se obter preços-prêmio.

Para Dias, o ganho para a indústria ocorre progressivamente sobre o peso sendo que, entre 12 e 20@, o mais pesado é o mais vantajoso. Pelo aspecto comercial, a partir de 17@ já se obtém os ganhos potenciais para o mercado externo. No mercado interno, a partir de 17@, que é maximizado a partir de 18@ em função do aproveitamento da costela no mercado Grill.

Dias concluiu que, com bois entre 17 e 18@, bem acabados e padronizados, aumenta-se o resultado para o frigorífico e é factível para o pecuarista, sendo um ponto de equilíbrio entre ambos.

Carlos Eduardo Rocha, do Bertin: o maestro consumidor

Carlos Eduardo Rocha, o Paulista, da área comercial de mercado externo do Frigorífico Bertin, mostrou dados que reforçam a visão de Dias sobre peso e acabamento. Rocha ressaltou o papel do consumidor na determinação dos parâmetros de qualidade e lembrou a importância dos jurados nesta busca e tradução para parâmetro de produção. Para ilustrar o papel do consumidor orquestrando os atributos que devem ser buscados por todos os agentes na cadeia, referiu-se a ele como “o maestro consumidor”.

Segundo Rocha, esses padrões são estabelecidos por cada mercado, e há variações em função de aspectos culturais. As necessidades de tamanho e acabamento são ditadas por este agente e difíceis de serem alteradas na percepção do consumidor.

Por exemplo, para o mercado japonês de Grainfed Beef (carnes de animais terminados em confinamento por longo período, com dieta de alto percentual de grãos, daí o nome “alimentados com grãos”), predominantemente abastecido pela Austrália, são necessárias carcaças muito pesadas e com excesso de acabamento. Mesmo no mercado japonês para outros cortes, os parâmetros de peso e acabamento são elevados. No mercado sul-coreano, busca-se carcaças mais leves com menos acabamento. A UE se situa em um patamar intermediário nesses parâmetros.

Rocha foi enfático sobre a necessidade de padronização de carcaças. Segundo ele, animais homogêneos geram menor variação no padrão dos cortes. Isso é importante para o planejamento logístico da distribuição (exemplo: maximização do uso do espaço de um conteiner) e de fidelização de clientes, que encontram maior regularidade no produto final.

Sobre os parâmetros de avaliação de melhoramento genético, destacou o perímetro toráxico (profundidade de costela) e o comprimento corporal como critérios que costumam resultar em boas carcaças. Outro aspecto valorizado foi a área de olho de lombo. Sobre a avaliação de acabamento de gordura, ressalvou que pode haver efeito negativo na fertilidade.

Eládio Curado, do PQNN: ainda há uma grande distância entre seleção e necessidades do mercado

Eládio Curado Vellasco Filho, gerente de produto do Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), foi bastante enfático em três pontos: padronização, valorização dos aspectos de produção de carne na avaliação genética e necessidade de conhecimento do processo produtivo industrial para a compreensão das necessidades das indústrias pelos pecuaristas.

Para Vellasco Filho, que é coordenador do Programa Boi Verde de Avaliação de Carcaças, da ACNB, ainda há uma grande distância entre a seleção, produção e as necessidades do mercado consumidor. A pouca compreensão das necessidades dos elos à frente do produção pecuária ainda é um entrave para se chegar no boi ideal. Vellasco falou sobre as práticas de manejo e os impactos na qualidade do produto final, como bem-estar, vacinação correta etc.

Conclusões

As apresentações convocaram a reflexão sobre como direcionar a produção de gado de corte visando atender melhor as demandas do frigorífico e dos elos seguintes, de forma eficiente, e gerando lucro.

Remuneração adequada, controle sanitário, acesso a mercados e resolução de conflitos na cadeia continuam sendo grandes desafios, mas o melhoramento genético com vistas à produção eficiente de carne é um passo muito importante para o avanço do setor.

Conseguir direcionar o foco da produção de gado de corte para atender os anseios do consumidor final de forma lucrativa será o grande desafio para aumentar a competitividade da cadeia da carne bovina brasileira.

0 Comments

  1. Clemente da Silva disse:

    Parabéns, Otavio.

    Mais um documento de sua autoria muito pertinente e oportuno, de vital importância para o produtor de carne.

