Celso Boin
Notícias sobre frigoríficos estarem pagando menos pela arroba de novilhos cruzados em algumas regiões do Brasil têm ocorrido de tempos em tempos. Esse assunto já deveria estar superado há muito tempo, pois na maioria dos casos existem equívocos e em alguns até um pouco de má fé em termos de tentativa de baixar o preço.
Em primeiro lugar é preciso caracterizar o que é novilho cruzado para o frigorífico. Na prática o termo novilho cruzado tem sido usado para cruzamentos de raças européias de corte com raças zebuínas (Nelore), designado como cruzamento industrial. Novilhos provenientes de rebanhos leiteiros ditos mestiços (cruzamentos de raças européias de leite com zebuínos, com grande variação de grau de sangue) têm sido também denominados na prática de mestiços. Entretanto, muitas vezes esses dois termos têm sido usados indistintamente para os dois tipos de novilhos definidos acima.
O ponto é, quais seriam as possíveis explicações para o surgimento desse tipo notícia?
A principal explicação, sem dúvida óbvia, é que existem diferenças gritantes tanto em termos de qualidade como de rendimento de cortes comerciais entre as carcaças produzidas. É lógico esperar que os valores das carcaças apresentem variações em função tanto de qualidade como de rendimento de cortes comerciais. O principal fator que afeta qualidade é a maciez, determinada diretamente pela idade do animal, e indiretamente pela cobertura de gordura e manejo pré e pós abate. Quanto ao rendimento de cortes comerciais de uma determinada carcaça, fatores como tipo (corte ou leite), raças e acabamento estão envolvidos.
Aparentemente, as argumentações para frigoríficos de determinadas regiões desvalorizarem carcaças de novilhos “cruzados” seriam a falta de acabamento e o menor rendimento de cortes comerciais das carcaças desses animais.
Quanto à falta de acabamento, é fácil a verificação da argumentação, pois pode ser avaliada diretamente na frente do produtor. Entretanto, o método de remoção do couro pode de fato levar a subavaliar o grau de acabamento. A esfola deve ser feita à faca ou por outro apetrecho que faça serviço similar até a altura do cupim ou paleta, e em seguida ser aplicado o rolete. A aplicação do rolete logo abaixo da cauda do animal causa remoção de gordura afetando a avaliação do acabamento, diminuindo o peso da carcaça e aumentando o peso do couro. É claro que o efeito na avaliação do grau de acabamento é maior para os animais com menor acabamento. Além disso, não deixa de ser um mecanismo, planejado ou não, para equilibrar o valor pago ao valor arrecadado com a venda da carcaça e dos subprodutos do abate, incluído o couro. Um aspecto importante a considerar é que de fato tanto os novilhos cruzados provenientes de cruzamentos industriais como principalmente os novilhos mestiços provenientes de rebanhos leiteiros cruzados, podem apresentar deficiência de acabamento com muito maior freqüência do que novilhos zebuínos. A principal razão para isso está relacionada à densidade energética da dieta ou o peso de abate. A densidade da dieta propiciada por pastagens tropicais não é suficiente para proporcionar ganho diário para acabamento de novilhos cruzados e pricipalmente de mestiços com pesos similares a novilhos nelore. Isso também pode ocorrer em condições de confinamento quando se usa dietas de baixo valor energético.
Quanto ao menor rendimento de cortes comerciais, a verificação direta é mais difícil. Com base em dados experimentais, para um mesmo grau de acabamento, essa diferença seria pequena. Entretanto, é sabido que o grau de acabamento afeta o rendimento de cortes comerciais aparados para uma determinada espessura de gordura. Portanto, acabamento em termos de espessura de gordura maior ou menor do que a espessura de gordura dos cortes comerciais aparados, causa diminuição no rendimento desses cortes.
Como iniciar a diferenciação entre tipos de carcaças todo mundo está cansado de saber, isto é, um sistema de classificação e ou tipificação adequado funcionando.