A respeito da constante alta nos preços do boi gordo que vem sendo observada desde o início do ano que tem causado grande debate a respeito da remuneração aos produtores, ação dos frigoríficos, preços da carne no varejo, abate excessivo de matrizes e alta nos preço da reposição, o leitor do BeefPoint Julio Tatsch enviou um comentário no qual expressa seu ponto de vista e comenta quais, na sua opinião, são os reais motivos que colaboram para situação atual do mercado do boi no país.
A respeito da constante alta nos preços do boi gordo que vem sendo observada desde o início do ano e que tem causado grande debate a respeito da remuneração aos produtores, ação dos frigoríficos, preços da carne no varejo, abate excessivo de matrizes e alta nos preço da reposição, o leitor do BeefPoint Julio Tatsch enviou um comentário no qual expressa seu ponto de vista e comenta quais, na sua opinião, são os reais motivos que colaboram para situação atual do mercado do boi no país.
Julio Tatsch é agropecuarista no Rio Grande do Sul, delegado representante e presidente licenciado do Sindicato Rural de Caçapava do Sul e expressa sua visão do mercado na carta abaixo:
“Esta alta começou no RS.
Hoje os preços do boi gordo no RS não são mais altos (dos atuais R$2,15 a 2,30 por kg vivo) porque os frigoríficos e grandes varejistas estão trazendo volumes enormes de carne maturada e desossada do Brasil central e aumentando seus lucros devido as margens de comercialização praticadas. Logo o RS está auxiliando a consumir uma parcela significativa da carne bovina do Brasil central.
Pergunto, a medida que o preço da carne subir nos demais estados, o Brasil irá buscar carne adicional onde?
Cansamos de prevenir os donos de frigoríficos, que os preços praticados, abaixo do custo de produção resultariam num abate indiscriminado e “forçado” de fêmeas, como de fato ocorreu.
Como resultado desta surdez, a redução na oferta futura prenunciada pelos pecuaristas ficará cada vez mais patente, com conseqüente subida no preço do boi gordo, pela velha lei da oferta e da procura, e também como única forma de recuperar o espaço perdido pela pecuária para outras atividades agropecuárias ou no mínimo reduzindo a velocidade deste processo.
Colegas pecuaristas, lembrem-se temos uma mercadoria demandada pelo mundo, os frigoríficos não nos fazem favor comprando nosso boi, eles ganharam e estão ganhando muito dinheiro com a carne. E como somos o maior exportador, irão subir o preço da carne e ponto final. Já deviam ter feito isto a anos, muitos colegas saíram da atividade ou quebraram neste meio tempo, pelos anos de prejuízos.“
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Apoio totalmente a opinião do colega.
Saudações Julio,
No Norte do MT, região do Vale do Araguaia, os frigoríficos daqui até semana passada estavam conseguindo comprar boi com uma diferença de até 10,00/@ menor que frigoríficos no estado vizinho GO. Mas, o cenário começou a inverter frigoríficos vizinhos estão entrando em comboios, causando grandes falhas nas escalas e reduzindo pelo menos em 60 a 70 % o volume de abate em relação a capacidade instalada nos frigoríficos locais.
E, o cenário para o ano seguinte nesta região é muito promissor para os produtores em termos de preço mas arriscado em termos de “calotes”. Todos os frigoríficos estão em ampliação além de duas plantas em construção, saindo de aproximadamente 3000 animais/dia média ano para 8000 animais/dia.
Resumindo a região com aproximadamente 6 milhões de cabeças (IBGE), entrará em colapso nos próximos anos. O próximo passo é construir frigorífico em Roraima, Amazonas, Amapá, Acre. Estados esses com poucas ou nenhuma unidade frigorífica e com grandes limitações para aumento de produção.
O boi já chegou no limite da Floresta e atrás vem o biodiesel, a coisa tá pegando fogo. Para se manter vivo, o frigorífico terá que investir em aumento de produtividade no campo com assistência técnica gratuita, garantir escalas com mercados futuros, a termo. E, o governo terá que promover esse avanço da produtividade se não o boi vai entrar no Mato.
Caro Sr. Julio Tatsch, sou Leiloeiro Rural em Minas Gerais há 16 anos e nos últimos 3 anos venho chamando a atenção dos pecuaristas por onde eu trabalho, justamente sobre o grande volume de fêmeas que vinham sendo abatidas, na esperança de que esse alerta chegasse até os empresários do setor frigorífico, mas acabei por concluir que esta informação já era do conhecimento destes, até porque eles mesmos é que efetuavam este abate e certamente estavam atentos ao fenômeno do grande volume de abate de fêmeas.
