Miguel da Rocha Cavalcanti1
Dólar acima de R$ 3,50? Risco Brasil nas alturas? Será que estamos na Argentina? Crises nas bolsas internacionais? O boi chegou a R$ 48,00 e ainda se espera mais para semana que vem. A cotação da @ para outubro na BM&F beirou R$ 52,00. Muita coisa inesperada aconteceu essa semana e pouco pode se dizer sobre o futuro. Não é possível se fazer previsões, pois será que alguém realmente sabe quanto vai valer o boi em outubro, em reais? E em dólar? Mais difícil ainda…
Toda essa turbulência torna difícil pensar a longo prazo. Mas será que não é uma boa idéia um pouco de reflexão sobre como está evoluindo a cadeia da carne bovina? Como estamos na busca por maior qualidade e por melhor divulgação e comercialização do produto “carne”?
Mercado externo
Apesar de estarmos na posição número 3 no ranking de maiores exportadores de carne bovina não temos tradição no mercado internacional. Historicamente exportamos apenas o excedente de nossa produção e não tínhamos um enfoque de nos tornarmos fortes exportadores, buscando contratos de longo prazo.
Hoje a situação está mudando. Estamos produzindo mais e percebeu-se que o mercado externo pode ser muito interessante. Esforços estão sendo feitos para aumentar as exportações e seu valor. O próprio governo percebeu que a cadeia da carne tem enorme potencial e pode contribuir muito para entrada de dólares no país.
O que temos feito? O Brasil (em todos os setores) aumentou sua presença em feiras internacionais, está constantemente enviando missões diplomáticas a diversos países e busca a assinatura de acordos sanitários. Tudo isso visando a abertura de novos mercados e fortalecimento dos atuais. Estamos no caminho certo.
E nossos competidores, o que fazem? É incrível, ainda temos que aprender muito. Austrália, Argentina, Nova Zelândia e EUA tem programas muito bem estruturados para abrir e manter mercados internacionais para seus produtos. Para se ter uma pequena amostra do que esses países fazem, acesse a seção Marketing da Carne do BeefPoint.
É forte a promoção e divulgação da carne feita por esses países. Divulgar atributos nutricionais, cursos e concursos para chef´s de cozinha, site especializados, campanhas para informar sobre a segurança alimentar da carne, lançamento de novos produtos. Além disso, todo o apoio legal e operacional é dado às empresas exportadoras. A participação em feiras é expressiva e já é uma tradição para esses países.
Argentina, que teve problemas com aftosa e está recuperando (rapidamente, diga-se de passagem) seus mercados perdidos, em parte para o Brasil, no ano passado. EUA e Austrália têm uma enorme gama de mercados abertos, sendo o Japão o principal, que paga os melhores preços.
A Irlanda, que teve problemas sérios com EEB (doença da “vaca louca”) hoje faz uma campanha muito forte de divulgação de sua carne, após implementar vários programas para assegurar a qualidade da carne, como garantir que a alimentação é de origem vegetal green fed. Hoje, mostra que tem um dos sistemas de produção mais seguros do mundo. E o Brasil? Nosso sistema de produção é natural há muito tempo. Talvez só falte fazer a certificação, mas a segurança nós já temos. E é incrível como não se sabe sobre isso no exterior.
Há pouco tempo atrás um especialista inglês do MLC (Meat and Livestock Comission) nos procurou perguntando: “Até que ponto sua carne é segura? Vários grupos aqui (Reino Unido) estão começando a divulgar que temos a carne mais segura do mundo, pois fazemos todos os controles possíveis. Eu acredito que temos uma carne extremamente segura, mas é difícil assegurar que temos a “mais” segura…”
Para esse especialista é muito fácil responder, mas quantos possíveis compradores espalhados pelo mundo não sabem, ou pelo menos não tem a certeza de que temos uma carne excelente, barata e segura?
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1Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP e coordenador do BeefPoint