    Pena que assuntos desse tipo, se esvaem como fumaça e acabam no esquecimento dentro de poucos dias.

    Há um jogo de interesses em torno desse e de todos os mercados, mas em especial, em nosso país, que ainda está engatinhando nesse segmento.

    A importância na qualidade de carne bovina, começa com a vaca a ser utilizada como fôrma para fazer o boi de corte, de maneira que o trabalho da ABCZ é imprescindível, na seleção de animais bem caracterizados racialmente falando, de ótima conformação e obviamente, precoces tanto em fertilidade quanto em maturidade de carcaça.

    A vaca, geneticamente, é responsável por 50% dos gens contidos no produto final, que é o boi de corte, de maneira que quando melhor for essa matriz, melhores serão as chances de se conseguir um bom produto para o abate lá na frente.

    Como é público, notório e comprovado que carne de qualidade e palatável é aquela obtida de carcaças jovens, modernas e bem acabadas, com bons traços de gordura entremeadas, e os “senhores da carne” lá nos frigoríficos sabem tão bem disso quanto nós aqui fora como consumidores, parece que esse artigo põe o dedo na ferida e nos diz onde estamos certos e onde estamos errados.

    Estamos certíssimos em selecionar para características raciais, a Majestade que se chama “VACA NELORE”, coisa que só nós temos o privilégio de possuir.

    Estamos errados em insistir, que boi Nelore, é boi de corte, para se produzir carne macia, marmorizada, palatável, de exportação para mercados exigentes, e de alto retorno ao produtor.

    O sr. Carlos Eduardo Rocha do Frig. Bertin e o sr.Fábio Dias da Assocon, nos dão o feed back necessário para entendermos o que os mais variados mercados esperam da nossa carne.

    O produtor por sua vez, como não há um padrão de qualidade exigido que o premie por eficiência, fica no meio termo, já que os próprios frigoríficos que se beneficiam com animais de melhor qualidade, não estão obrigados a pagar mais por isso.

    Na verdade, e para terminar esse assunto, é necessário que se definam padrões, para a carne brasileira, quer seja de exportação ou para o consumo interno.

    Eu, como consumidor, sei muito bem distinguir no prato o que é uma carne de qualidade, seja ela uma suculenta costela, uma picanha, ou uma paleta assada de de panela oriundas de um novilho de 18 meses, produto de um bom cruzamento entre raças, de uma carne de um boi de três anos, entremeada de sebo e fedendo a urina.

    Podem ter certeza que há muito mais gente por esse mundo afora que conhece tudo isso e muito mais e não estão dispostos a jogar seu dinheiro fora em carne de boi verde nenhum.

    O mercado quer, é boi maduro, no ponto e com aquela carne cheirosa ao assar ou cozinhar, de ótima aparência aos olhos, saborosa e com textura de se cortar com garfo.

  2. Cleber Ramos disse:

    Parabenizo Fábio Dias, da Assocon, pela fantástica esplanação sobre o animal ideal para o frigorífico e consumidor final, mas, ao mesmo tempo gostaria de receber informações do custo de produção para os animais que terão de ser precoces e pesados. Uma que o produtor também visa lucro em sua atividade.

  3. Luiz F. A. Marques disse:

    É fácil elogiar a pertinência dessa matéria, quando o autor ajuda a promover interface de segmentos com qualidade diversa: cadeia da carne bovina. O brasileiro sempre soube o que é carne de qualidade, carne de boi gordo! E como seria bom se todos pudessem pagar por ela!

    A redução da idade de abate é a característica mais sensível para diminuir o custo de produção; e como o preço é de mercado, então todos ganham. A indústria sempre estará a exigir peso e acabamento. O consumidor já sabe o que quer há muito tempo, só lhe falta o dinheiro para comprar a sua qualidade.

    Para completar todas estas qualidades, entra em cena a genética! Fazer cruzamento, manter a saúde e alimentar o gado com energia são ativos necessários. As raças complementam-se nas suas possibilidades (qualidades), cada uma contribui conforme seu cacife genético (genealogia e seleção).

    A raça Simental (Fleckvieh) demonstra condições de contribuir com rápido ganho de peso, presença de gordura marmorizada (sabor da carne) e maciez da tenra idade de abate. Como vantagem adicional para o produtor, existe a heterose, que é maior no cruzamento com o zebu. Os produtos mestiços bem manejados atendem aos conceitos de qualidade do frigorífico e do consumidor final, afinal é ele quem paga!

