Diversos estudos têm mostrado a importância econômica da precocidade sexual em gado de corte, por reduzir custos de produção de novilhas de reposição e proporcionar giro mais rápido do capital investido. Todavia, na maioria dos rebanhos zebuínos, o número de novilhas que concebem no desafio para precocidade sexual não é suficiente para fazer toda reposição de fêmeas e intensificar a seleção por precocidade sexual. O uso de sêmen sexado de fêmea poderia aumentar o número de fêmeas candidatas, acelerando tal processo de seleção.
Haroldo Henrique de Rezende Neves1, Roberto Carvalheiro2,4, Sandra Aidar de Queiroz3, Luiz Alberto Fries4,5, Marcelo Almeida Oliveira5
Diversos estudos têm mostrado a importância econômica da precocidade sexual em gado de corte, por reduzir custos de produção de novilhas de reposição e proporcionar giro mais rápido do capital investido. Neste sentido, características ligadas à precocidade sexual em fêmeas, dadas as expressivas estimativas de herdabilidade encontradas para as mesmas em populações de zebuínos (e.g., Eler et al., 2002), se apresentam como critérios promissores para selecionar animais sexualmente precoces, desde que se dê oportunidade a todas novilhas de mostrarem seu potencial genético, conforme abordagem proposta por Atencio (2000).
Todavia, na maioria dos rebanhos zebuínos, o número de novilhas que concebem no desafio para precocidade sexual não é suficiente para fazer toda reposição de fêmeas e intensificar a seleção por precocidade sexual.
O uso de sêmen sexado de fêmea poderia aumentar o número de fêmeas candidatas, acelerando tal processo de seleção. Contudo, alguns fatores têm sido apontados como limitantes para a aplicação de sêmen sexado em programas de melhoramento e viabilidade econômica de seu uso: o custo extra da dose de sêmen sexado, a sua menor fertilidade em relação ao convencional e a precisão na escolha do sexo do futuro produto.
Desenvolveu-se um estudo de simulação a fim de avaliar diferentes estratégias de uso de sêmen sexado como meio de intensificar a seleção por precocidade sexual, bem como o impacto de cada estratégia sobre o resultado econômico obtido por um rebanho de cria e a sensibilidade do modelo simulado à variação de diferentes parâmetros.
Estrutura do rebanho simulado
Simulou-se um rebanho de cria com capacidade de suporte de matrizes de 900 UA, considerando-se a evolução do mesmo por um período de 20 anos. O rebanho foi composto por matrizes com idade entre 2 e 17 anos, agrupadas em categorias, quanto a número de partos antes da estação de monta (0; 1; 2 e mais de 2 partos) e precocidade sexual (precoces – P: todas fêmeas que emprenhassem em estação antecipada; não-precoces – N: demais fêmeas).
A partir do 2º ano, simularam-se duas estações de monta: outono – para novilhas de 16 a 18 meses de idade- e verão- para as vacas e para as novilhas que não concebessem na estação de outono, sendo que as fêmeas vazias ao final do verão e aquelas com mais de 17 anos seriam descartadas.
Como premissas para a evolução do rebanho, para cada categoria, consideraram-se diferentes probabilidades de prenhez e proporção de fêmeas inseminadas, além de taxas de fertilidade na inseminação artificial (IA) e de sucesso na sexagem (SS). O sexo dos produtos foi determinado em função das probabilidades de prenhez em cada tipo de serviço e do sucesso no processo de sexagem. Considerou-se o uso de monta natural para repasse da IA.
Em cada cenário, assumiu-se um patamar inicial de probabilidade de prenhez na estação de monta antecipada (PPPG0) para as filhas de vacas do rebanho base. Considerou-se um modelo não linear para probabilidade de prenhez precoce (PPP), admitindo-se diferentes coeficientes de herdabilidade (h²) para esta característica, de modo a replicar resultados de campo que apontam aumento significativo na probabilidade de prenhez a cada geração de fêmeas precoces.
