A produção mundial de bioenergia tem gerado preocupações junto a indústria de alimentos e sociedade em geral, frente ao possível aumento de custos de produção e preços dos alimentos ao consumidor final. O aumento dos preços do milho no mundo vai impactar positivamente a pecuária de corte brasileira, que dentre todas as possíveis fornecedoras de proteína animal, é a menos dependente do milho. O mesmo não podemos dizer para a produção de suínos e aves no Brasil e no exterior e a produção de gado de corte em outros países. Essa mudança nos preços agrícolas mundiais e o aumento da demanda mundial por proteína animal são grandes oportunidades para o Brasil aumentar ainda mais sua presença e sucesso no mercado internacional de carne bovina.
A produção mundial de bioenergia tem gerado preocupações junto a indústria de alimentos e sociedade em geral, frente ao possível aumento de custos de produção e preços dos alimentos ao consumidor final. No início de setembro foi realizado em Ames, Iowa, EUA um seminário sobre o impacto da indústria de bioenergia na indústria de produção de carne, em especial carne bovina.
Iowa é o estado com a maior produção de milho dos EUA, principal ingrediente da alimentação de suínos, aves e da fase de terminação de bovinos de corte nos Estados Unidos. Além disso, o estado de Iowa detém a maior concentração de destilarias de etanol dos EUA, que naquele país usam o milho como matéria-prima, e não a cana-de-açúcar como no Brasil. Em 2007, 55% da produção de milho do estado será usada para etanol e em 2008 esse percentual passará para 75%.
Essa recente e enorme demanda por milho tem gerado aumentos de preços e preocupado produtores de gado de corte. Uma possível saída para essa situação seria a diminuição das taxas de importação de etanol brasileiro, que tem custo mais baixo. Participando desse seminário, ficaram mais claros os objetivos do programa de bioenergia dos EUA.
Robert Brown, integrante do escritório de energias bio-renováveis da Universidade Estadual de Iowa, começou sua palestra afirmando que o objetivo dos EUA não é produzir etanol, muito menos exclusivamente de milho.
Segundo ele, os objetivos do programa de bioenergia dos EUA são mais amplos e visam:
1. aumentar a segurança dos EUA, diminuindo a dependência de fontes de energia de outros países, em especial Oriente Médio e Venezuela, tradicionais zonas de conflito,
2. aumentar e fortalecer o mercado de produtos agrícolas, com o benefício adicional de reduzir a necessidade de programas de subsídios,
3. promover o desenvolvimento rural, criando oportunidades de criação de novos empreendimentos em regiões rurais, como a construção de destilarias no estado de Iowa e,
4. melhorar o meio ambiente, utilizando mais energias renováveis e limpas
Analisando-se os quatro pontos acima, apenas no último teríamos um motivo para estimular a importação de álcool brasileiro. Nos três primeiros, a importação de álcool brasileiro atrapalha esses objetivos, direta ou indiretamente.
Ao analisarmos a busca por produção de etanol de celulose, percebemos que ele se alinha muito bem aos quatro objetivos apresentados e por isso há tantos estudos nessa área. Se os pesquisadores conseguirem criar uma tecnologia que seja viável para uso industrial, isso irá criar um enorme mercado para todos os resíduos agrícolas, como palhadas das mais diversas culturas.
Dessa forma, ao invés de criticar o programa norte-americano de bioenergia, vale anotar que, apesar de não beneficiar o álcool de cana-de-açúcar brasileiro, ele foi pensado de forma a resolver uma série de desafios nos EUA e que frente a esses desafios parece estar se tornando um sucesso. Com o provável advento do etanol de celulose esses objetivos serão alcançados ainda mais rápida e plenamente.
Um fato interessante: a destilaria visitada durante o seminário tinha centenas de investidores locais, reunidos por meio de 100 reuniões nas comunidades da região, feitas em 50 dias. Durante esse “tour” em busca de pequenos e médios investidores locais, conseguiram reunir cerca de US$ 40 milhões, que foram completados com outros US$ 40 milhões de um fundo de investimento. A empresa hoje tem muitos acionistas, criando a oportunidade de muitos investirem e lucrarem com essa iniciativa, localmente.
Desde o ano passado, os preços do milho subiram muito nos EUA, puxando também os preços da soja. Devido a isso, os custos de produção de suínos, aves e bovinos também aumentaram, o que tem pressionado o preço dos alimentos. No entanto, graças a indicação de maiores preços, a área plantada de milho nos EUA em 2007 foi recorde, que unido ao bom clima, traz agora uma safra recorde. Com isso os preços do milho no mercado norte-americano recuaram (não aos níveis pré-etanol), mostrando que a relação oferta-demanda continua controlando os preços.
No Brasil, o impacto da indústria de etanol na pecuária de corte ainda é muito pequeno, analisando-se o Brasil como um todo. Apesar de que em regiões e municípios onde se amplia ou se constroem novas destilarias, a percepção é de que a cana está “dominando” as outras atividades agropecuárias.