  4. José Luiz Nelson Costaguta disse:

    Considero este artigo muitíssimo importante. No nosso meio, no momento, encontram-se muitas qualidades, tanto para atender as exigências do consumidor, quanto a aspectos e palatabilidade, como para a economicidade da planta industrial, um bovino, que apresente carcaça de 240, 3 mm de gordura, e que tenha aproximadamente entre 24 e 36 meses de idade.

  5. Martin Jirousek disse:

    Segundo a esplanação de Fábio Dias sobre o animal ideal, do ponto de vista do frigorífico o animal mais pesado tem um custo operacional menor e por outro lado, o consumidor final recebe um produto de qualidade superior. Entretanto, do ponto de vista do pecuarista, é inviável engordar os animais até atingirem as 20@ de peso.

    O produtor rural é o elo mais fraco da cadeia da carne bovina, e por tanto, o que menos ganha em todos os sentidos. Que vantagem recebe o produtor por produzir um animal de melhor qualidade? Praticamente nenhuma, enquanto que os frigoríficos podem recebem melhores preços por seus produtos, derivados de um animal de melhor qualidade. Talvez seria necessário buscar uma maneira de transferir parte desses ganhos extras para o produtor. Se não há incentivos, por que razão buscar um produtor melhor e conseqüentemente aumentar o seu custo?

    Existe muita falta de união, principalmente por parte dos pecuaristas, mas também por parte dos distintos elos que compõem a cadeia como um todo. O que falta é uma visão holística sobre toda a cadeia, onde o lucro não é gerado somente para alguns elos. O bolo deve ser repartido entre todos!

  6. Emerson Martins de Freitas disse:

    Parabéns, Otavio.

    Este é sem dúvida um artigo de suma importância para o produtor de carne. E parabenizar também o Fábio Dias, da Assocon, pela grande explicação de custo operacional e valor comercial do animal ideal para os frigoríficos.

  7. Enoch Borges de Oliveira Filho disse:

    Muito oportuna e interessante a matéria sobre o que interessa à indústria, porém falta a interação com o criador/produtor desse animal ideal, boi jovem, castrado, com acabamento, marmorização etc. Falta a indústria pagar mais por essa qualidade desejada, esse peso e essa idade de abate, pois o melhor estímulo ainda é o econômico.

    Não há espaço mais para investir na pecuária, estamos em situação falimentar, ou pré-falimentar. Saber como produzir, já sabemos. Gastar mais para produzir qualidade só para satisfazer a indústria, é suicídio. Paguem-nos melhor e terão a qualidade almejada.

    Enoch Borges de Oliveira Filho, jurado da ABCZ, criador de Nelore PO.

  8. WILLIAM PARRIÃO VASCONCELOS disse:

    O Sr. Enoch foi muito feliz em suas colocações, o que acontece é isso mesmo, sabemos produzir bem e barato, o nosso produto precisa ser mais valorizado as indústrias de carne fazem cartéis e massacram os produtores obrigando a vender do preço que eles querem isso tem que acabar, tem que colocar mais indústrias para se ter concorrência.

    Técnico em Agropecuária.

  9. Rogerio Faria disse:

    Prezados Senhores:

    Muito boa a colocação do colega Enoch Borges de Oliveira Filho. Basta acompanharmos o trabalho que vem sendo feito desde que outro monteazulense Dr. Miguel Cione Pardi, apontou a solução para uma melhor remuneração do produtor e já se foram 36 anos. Uma coisa é certa, basta visitar um abate no frigorífico para verificar que os mesmos já estão classificando as carcaças em três categorias – branca – azul e branca – verde amarela. Será que os que eles estão recebendo de graça vão querer que o Sistema Brasileiro de Avaliação, Classificação e Tipificação de Carcaças Bovinas seja implantado. Talvez eu creia que a galinha vá criar dentes.

  10. Kênio Crístian Prudente de Oliveira disse:

    Otavio está de parabéns pelo belíssimo artigo, agora espera-se que o pecuarista seja beneficiado também com este animal mais pesado, que gera maiores custos à classe produtiva.

