Quando o Uruguai voltar a exportar carne bovina aos Estados Unidos, o que acontecerá na melhor das hipóteses no final de maio ou no início de junho, caso não haja nenhum inconveniente na tramitação legal em marcha, poderá aproveitar um momento extremamente favorável em matéria de preços, diferentemente do que ocorreu em 1995, quando os valores pagos no país norte-americano pelo produto estavam entre os níveis mais baixos da história.
Segundo informou o delegado da Associação Rural do Uruguai na Junta Diretiva do Instituo Nacional de Carnes (INAC), engenheiro agrônomo Fernando Mattos, hoje os EUA estão com um pico de preços para a carne. “O setor vive um ciclo pecuário em plena reestruturação, após vários anos de liquidação. Seu estoque de bovinos atual está em torno de 95 milhões de cabeças, enquanto há dez anos, este era de 103/104 milhões. Nos últimos meses, mais concretamente na última primavera/verão, houve secas muito importantes no norte do México, no centro e centro-leste do Canadá e no Centro dos EUA, região de produção de cereais e, todavia, os efeitos estão sendo sentidos no inverno”.
Mattos lembrou também que a Austrália, o grande provedor de carnes aos EUA e ao Canadá, está passando por uma das piores secas de sua história. “Com um clima normal, como o que aparentemente tem agora em matéria de chuvas, levarão uns cinco anos para se recuperar das perdas, que estimam-se ser de 15% da produção”.
Mattos, que participou há alguns dias do International Livestock Congress, evento organizado pela International Stockmen Foundation, em Houston, disse que os representantes dos EUA que participaram deste evento estimam que em seu país, durante 2003 e 2004, pelo menos, a tendência de alta se manterá nos preços das carnes. “Hoje se está pagando entre 80 e 82 centavos por libra de carne – o que representa US$ 1,80 por quilo em pé -, muito próximo do máximo histórico de 85 centavos (US$ 1,87/kg). Os analistas estimam que aqueles 85 centavos certamente serão superados”.
Na opinião de Mattos, este é um tema muito importante para o Uruguai. “Lembremos que quando pudemos vender carne aos EUA na vez anterior, em outubro de 1995, coincidimos com um momento de preços em baixa. Foi como se nos tivessem dado um grande prato de sopa e um garfo para tomá-la. Desta vez nos dão a sopa, mas com uma colher grande. Isso quer dizer que pegaremos um momento favorável do ciclo pecuário, de forma que temos um panorama atrativo”.
Do congresso onde, além de Mattos – que é o único latino-americano da diretoria de 27 membros da corporação, integrada por indústrias, produtores e acadêmicos vinculados a todo o processo de produção da carne -, participou o engenheiro agrônomo Lautaro Pérez, integrante de Mercados Externos do INAC.
Pérez comentou que há também grandes preocupações nos EUA. Após 20 anos de retração no consumo, onde este caiu pela metade, o mercado começou a se recuperar em 10%. “Para isso, foram fundamentais as ações feitas para fortalecer toda a cadeia, desmistificando os danos que a carne produz para a saúde, lançando ao mercado carnes com marca e novos produtos, e realizando um ajuste muito profissional de todos os níveis, desde a produção até o marketing”.
Rastreabilidade pode ser uma ameaça
Uma disposição contida na Farm Bill votada no ano passado pelo Congresso dos EUA também poderá afetar, no futuro, o Uruguai, como fornecedor de carnes ao mercado norte-americano. Nesta lei, pela pressão exercida pelos pecuaristas do centro dos EUA, ficou disposto que em breve, toda a carne terá que contar com uma etiqueta que informe sua rastreabilidade.
“A norma de rotulagem, estimulada pelos produtores conservadores, afeta os estados fronteiriços, que habitualmente compram seus bezerros no Canadá e no México. Como os norte-americanos são extremamente nacionalistas, não se descarta a possibilidade de que prefiram a carne de seu país e não a proveniente do exterior”, disse Mattos. Durante o Congresso de Houston, os canadenses marcaram sua preocupação. O presidente da Cargill – empresa com presença em 95 países, que possui uma das principais empresas frigoríficas dos EUA -, Bill Buckner, informou que esta medida supõe uma barreira à liberdade comercial.
Durante o congresso, Mattos aproveitou para divulgar o Congresso Regional de OPIC, no final de março em Punta Del Este. “Boa parte dos participantes deste congresso sabe que o Uruguai é um país produtor e exportador de carne. Muitos já estiveram no país, como o responsável pela área de Ciência Animal da Universidade de Colorado, Gary Smith, e toda sua equipe, que tem trabalhado realizando auditoria da cadeia agroindustrial da carne uruguaia. Eles sabem que somos um país que não oferece riscos e estão convencidos de que o Uruguai faz bem as coisas. Talvez tenham algumas reservas devido às fronteiras, mas nos têm como referência do Mercosul”.
Fonte: El Pais, adaptado por Equipe BeefPoint