Seleção por precocidade e cenários simulados
O processo de seleção por precocidade sexual foi simulado, mantendo, a cada ano, a lotação igual a 900 UA, a fim de se alcançarem 2 objetivos:
• realizar reposição exclusivamente com fêmeas sexualmente precoces;
• descartar todas as vacas não-precoces, iniciando-se esse processo de descarte pelas mais velhas.
Além da estratégia 1 (sem uso de sêmen sexado), simularam-se cinco outras estratégias de uso de sêmen sexado (Tabela 1), de acordo com o tempo e a proporção de uso de sêmen sexado de fêmea ou de macho. Para cada estratégia, simularam-se 36 cenários, considerando diferentes valores de PPPG0, h² para PPP, sucesso no processo de sexagem (Tabela 2) e preço de dose de sêmen sexado de fêmea (R$ 30,00; R$40,00 e R$50,00).
Análise econômica
Anualmente, computaram-se o investimento requerido (IR) e a receita bruta (RB) obtida com a implementação de cada estratégia, nos diferentes cenários, considerando-se horizontes de tempo de 10 e 20 anos, incluindo o 1º ano da simulação, comum a todos os cenários. Para cálculo de IR a cada cenário, considerou-se: quantidade de doses de sêmen (sexado de fêmea, sexado de macho e convencional), custo de oportunidade pela manutenção de touros para repasse e juros reais de 6% ao ano sobre montante equivalente ao investimento extra em relação à estratégia sem uso de sêmen sexado, com um período de retorno de três anos.
Como fontes de receita considerou-se venda de: bezerros, bezerras, vacas, novilhos e touros. Admitiram-se taxas de mortalidade perinatal e pós-desmama, respectivamente, de 5% e 2%, para ambos os sexos, sendo o resultado econômico (RE) obtido pela diferença entre RB e IR acumulados em 10 e 20 anos.
Tabela 1. Diferentes estratégias de uso de sêmen sexado simuladas
Na Tabela 2, apresenta-se o tempo requerido para implementar reposição exclusivamente com fêmeas P sem uso de sêmen sexado (estratégia 1) e a diferença entre o tempo requerido pelas demais estratégias para alcançar o mesmo objetivo e o tempo verificado no caso da estratégia controle, de acordo com a variação de diferentes parâmetros. Valores de tempo iguais a 21 indicam que não foi possível implementar este tipo de reposição no período simulado. Na mesma tabela, apresentam-se, de maneira similar, os dados referentes ao tempo necessário para descarte de todas as vacas N.
Num horizonte de tempo de 10 anos, todas as estratégias de uso de sêmen sexado proporcionaram resultado econômico inferior ao da estratégia controle (dados não apresentados), principalmente em virtude da venda de menor número de machos e do maior IR.
Tabela 2 Diferentes cenários simulados e respectivos resultados em precocidade sexual: tempo para implementar 100% de reposição com fêmeas precoces(P) e tempo para descartar todas as vacas não-precoces(N)
Clique na tabela para ampliá-la.
Em 20 anos, nos cenários em que se admitiu h² alta para PPP, observaram-se maiores valores de RE quando comparados a cenários em que se admitiu h² moderada, mantendo-se fixos os demais parâmetros. À medida que aumentou PPPG0, os valores absolutos de RE foram maiores, mantendo-se os demais parâmetros, o que pode ser explicado pelo maior progresso em termos de precocidade sexual e aumento da fertilidade média do rebanho.
A redução no preço da dose de sêmen sexado de fêmea e de macho também implicou em aumento nos valores absolutos de RE para a maioria dos cenários em que se usou sêmen sexado, mantidos os demais parâmetros constantes, como conseqüência direta da redução no IR para estratégias de uso de sêmen sexado.