    O que é preciso, seria que os frigoríficos estivessem mais próximos dos pecuaristas e lhes oferecerem bônus por acabamento, uma parceria viável para ambos os lados. Isto não ocorreu ainda porque na média os frigoríficos estão ganhando mais, porque ele não beneficia os animais acima de 17@ e penaliza os abaixo de 16@, isto explica porque no mercado atual não há mudanças. Nisso todos perdem, principalmente o pecuarista e indústrias de insumos, como a indústria de suplementação, que é o meu caso.

    Se não é oferecido nada para que ele abata um animal de 18@, por que gastar mais com este animal, sendo que os custos de 16@ para as 18@ são muito altos? Então, a falta de homogeneidade nas carcaças é por culpa do frigorífico e não dos pecuaristas.

  11. Fábio Reis disse:

    Até quando os frigoríficos vão explorar o pecuarista, eles vendem a carne por U$ 2.850/tonelada e nos pagam apenas U$S 1700/tonelada, sendo que ainda ficam com todos os sub produtos que paga os seus custos operacionais.

    Hoje a nossa situação dos pecuaristas é que estamos reféns destes mercenários assim como os produtores estão reféns das indústrias de laticínios.

    Produzir boi de qualidade é apenas um requisito básico para o pecuarista manter na atividade, se o animal não for precoce aí a vaca(boi) vai pro brejo e junto o dono.

    Não estou sendo radical é apenas a minha atitude de indignação com a atual situação que o pecuarista ficou submetido!

  12. Juliano Tramontini disse:

    O problema é a falta de união de grande parte dos pecuaristas que aceita os preços e não se manifesta, não procuram se organizar. Vende animais a preços baixos para quitar as contas e segura parte do rebanho para vender assim que o preço melhorar, e conseqüentemente forçando nova queda nos preços devido a alta oferta.

    O produtor deve pensar da seguinte maneira “sou a peça fundamental para a cadeira produtiva da carne bovina”, pois sem ele o frigorífico não terá animais para abater.

    Pensando desta maneira o pecuarista poderia se organizar conseguindo seu próprio mercado de carne e sendo remunerado pelo comprador, no caso churrascarias e rede de mercado, pela qualidade da carne produzida. Trabalhando através do sistema de integração que traz muitos benefícios aos produtores, cito como exemplo o sistema criado por produtores no estado do Paraná, que deu certo sendo até matéria do canal rural.

    Acredito que o produtor não vai conseguir melhorar o mercado de carne sozinho, precisam se organizar, não importa como, o que falta é bom senso.

  13. Paulo Fernandes de Lacerda disse:

    Muito importante a discussão envolvendo inclusive a ABCZ, porque o julgamento em pistas e o mercado de leilões de elite ainda valorizam os animais de maior porte. Se fosse bom o uso desses animais tardios, ainda seria forte o cruzamento industrial com a raça chianina.

  14. Fabiano Luis Simioni disse:

    O boi “ideal” para o frigorífico está na contra mão da produtividade, animais de grande porte são ineficientes quando comparados com animais de menor porte!

    Estamos perdendo muito espaço para a cana, e ainda tem gente que não enxerga que o que precisamos de animais mais eficientes (reprodução, produção e eficiência energética) e intensificação do manejo, animais mais precoces e com bom acabamento vai melhorara e muito a qualidade do produto e aumentar a produtividade.

    Meu sonho é ver a cadeia da carne do boi funcionar com o profissionalismo e conhecimento da cadeia de frangos e suínos.

  15. Adriano Augusto Martins disse:

    Realmente um artigo intrigante, porém concordo com quem disse que faltou uma explicação mais didática sobre ” como ” produzir o animal ideal ao frigorífico sem prejuízo da sua própria escala.

    A divisão dos lucros percebidos no caso de animais ideais do ponto de vista comercial e operacional deve ser feita também com o produtor, e não apenas entre frigoríficos e distribuidores.

  16. Marcello Anastasio disse:

    Parabéns aos participantes do artigo, em especial o Paulista e o Fábio.

    Não podemos confundir mercado ideal, com necessidade de produzir o boi ideal. Todos acreditam produzir o “boi ideal”, no entanto, existem compradores para qualquer tipo de animal, o qual é indiferente para atender o seu cliente final.

    Em alguns casos, o que acontece é: “encaixar” o boi ideal num frigorífico sério, e chegar a conclusão de que não foi remunerado devidamente.

