O assunto de cruzamento para produção de carne bovina tem provocado muita discussão, com inúmeras opiniões tanto no espaço aberto como nas cartas enviadas. É claro que isso é muito positivo, pois tem permitido que cruzamento deixe de ser um assunto somente com opiniões de especialistas, passando pelo crivo de pessoas envolvidas diretamente no dia a dia da produção de gado de corte. Entretanto, essa discussão para ser construtiva tem que ser mantida com um nível mínimo de respeito às opiniões e convicções de todos os envolvidos.
Nosso objetivo em abordar esse assunto em comentário anterior foi o de provocar uma discussão construtiva sobre o papel do uso de sangue europeu na produção de gado de corte no Brasil Central Pecuário. Colocamos nossa posição de que embora temos plena convicção do papel preponderante do zebu, em especial do Nelore, como produtor de carne, tanto o uso de cruzamento como de raças sintéticas resultantes do cruzamento entre zebuínos e taurinos, quando usadas em sistemas de produção bem planejados em termos de nutrição, manejo, condições climáticas e de gerenciamento, podem contribuir tanto para aumentar a produtividade como para produzir carne com características específicas de qualidade para atendimento de diferentes nichos de mercado.
Como já comentamos anteriormente nesse espaço, uma das grandes vantagens do Brasil é possuir condições de produzir carne bovina com eficiência nas mais variadas condições de clima existentes em nosso território. Temos que usar essas condições, e o material genético disponível, para produzir carne bovina para atender tanto consumidores de diferentes níveis de poder aquisitivo, como para atender nichos de mercado existentes e a serem desenvolvidos.
Para ocorrer aumento de eficiência em qualquer atividade há necessidade da tão propalada necessidade de competição. Temos visto como fenômeno mundial o aumento expressivo do consumo de carne de aves. Felizmente, apesar desse grande aumento do consumo de carne de frango, que é altamente positivo em termos de nutrição e alimentação da maioria da população mundial, não foi observada diminuição significativa no consumo per capita de carne bovina, a não ser em ocasiões especiais, como nos surtos de BSE e de febre aftosa na Europa e de BSE no Japão.
Todos sabem que a principal razão do aumento do consumo de carne de aves, em que pese a propaganda um pouco enganosa dessa carne em detrimento da carne bovina, a verdade é que o grande aumento do consumo de carne de aves ocorreu principalmente devido ao baixo preço dessa carne ocasionado pelo grande aumento na eficiência de produção, pelo aumento na escala de produção e pela baixíssima rentabilidade que a exploração de frangos de corte propicia aos produtores. A padronização da produção de frangos é tão grande, que praticamente a mesma qualidade, o mesmo sabor e preços baixos são encontrados no mundo todo. É isso que pretendemos que aconteça com a carne bovina? Eu penso que não. A grande variação em termos de composição e sabor que as diferentes raças e seus cruzamentos, associadas a diferentes alternativas de produção, podem conferir à carne bovina, é um trunfo a ser explorado para, se não for possível aumentar significativamente o consumo per capita, pelo menos mantê-lo nos níveis atuais. Essa grande variação é também importante para abrir mercados e ou nichos de mercado com exigências específicas. Portanto, mesmo que o consumo per capita mundial não aumente significativamente, o Brasil tem condições de competição para aumentar grandemente sua participação no mercado mundial e portanto de aumentar sua produção carne bovina.
A discussão sobre uso de sangue europeu na produção de carne bovina no Brasil Central não deve e não pode enveredar para posições que envolvam paixão ou interesses econômicos imediatos, tanto por parte de criadores das diferentes raças como de consultores, mas para identificar quais são as condições nas quais ele pode aumentar os lucros dos produtores e propiciar a produção de carne que possa atender diferentes nichos de mercado.
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Seria muito benéfico se no momento produtores e técnicos dessem com o mesmo entusiasmo atenção à forma como a cadeia está organizada, não permitindo que paises com custos de produção de carne bovina mais elevado que da pecuária brasileira, seja ela marmorizada ou apenas com gordura de cobertura, abocanhessem a maior parte do mercado externo que embora represente pouco, atualmente é que vem dando sustentação para cotações mais firmes na maioria das praças brasileiras.