O Brasil tem hoje cerca de 200 milhões de hectares de pastagens e cerca de 7 milhões de ha área plantada de cana, para açúcar e álcool. Realizando-se todos os projetos de destilarias previstos até 2012, essa área irá chegar a 12 milhões de ha, o que representa uma perda de 2,5% da área de pastagens brasileira. A pecuária brasileira ainda tem uma ociosidade produtiva muito grande, ou seja, é possível na mesma área, produzir muito mais, adotando melhores práticas de manejo de pastagens, suplementação mineral-proteica, genética melhoradora e controles sanitários. Logo percebe-se que uma potencial perda de área de pastagens pode não influenciar negativamente na produção total do Brasil. Isso já aconteceu no estado de SP, que vem tendo sua área de pastagens diminuída ano a ano e sua produção pecuária tem aumentado.
É ingênuo pensar que o programa de etanol norte-americano é ineficaz. Ao analisar seus objetivos, percebe-se que está indo muito bem. Por outro lado, o impacto do aumento dos preços do milho no mundo vai impactar positivamente a pecuária de corte brasileira, que dentre todas as possíveis fornecedoras de proteína animal, é a menos dependente do milho. O mesmo não podemos dizer para a produção de suínos e aves no Brasil e no exterior e a produção de gado de corte em outros países.
Essa mudança nos preços agrícolas mundiais e o aumento da demanda mundial por proteína animal são grandes oportunidades para o Brasil aumentar ainda mais sua presença e sucesso no mercado internacional de carne bovina.
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Confesso que cada vez que leio um artigo como esse aumenta minha dúvida com relação ao futuro da pecuária brasileira, ou melhor do pecuarista brasileiro, criador de zebu a pasto. Senão vejamos:
1- A dita demanda por proteína animal, nos mercados de elite (europeu, asiático etc) englobaria a carne brasileira oriunda dos rebanhos anelorados criados a pasto? Qual é efetivamente o mercado mundial para a carne brasileira? Para esse mercado qual o patamar em dólar/ton?
2-para atingirmos o “filé” do mercado mundial teremos que mudar nosso modelo de criação, ou seja menos pasto e mais cocho? e mais sangue europeu? E o custo? Os americanos vendem a U$ 60/@ e nós a 30/@.
Para encurtar: há 3 ou 4 anos a participação das exportações de carne representavam cerca de 10%, hoje vamos beirar os 30%, e a margem do pecuarista foi literalmente para o brejo e sobraram meia dúzia de frigoríficos, que dia a dia expandem seus negócios mundo a fora.
Se aumentarmos nossa produtividade, incorporarmos mais tecnologia, agregarmos novos produtores via integração lavoura-pecuária, não estaremos criando um excedente e atirando no próprio pé?
É fato ou estou sendo muito pessimista?
Resposta do autor:
Prezado José, obrigado pela carta.
Os melhores mercados em preço e volume têm diversos segmentos. No caso dos EUA, por exemplo, há um enorme mercado para carne moída, para hamburgueres e outras preparações, muito consumido pelos norte-americanos.
Acredito que os mercados potenciais vão se ampliar, para diferentes tipos de sistema de produção, diferentes raças e diferentes custos. Acredito que devemos estar atentos sempre a relação custo-benefício. A abertura de novos mercados para a carne brasileira é solução, não problema.
Acredito também que a produção a pasto, seja de zebu ou cruzamento, terá mercado crescente, principalmente se realizada com boas práticas de produção, controle sanitário e rastreabilidade. Vale lembrar que o pecuarista vem fazendo um excelente trabalho no controle da aftosa. O governo (setor público) que tem investido pouco.
Um abraço, Miguel
O artigo em questão aborda um tema de grande importância e atualidade que diz respeito ao futuro de toda a sociedade. O programa norte americano, embora em seu tímido início, já modificou fortemente a economia da produção de carnes, pela pressão significativa que exerceu sobre os preços dos cereais. Todos sabemos que os estímulos de preços têm resposta rápida nas economias de mercado em se tratando de commodities agrícolas; mas o próprio autor se refere aos níveis de preços resultantes do aumento da safra americana como “tendo sofrido recuo (não aos níveis pré-etanol)”.
Ou seja o patamar de preços “pós-etanol” será maior, mesmo num momento de aumento de produção de cereais em conseqüência a um forte estímulo de preços do momento anterior. Isto se traduz em elevação de custos para a produção de carnes de um modo geral. Tais aumentos de custos se não puderem ser compensados por preços mais remuneradores se constituem em desestímulos concretos para a manutenção do patamar de produção de aves, suínos, lácteos e carne bovina. Ou seja, a hipótese de uma pressão adicional sobre o ritmo de inflação mundial é cada vez mais realista.
