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Rendimento de carcaça: fonte de conflitos constantes entre produtores e frigoríficos

Em nosso último comentário abordamos a necessidade e as vantagens de se ter um sistema de tipificação de carcaça em funcionamento efetivo para disciplinar a comercialização de bovinos e de carcaças. Um outro aspecto importante na comercialização de gado de corte que tem provocado atrito constante no relacionamento entre produtores e o setor de abate, é o rendimento de carcaça, já abordado nesse espaço em outras ocasiões.

De tempos em tempos ou de frigorífico para frigorífico, os produtores têm reclamado sobre variações muito grandes nos rendimentos para animais de mesmo tipo, pesados em condições semelhantes na propriedade antes do embarque. Aparentemente, quanto maior a relação entre preço da arroba do boi paga ao pecuarista e o preço dos componentes da carcaça (dianteiro, ponta de agulho e traseiro) no atacado, maior o número de reclamações dos produtores sobre baixos rendimentos de carcaça.

Segundo a maioria dos produtores, esses baixos rendimentos estariam relacionados a variações na extensão da limpeza ou “toalete” (efeito faca) e a problemas de pesagens das carcaças (efeito balança). Os frigoríficos contra argumentam que os baixos rendimentos, quando ocorrem (?), são devidos a erros ou critérios de pesagens nas fazendas, a animais mal acabados ou a tipos de animais com características de baixo rendimento. Além disso, às vezes são feitos comentários sobre a necessidade de alguns frigoríficos obterem alguma vantagem no rendimento de carcaça para poderem competir com frigoríficos que praticam preço mais baixo de venda no atacado, aparentemente proporcionado pelo não recolhimento de todos os impostos devidos.

Como o rendimento de carcaça é afetado por muitos fatores, essa discussão entre o setor de abate e os produtores tem sido improdutiva e desgastante. Qualquer tipo de conflito ou de jogo de interesses, só pode ser adequadamente resolvido através de normas justas e transparentes. Tanto quanto a necessidade de se ter um sistema de tipificação de carcaça funcionando, a cadeia da carne bovina precisa adotar uma sistemática de abate, em termos de limpeza (“toalete”) e de pesagem das carcaças, claramente definida e fiscalizada pelas partes interessadas. São essenciais também normas tributárias e fiscais que restrinjam a um mínimo tolerável a sonegação e a corrupção, e consequentemente a competição desleal como regra na cadeia da carne bovina.

Em tempos de mudanças positivas na cadeia da carne bovina como sucesso no controle da aftosa, aumento de produtividade, divulgação da marca “Brazilian Beef”, aumentos das exportações, implantação da rastreabilidade, produção de boi orgânico, etc, deve-se também aproveitar para corrigir pontos importantes de estrangulamento como os comentados acima.

Por serem sempre os mais prejudicados, os produtores devem ser os maiores interessados no estabelecimento de critérios mais transparentes que permitam uma competição mais justa entre todos os componentes da cadeia da carne bovina. Eles devem ser os líderes em participar e cobrar de suas entidades representativas ações junto a políticos e órgãos governamentais em defesa de seus justos interesses.

0 Comments

  1. Eduardo Dias Suñé disse:

    Parabéns pelos artigos e temas abordados. Vejo como necessidade real a comercialização do boi pelo kg de peso vivo na propriedade, necessidade esta “imposta” pelos frigoríficos devido a pouca transparência nas relações entre ambos. A maturidade das fases da cadeia da carne lamentavelmente não é homogênea.