    A grande ferramenta que estes possuem chama-se, Avaliação e Classificação de Carcaças, ferramenta esta, que estabelece todos os critérios, os quais, necessários para atender o que o mercado quer: qualidade e padrão, independentemente de sistemas de qualidade, raças e frigorífico avaliador.

    Sucesso a todos.

    Marcello Anastasio – Boi & Beef

  17. Marcos Francisco Faustino Dias disse:

    Após a cartelização do preços pagos aos produtores de carne, vem agora os industriais do frio insinuar uma padronização de carcaça que só atende aos seus interesses.

    Resumindo, para os frigoríficos, carcaça boa é aquela pesada, média de 18 @, mínima de 17, com cobertura de gordura que evite outros custos para proteger a carne resfriada.

    Creio que o interesse do pecuarista, principalmente o que cria, recria e engorda, está do outro lado.

    Carcaça boa é aquela que atinge o mínimo de 14/15 @, média de 15/16, ao redor dos 20/24 meses para os machos e 11/12 @ para as fêmeas na mesma idade. Só assim, creio, poderemos entrar em mercados consumidores mais sofisticados (Europa), onde a maciez é valorizada e remunerada.

    Pagar menos, “classificar” os animais abaixo de 15 @, ou mesmo 16@, é um desserviço à pecuária brasileira, na medida que demostra incapacidade de penetrar em mercados consumidores mais exigentes.

    Insistir no boi pesadão é recompensar o atraso, é ir depressa aos ovos de ouro matando-se a galinha.

    Em tempo, os sábios da indústria do frio, valorizando o peso, esqueceram de propor pagamento da vaca pesadona, acima de 15 @, abatida após a primeira cria, ao preço de boi.

    Sou sócio da ABCZ e fã incondicional da raça Nelore. Creio que a seleção de Nelore, ou de qualquer outra raça, deve realçar os aspectos econômicos da raça.

    Deve dar mais importância às DEP de idade de primeiro e segundo partos, do peso nas diferentes idades, deixando de lado mas não esquecidos, aspectos como batimento das orelhas, cauda curta etc. Complementando a pista das exposições, que se valorize os honestos sumários.

  18. Rogerio Faria disse:

    Prezados Senhores:

    Parece que na realidade, jamais teremos uma melhor remuneração para os produtores pois não existe nenhum programa que possa implantar e fazer funcionar o Sistema Brasileiro de Avaliação, Tipificação e Classificação de Carcaças. Hoje o que observamos é uma maneira e exigir do pecuarista que o mesmo produza animais de qualidade para receber o preço de gado comum, afora o roubo que existe dentro dos frigoríficos. Ou melhor, afirmando, perante alguns que costumam falar sobre o que é uma carcaça, mas jamais sabem o que é realmente uma carcaça ou o que deve ser avaliado na mensuração de uma ou mesmo no rendimento – defender qualidade.

    Recentemente, pude ler aqui no BeefPoint alguém afirmar que para termos Novilhos Superprecoces, deveríamos aumentar o tamanho das matrizes. Pergunto, àqueles que investiram na produção desse tipo de animal, se tiveram alguma premiação por produzirem animais de qualidade e se pelo preço que é pago pela arroba de boi, atualmente, compensa investir nisso? Quando Fábio Dias, afirma que não incluiu a idade dos animais na avaliação – será por que? Os frigoríficos estão fazendo a classificação por idade, através da dentição.

    Há muitos anos atrás, quando apresentei meu Seminário de Graduação na UF-Viçosa-MG (1981), o mesmo foi sobre Avaliação de Carcaças e até hoje não vi nenhum sistema que abolisse essa característica em se tratando de qualidade. Como afirmei anteriormente, os frigoríficos estão fazendo a avaliação, mas jamais vão permitir que o sistema seja implantado.

    Na minha opinião, o melhor é produzir os animais a pasto, de forma que os mesmos cheguem ao abate em torno de 36 meses, conseguindo um bom manejo de pastagens e suplementação mineral correta. O acabamento poderá ser no sistema de semi-confinamento, em pastagens diferidas, utilizando suplemento protéico-energético para reduzir o tempo necessário para dar acabamento nos animais.