Em termos de viabilidade econômica, as estratégias 4 e 6 foram as que apresentaram melhor resultado econômico em relação à situação em que não se usou sêmen sexado, sendo que ambas propiciaram maior RE do que a estratégia controle na maioria dos cenários simulados, sobretudo em situações com PPPG0 maior ou igual a 20% ou com menores preços do sêmen sexado. Por meio deste resultado, pode-se avaliar a vantagem econômica de se utilizar sêmen sexado de fêmea, em determinadas situações, por tempo e/ou intensidade mínimos que permitam atingir um maior nível de precocidade sexual e conseqüentemente de fertilidade, sobretudo de primíparas.
Após o alcance dos objetivos de precocidade sexual, a utilização de sêmen sexado de macho por curto período permitiu explorar o maior valor obtido com a venda de produtos machos, tendo grande impacto sobre o resultado econômico, o que pode ser comprovado pelo fato da estratégia 3 ter apresentado pior RE que a estratégia 4 em todas as situações consideradas, apesar de ter proporcionado progresso para precocidade sexual idêntico ao desta última, em todos os cenários.
A estratégia 2 proporcionou RE inferior ao da estratégia 1 em todas as situações, indicando que o uso de sêmen sexado de fêmea por longo período de tempo não parece ser economicamente viável, sobretudo quando se considera o custo extra e a menor fertilidade deste serviço. Analisando-se os resultados das estratégias 3 e 5, percebeu-se que, independentemente do preço do sêmen sexado, o uso exclusivo de sêmen sexado de fêmea por 6 a 9 anos, só foi viável economicamente nas situações em que estas estratégias proporcionaram maior progresso em precocidade sexual.
Por meio da análise econômica realizada, percebe-se a importância de se explorar o maior preço obtido com a venda de machos e, sobretudo, animais de alto valor, como mencionado por Madalena & Junqueira (2004), para se obter maior vantagem econômica ao se usar sêmen sexado, até mesmo com a possibilidade de uso sexado de macho como opção para capitalização.
A utilização de sêmen sexado de fêmea associada a uma política de seleção por precocidade sexual permitiu explorar de modo mais eficiente as diferenças de valor entre os sexos, pela possibilidade de inseminação de maior proporção das matrizes e de obtenção de maior fertilidade média em longo prazo, como resultado do incremento na proporção de animais P no rebanho de cria.
Uma questão não contemplada por este estudo seria a valorização no estoque de animais, no caso de um rebanho composto apenas por animais P; de modo que, sob determinadas condições de mercado, a vantagem econômica de se associar sêmen sexado e seleção por precocidade sexual talvez fosse maior.
Referências bibliográficas:
ATENCIO, A. M., 2000. Predicción genética de la fertilidad en la hembra cebu. In: CONGRESO INTERNACIONAL CEA. CEA, Asunción, 29-42.
ELER, J. P., SILVA, J. A., FERRAZ, J. B., DIAS, F., OLIVEIRA, H. N., EVANS, J. L., GOLDEN, B. L., 2002. Genetic evaluation of the probability of pregnancy at 14 months for Nellore heifers. J. Anim Sci. 80, i.4, 951-954.
MADALENA, F. E.; JUNQUEIRA F. S., 2004. The value of sexed bovine semen. J. Anim.Breed.Genet., 121, i.4, 253-259.
1 Acadêmico do curso de graduação em Zootecnia da FCAV/Unesp. Bolsista PET. e-mail: haroldozoo@hotmail.com
2 Pós-doutorando FCAV- Unesp Jaboticabal. Bolsista FAPESP. e-mail: rcar@fcav.unesp.br
3 Departamento de Zootecnia – FCAV – UNESP/Jaboticabal. Bolsista do CNPq. e-mail: saquei@fcav.unep.br
4 Gensys Consultores Associados S/S Ltda. www.gensys.com.br
5 Lagoa da Serra Ltda. www.lagoa.com.br
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Bom de mais o artigo, serve pra você se basear na sua estratégia a longo prazo.
Interessante se dar de conta que não é preciso utilizar o sêmen sexado o tempo tudo e sim é viável a mistura entre sêmen convencional e sexado, acrescentado a seleção por precocidade para reposição de fêmeas.
Parabéns.
Parabéns!
Excelente artigo.