E o que me espanta é que nem vendo a repetição da velha estória da galinha dos ovos de ouro a ganância dos mesmos permitiu-lhes abrir os olhos, e o resultado está aí. Um crescente aumento no preço da carne que nem tanto beneficia o produtor já que o preço está alto justamente por que o produtor não tem o produto para oferecer, ou seja não vai ganhar com a alta do produto. E o pior é que a mídia passa aos cidadãos que o grande vilão da alta dos preços é o produtor, que agora também é culpado pelo aquecimento global, já que segundo reportagem veiculada em um belo domingo à noite, “um boi consome 5.000 litros de água para produzir cada kilo de carne”. Sem contar que não foi informado ao consumidor que para atingir remuneração equivalente ao que paga uma caderneta de poupança o produtor deveria estar recebendo por arroba, longínquos R$80,00!
O mesmo vem acontecendo com os produtores de leite que estão vendo a caixa do leite longa vida bater seguidamente recordes de preços, com perspectiva de chegar no mercado mineiro a incríveis R$3,00, sendo que ninguém até agora alertou os consumidores de que o que sobra de lucro ao produtor com essa alta não atinge míseros 6%. Qual atividade industrial trabalha com uma margem de lucro dessa? Isso sem levar em consideração as tais depreciação de equipamentos, remuneração da terra, entre outros itens que há muito sumiram definitivamente da planilha de custos do produtor de leite.
É por essas e por outras que a cana-de-açúcar e as plantações de eucalipto vem tomando conta das férteis terras brasileiras. Um grande abraço meu caro Julio Tatsch e parabéns pelo comentário. São produtores conscientes como você que ainda me fazem acreditar que falta pouco para a classe começar a reagir frente aos carteis que se formam em todos os seguimentos a explorar o produtor.
Concordo em gênero, número e grau
Caro amigo Júlio,
Concordo integralmente com tua análise. O momento atual é fruto de atitudes reiteradas dos frigoríficos, sobre as quais há muito tempo comentas. Na época da abundância da oferta de gado, as indústrias ganharam muito dinheiro as nossas custas, e agora chegou a nossa vez de ganhar. O correto, na verdade seria que todos ganhassem sempre para fortalecer a cadeia, mas o que fazer. Agora chegou a nossa vez!
Espero que a lição seja aprendida, pois ninguém pode ganhar sozinho sempre. Entendo que ainda durante uns dois anos a situação permanecerá como agora, pois este será o tempo mínimo para recomposição do rebanho bovino brasileiro, se tudo correr dentro da normalidade.
Parabéns pelas colocações e abraços.
José Roberto Pires Weber
Dom Pedrito
Este tema levantado pelo Julio Tatsch é extremamente relevante para deixarmos morrer neste quadro fornecido pelo BeefPoint.
Tenho observado um descontentamento geral por parte dos produtores, no RS, com relação a este “efeito dominó” que tem ocorrido nos últimos anos, e que tem acarretado o enfraquecimento do pecuarista na cadeia.
No entanto, acredito que devemos analisar este cenário com outros olhos. Digo isso, em função da profissionalização que tem sofrido a indústria de abate, mais precisamente os grandes frigoríficos, nos últimos anos, e por que não nos últimos 12 meses. A abertura de capital, e a obtenção de milhões para novos investimentos nos mostram que este segmento está seguindo o passo natural de qualquer grande empresa, com um sistema de gestão transparente e moderna, pois uma vez na Bovespa, não há outra alternativa que não essa. Digo isso sem a intenção de exaltar o que os frigoríficos tem feito, mas sim para mostrar a necessidade de uma profissionalização unificada.
A propriedade rural que pretende buscar lucratividade, alta performance, precisa também buscar uma gestão moderna, com visão futura, nem que para isso tenha que se juntar a outros produtores, não necessariamente em cooperativas, ou associações (o que não deixa de ser uma idéia interessante). Mas o que deve ser mantido em mente é o fato que a cadeia toda deve mostrar-se mais homogênea, em nível de gestão. Quando falamos em setor primário, alguns pensam no trabalho familiar, que não precisa ser eliminado, mas precisa ser expandido. Gostaria de saber o percentual de pecuaristas que tem o controle/gestão do seu negócio – seja o controle mais simples possível – em um computador.