  19. Wagner Milanello disse:

    Pelos comentários podemos perceber a complexidade e a importância do assunto. Não é novidade que o fenótipo é o resultado do genótipo com o meio ambiente e sua interação genótipo+meio ambiente. O criador é consciente desta situação e o constante malabarismo para conseguir o equilíbrio de seu criatório torna-o muitas vezes, um perdedor.

    A desorganização do setor produtivo permite que poucos e potenciais produtores consigam elaborar certas normas que se tornam “leis” para o seguimento. Como está difícil esta mudança. “Paguem-nos melhor e terão a qualidade almejada” essas palavras escritas no comentário do Dr. Enoch, me faz voltar aos tempos de estudante e lembrar de comentários semelhantes que fazíamos (há 35 anos). O que mudou?

  20. Flavio Jose Lino de Carvalho disse:

    Parabéns,

    Como é bom ver que existem pessoas centradas, com posicionamento e visão nas tendências de mercado.

    Espero que agora alguns produtores também enxergem e tomem um rumo não só para produção/alimentação/genética (que é a base) mais também para a avalição final, lá no gancho, no frigorífico avaliando a carcaça do animal que acabou de produzir.

    Abraços,

    Flávio Carvalho – Marília-SP

  21. Benedito Antonio Silva disse:

    Parabéns pelo artigo bem como dos comentários. O que não consigo entender é o grande interesse da maioria dos frigoríficos em matar grande volume de vaca, logicamente e tradicionalmente com preços inferiores aos preços do boi. Dizem que é para atender os consumidores com pouco poder aquisitivo, ou seja, atender o mercado interno.

    Nunca encontrei nas tabelas de preço dos açougues e de supermercados, tabelas distintas para carne de vaca e outra para carne de boi. Alguém fica com os lucros pelo diferencial de preço do Boi e com o da Vaca, sei que não é o produtor, deve ser o açougueiro, não acredito, acho que são os frigoríficos.

  22. Mario Carlo Vargas Pareto disse:

    Prezado Otavio

    Muito oportuno o seu artigo, ao veicular na internet, o ponto de vista dos compradores dos frigoríficos. Entretanto, no meu entender, estão malhando em sucata fria. Sucata sim, e não ferro como no ditado original, porque ferro é matéria prima nova, e o assunto em tela é mais que ultrapassado. Assim como a visão que alguns frigoríficos tem da pecuária de corte.

    Os produtores que hoje se dedicam à pecuária de corte, o fazem com intenção de maximizar o lucro, não são mais os desbravadores de outrora, abrindo clareiras na mata com auxílio de rabanhos bovinos, para depois se dedicar a produção agrícola.

    Mas para os compradores dos frigoríficos, cuja intenção também é maximizar o lucro, a palavra de ordem é depreciar a mercadoria ofertada para reduzir o preço. Se a oferta for de Nelore Padrão, pesando acima de 20@, é boi velho. Se a oferta for de cruza industrial, que atinge 18@ em 24 meses e criada a pasto, não presta, porque a carcaça tem muito osso.

    Se a cantilena já era tão velha, porque os frigoríficos insistem em enviar seus palestrantes para eventos de interesse dos pecuaristas? Porque finalmente perceberam de que forma o mercado externo vai comprar a carne brasileira, e estão tentando criar a oferta desta carne, sem pagar pelos custos para produzi-la.

    A Sadia e a Perdigão, maiores produtoras e exportadoras de frango do Brasil, já incomodam de tal forma os produtores europeus, que alguns deles já estão iinstalados no nosso país, para poder concorrer em melhores condições. Entretanto, qualquer produtor que trabalha com estes gigantes da avicultura, pode melhor descrever esta relação de trabalho, como uma relação de emprego, sem os benefícios de uma carteira assinada, mas como todos os riscos do negócio.

    Os importadores de carne europeus também já estão se preparando para produzir carne no Brasil. Mas não concorrerão com os frigoríficos nacionais, pois pretendem seguir o mesmo padrão de relacionamento produtivo, que hoje existe na avicultura e suinocultura. Produtores especializados para cada fase da vida animal, cria recria e engorda, remunerados por tarefa, mas sem controle do que produzem.

    O que antevejo acima, é a morte anunciada da pecuária de corte nacional, e os responsáveis por este desfecho não são os industriais estrangeiros, nem os pecuaristas falidos que por força das contas à pagar, irão se render a está nova cadeia produtiva. Os culpados são os frigoríficos nacionais, que cegos pelo lucro imediato, continuam matando a galinha dos ovos de ouro.