No caso particular do Brasil tais pressões tendem a penalizar mais fortemente a pecuária bovina mais intensificada e, por enquanto, afetar pouco a pecuária de corte mais extensiva. A perda estimada pelo articulista de 5 milhões de hectares da área de pastagens para a produção de etanol, é necessário acrescentar aquela que advirá do aumento da área a ser usada para a produção de cereais como resposta aos estímulos de seus preços na fase “pós-etanol”. Leve-se em conta ainda que o programa de bio-diesel já saiu da fase embrionária e dentro em breve estará exigindo mais alguns milhões de hectares cultivados com oleaginosas para alimentá-lo.
Adicionalmente pressões para a utilização desse mesmo estoque de áreas de pastagens também existem oriundos de outros segmentos de produção que também vêm recebendo fortes estímulos de preços, tais como laranja e celulose. Portanto é necessário considerar, de um lado, que o panorama não é tão róseo como aparenta ser à primeira vista, e de outro que o caminho da expansão da área cultivada com cana foi viabilizado pelo aumento do percentual de oferta de bovinos para abate terminados em confinamento.
A presença e o sucesso do Brasil no mercado internacional da carne bovina se constitui num potencial cada vez mais concreto. A realização desse potencial vai depender muito de um funcionamento cada vez mais correto dos mecanismos de formação de preços; enquanto perdurarem práticas de mercado ligadas a realidades do passado, ficará cada vez mais distante a realização desse potencial no futuro.
Caro Miguel,
Concordo com você que os americanos estão fechando os olhos para o álcool brasileiro. Somente que muitos não olham os números. As previsões são de que em 2017 quando as destilarias em construção alcançarem máxima produção, o etanol representará 8% da demanda anual por gasolina no pais. Isto tudo acontecendo com um subsidio pesado de U$0.60/galão.
Como esta porcentagem irá minimizar a dependência por petróleo? Muito pouco, acredito eu.
Do outro lado a exploração de celulose de restos de culturas, árvores e gramas tropicais é uma outra alternativa, mas ainda inviável economicamente.
Então, eles, os políticos, principalmente terão que olhar outras alternativas como energia solar, hidrogênio, etc.
Alem disso, devido ao aumento do preço da soja, os comentários por aqui e que no próximo ano o milho cederá terra para a soja, diminuindo a área de milho, conseqüentemente aumentando mais o preço, devido a menor produção e maior demanda por parte das novas destilarias que estão sendo construídas.
O que isto significa? Que as destilarias pagarão mais pelo milho, aumentando o custo de produção de etanol.
Será que o governo aumentará o subsidio para manter estas destilarias? Provavelmente sim.
Se olharmos os números e os diferentes cenários, ainda é um pouco cedo para dizer que o etanol americano está sendo um sucesso. O que podemos dizer é que ele está causando mudanças no preço de commodities no mundo inteiro, inclusive para o produtor americano de milho e soja, e isto é bom para o setor. Pois eles também são filhos de Deus e merecem ganhar um pouco de dinheiro.
Ai está o potencial do álcool brasileiro, se eles diminuírem um pouco o protecionismo, que, concordo será difícil, mas não será impossível.
No setor da carne, além do custo de produção maior dos confinamentos americanos devido a alta do milho, existem outros fatores que ajudarão o preço da carne se manter alto por aqui, como está agora: condições de seca nos últimos 7, anos nos diferentes estados produtores de bezerros; média de idade do pecuarista no setor de cria é de 60 anos de idade, então não se vê muitos jovens entrando na pecuária de corte nos EUA; aumento no custo de produção no setor de cria, devido também ao aumento considerável no custo da terra, pois muitas áreas estão se urbanizando.
O que os confinamentos terão que fazer e se adaptar e utilizar mais o subproduto das destilarias do milho na alimentação animal. O problema será como substituir o amido do milho que foi utilizado para a produção de etanol.
Ai novamente, o potencial da carne brasileira, principalmente a carne moída. O problema, é se o produtor brasileiro verá esta compensação financeira, ou se ela ficará nas mãos dos frigoríficos.
Acredito que a agricultura mundial está sofrendo uma mudança muito grande, e que o Brasil mais do que nunca será parte importante nesta mudança. E acredito que nossos produtores de carne, oleaginosas e cereais serão beneficiados com melhores preços.
Muito obrigado.
Quanto mais crise, mais soluções aparecem, é em função destes ciclos que o mundo se moderniza e se criam alternativas. Tudo tem seu ciclo, chegou a vez da agricultura, o Brasil é o país mais rico do mundo, porque o que se desperdiça neste país é brincadeira. O que os fazendeiros perdem de dinheiro por falta de uma gestão é de se arrepiar.
Vou citar só um exemplo, somente 10% das nossas pastagens são aproveitadas 90% delas são perdidas 100%.já pensou você com 12 toneladas de matéria seca em um há e aproveitar 1.2 t, isso é um absurdo, então isto está vindo ai é para o produtor aprender e se torna competente, pois quem não tem competência não se estabelece.