Ficaríamos surpresos com os números.
Na verdade a liqüidação das fêmeas ocorreu, porque o seu valor no mercado era menor do que o ofertado pelos frigoríficos, até as fêmeas de alta qualidade que deveriam servir como matrizes valiam menos que seu peso. Neste período, muitos criadores que sabem o custo de produção, aproveitaram a oportunidade que o momento propiciava e descartaram os animais de menor qualidade que estavam gordos, e que valiam mais, e compraram mais qualidade porque era gado magro, ou seja.
Repuseram e aprimoraram o plantel, muito mais rápido e mais barato do que comprar touros melhoradores e ficar esperando a vaca parir, este momento passou e quem não aproveitou deve alertar os filhos porque pode acontecer novamente daqui alguns anos, se começar outra vez a retenção de matrizes. O momento não é de reclamar, o momento é para ser comemorado, mas cuidado, os bons momentos são os piores conselheiros.
De fato o cenário atual parece positivo, mas na minha opinião estamos saindo de uma situação péssima e entrando em uma ruim, pois tomemos por base o valor da arroba em 2001, algo em torno de R$ 52,00, considerando-se que tivemos uma inflação em torno de 8% a.a., sem se basear em custos, apenas uma inflação para base de correção de preços, teríamos hoje um valor em torno de R$ 89,12, o que representaria o mesmo cenário de 2001, o qual já não nos era favorável, por mais que tenhamos aumento de preços durante os próximos meses, sou muito pessimista que atinja este valor, quando o ideal seria ultrapassá-lo, e muito, para que pudéssemos de fato considerar a pecuária como algo realmente lucrativo. Só para se ter uma idéia isso daria US$ 47,15/@, pura utopia.
Mais uma vez estamos comemorando migalhas, ouro de tolo, aposte na pecuária quem quiser, eu já sai fora desse barco furado, posso até estar enganado, o futuro mostrará.
O artigo do Julio Tasch foi escrito dia 09/07 e hoje já está desatulizado. Carregei boi dia 12/07 a R$ 2,50 /kg. Quando nós dois presidíamos sindicatos rurais, ele o de Caçapava e eu o de Santiago, inúmeras vezes desenhamos esse quadro de abate indiscriminado de fêmeas, baixo preço dos terneiros, com os pecuaristas de gado de cria trabalhando no prejuízo. De nada adiantou.
A indústria era surda, o governo do estado incompetente, e as lideranças maiores, oportunistas. Deu no que deu!
Daqui para frente, por mais que achem que tudo voltará ao que era antes daqui uns poucos anos, se enganam. O quadro mudou e muito. Uma vez em São Borja num seminário da Carne, o maior industrial do setor no estado, disse em alto e bom tom que o problema do baixo preço do terneiro e da margem negativa do pecuarista não era problema dele, não tinha nada a ver com isso.
Agora, de uma hora para outra, voltam a falar em comprometimento na cadeia da carne. Quando a coisa não é tratada com seriedade, cai no descrédito e o negócio termina. Estamos passando para uma outra fase, com uma realidade diferente do negócio.
Aqui no Rio Grande, sairá da produção pecuária 1 milhão de hectares que era ocupada com gado de cria para o segmento da florestação. Já existe consolidado no estado o maior latifundio improdutivo com 400.000 hectares que foram repassados ao MST com os assentamentos em terras que na maioria eram da pecuária de cria e terminação. Só aí já 1,4 milhão de ha a menos.
No Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas a cana-de-açúcar vai ocupando áreas que eram de pecuária e de soja. O mercado interno do Brasil aumenta com o aumento da renda média, as exportações aumentam porque a carne brasileira entrou no mercado internacional a preços competitivos e consolidou sua posição. O ministro Pratini sempre teve essa tese. Temos que entrar e marcar posição, custe o que custar, fizemos isso.C hegamos a exportar até para Venezuela do Chavez.
Então, concluindo, colegas pecuaristas chegou a hora de redefinirmos o nosso negócio e principalmente a nossa posição nas negociações. Esse negócio é nosso,sempre foi e sempre será.
Nesse momento, ajustou a oferta a preços remuneradores. Não adianta produzir bastante a preço vil e sim o necessário a preços remuneradores. Já está na hora do pecuarista organizado tomar a frente na discussão do papel de cada elo da cadeia da carne.