    Atenciosamente

    Mario Pareto – Rio de Janeiro – RJ

  23. Marcelo de Oliveira Schulz disse:

    Parabenizo a presente matéria, mas acredito que medidas protecionistas, visando valorizar a rentabilidade dos produtores, devam partir de órgãos governamentais que possam aí sim valorizar uma carcaça utilizando as técnicas já disponíveis para qualquer profissional (ex: cobertura de olho de lombo), achando com isto um ponto de equilíbrio entre interesses de frigoríficos e de produtores, pois esperar a união da classe produtora, será difícil porque a água já passou do umbigo, ou seja, o frigorífico consegue pressionar pois está com a faca e o queijo na mão, enquanto que o produtor precisa quitar suas contas, pois senão terão que entrar no financeiro que todos sabem que é um caminho muitas vezes sem volta.

  24. César Augusto de Freitas disse:

    Prezados(as).

    Podemos constatar que as cadeias produtivas, indústriais e de comercialização final necessita de muito debate, para que possamos sensibilizar nossos governantes, ressalto que as grandes redes de varejo navegam em direção à conveniência dos consumidores, onde a cada ano centenas de novos itens ocupam um espaço físico cada vez menor, desta forma concluo que animais de 18@ acima se torna complexo p/ seu processamento, onde o espaço físico de gôndolas está cada vez menor e com outros segmentos como (cordeiro, carnes exóticas) tendo seu pequeno espaço assegurado.

    Sendo assim as bandeijas necessitam conter os cortes em padrões uniformes com todo o sortimento da carne bovina presente nesta gôndola, no entanto hoje animais de 18@ acima, produzindo cortes (peças, pedaços, bifes) desta proporção torna este espaço ainda menor.

    Se você se alimentou hoje agradeça a um produtor rural !!!

  25. Joao Umberto Fabricio Junior disse:

    o boi ideal para mercado é aquele que tem a sanidade, bem determinada, o peso é questão de genética, e nós de Rondônia estamos procurando mercado que queira qualidade, é o que nós temos…

    Em nosso estado, recebemos Marfrig, Independência, e agora estamos para inaugurar mais um frigorífico de expressão, em Rolim de Moura que é o Frigorifico Minerva, e o curtume, Winner….

    Venha conhecer Rondônia….. aqui a sanidade é compromisso nosso….. e aqui o boi de capim é realidade.

  26. Alexandre Pedrosa Pinto disse:

    Este assunto é muito complexo e por vezes polêmico, porém de muita importância principalmente para quem produz.

    Tive a oportunidade de estar presente no seminário e verificar de perto a grande distância que separa o boi ideal para o frigorífico e o boi economicamente viável para o produtor, e fiquem certos de que a distância é muito grande.

    Os frigoríficos querem um boi com aproximadamente 20@, com acabamento e precocidade, mas onde estão os benefícios para quem produz? Será que é com os preços que estão pagando que o produtor vai poder se estruturar para produzir esse “boi ideal”?

    O mercado da carne está crescendo e com ele a necessidade de carne com qualidade, por esse ponto de vista os frigoríficos estão certos perante as suas exigências, porem não podemos esquecer que o produtor que é a base da cadeia da carne foi esquecido durante esse ano com preços mínimos gerando dificuldades na produção.

    Por fim, só chegaremos ao “boi ideal” quando todas as partes envolvidas se juntarem em busca desse ideal, não querendo canalizar o lucro em apenas um setor da cadeia produtiva.

  27. Paulo Rodrigues de Lima disse:

    Gostei do artigo, só falta os frigoríficos classificarem as carcaças, pagando melhor o produtor.

    Infelizmente, não é choradeira, o custo de produção é alto por mais econômico que seja o produtor.

  28. Celso Pinheiro Carvalho disse:

    Ótima matéria, mas não deixa de ser aquela velha e antiga história conhecida de todos nós.

    O boi ideal para frigoríficos, análise de mercados, produção do boi gordo.

    Enquanto não houver uma real distribuição entre as forças presentes em todos os elos, jamais teremos uma forte “corrente”.

    Uma cadeia é como uma corrente, todos os seus elos devem ter solidez e sempre tracionando num mesmo sentido.