Mercados Futuros – 31/01/08
31 de janeiro de 2008
Embaixador apela por carne brasileira na OMC
6 de fevereiro de 2008

Decisão da UE sobre importações de carne bovina do Brasil

Considerações sobre a decisão da UE em restringir importações de carne bovina do Brasil e suas conseqüências para o futuro das relações comerciais entre UE-Brasil. A decisão da UE de restringir o número de fazendas brasileiras habilitadas para exportação ao bloco europeu para algo em torno de 300 foi recebido com grande festa pelos agricultores irlandeses, todavia eles ainda buscavam uma interdição total. Agricultores da Irlanda e em parte do Reino Unido trabalharam duro nos últimos anos para por fim a concorrência do produto brasileiro. Esta decisão abre caminho para uma nova fase nas relações comerciais entre Brasil e UE bem como nas relações com terceiros países. O governo, sua representação internacional, parlamentares, lideranças do setor e agricultores deveriam levar este assunto em uma profunda reflexão.

A decisão da UE de restringir o número de fazendas brasileiras habilitadas para exportação ao bloco europeu para algo em torno de 300 foi recebido com grande festa pelos agricultores irlandeses, todavia eles ainda buscavam uma interdição total. Agricultores da Irlanda e em parte do Reino Unido trabalharam duro nos últimos anos para por fim a concorrência do produto brasileiro. Esta decisão abre caminho para uma nova fase nas relações comerciais entre Brasil e UE bem como nas relações com terceiros países. O governo, sua representação internacional, parlamentares, lideranças do setor e agricultores deveriam levar este assunto em uma profunda reflexão.

O primeiro fato a ser considerado em nossa análise é o poder do lobby agrícola nas decisões políticas tanto regionais, nos países membros da comunidade, como europeu, em Bruxelas. A campanha “Ban Brazilian Beef”, encabeçada pela Associação de Agricultores da Irlanda, (Irish Farmers Association-IFA) e pela revista dos agricultores irlandeses (Irish Farmers Journal – IFJ) foi resultado de um longo trabalho e de uma organização institucional forte. Por diversas razões culturais e políticas, houve certa desconsideração por parte do Brasil sobre o potencial real desta entidade e de suas “revelações”, sobretudo, de maio de 2007 após uma Missão de Investigação não oficial realizada ao país.

O lobby agrícola e o apoio parlamentar

A IFA realizou duas visitas ao Brasil em 2006 e 2007. Estas foram a base da campanha de difamação. A segunda delas teve maior impacto com a edição de um vídeo e um relatório (muito bem elaborado) com as “verdades sobre a pecuária brasileira”. Com este material, os irlandeses ganharam apoio de importantes políticos, os quais, encontraram nesta campanha uma oportunidade única de crescer fortemente na arena midiática, lucrando com votos nas próximas eleições.

É o caso por exemplo, do ex-Ministro de Estado de Agricultura irlandês Liam Aylward, e atualmente membro do Parlamento Europeu. Também do jovem euro-parlamentar escocês Alyn Smith, do Scottish National Party (que ganhou as eleições de maio passado na Escócia), e do presidente da Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu, o agricultor inglês Neil Parish. Muitos outros políticos regionais e europeus igualmente abraçaram a campanha.

Estes e muitos outros políticos que defendem a interdição total da importação de carne bovina brasileira estão fazendo muito sucesso e certamente terão re-eleição garantida na próxima candidatura. A aliança agricultores-parlamentares pode ter sido um fator muito importante na decisão final européia. Este grupo por inúmeras vezes colocou o Comissário Europeu de Saúde Marcos Kyprianou na parede acusando-o de fechar os olhos para a “realidade da pecuária brasileira”.

Eles alegam igualmente, que os relatórios da Food Veterinary Office (FVO), órgão responsável pelas inspeções no Brasil confirmam um grande abismo existente entre o sistema de produção europeu “de elevados standards” e do Brasil com “grandes falhas”, as quais, colocam a agricultura européia em “sério risco de vir a enfrentar uma nova crise de febre aftosa caso o produto brasileiro não seja banido totalmente”. O Euro-parlamentar escocês Alyn Smith por exemplo, disse recentemente que se os agricultores da UE praticassem os mesmos standards de produção do Brasil estariam em prisão e seu gado seria jogado no lixo.

O lobby agrícola e o apoio de oficiais de agricultura

A campanha dos irlandeses teve um resultado tão eficaz que chegou a mudar a posição de grandes figuras políticas da UE em um espaço de tempo muito curto. Um bom exemplo foi o caso da Ministra de Agricultura da Irlanda Mary Coughlan, que até pouco tempo se recusou a aderir à campanha “Ban Brazilian Beef”, alegando que o tema era mais comercial que sanitário. Isso tinha gerado muita crítica dos agricultores irlandeses.

O relatório da IFA foi um grande passo na conquista da ministra, assim como da Comissária de Agricultura Européia Mariann Fischer Boel, diante das provas do vídeo e relatório apresentadas pela entidade sobre as verdades da pecuária brasileira. A Comissária de agricultura em uma carta enviada no início de julho expressou suas “preocupações” com base nos documentos apresentados pela IFA e que colocam a credibilidade da Comissão Européia em risco, segundo reportado na mídia. A Comissária solicitou maior atenção do colega Kyprianou sobre o documento apresentado. A Ministra de Agricultura irlandesa, Mary Coughan até então imparcial, finalmente mudou de posição (para satisfação de seus agricultores após longo período pressão).

A ministra chegou até mesmo a recomendar seus oficiais para que pressionassem por uma interdição total na reunião de 19 de dezembro do Comitê Permanente para Cadeia Alimentar e Saúde Animal da Comissão Européia (Standing Committee on the Food Chain and Animal Health – SCoFCA).

Comissário isolado na defesa do Brasil

O Comissário Marcos Kyprianou e sua equipe fizeram grandes esforços para defender o Brasil em inúmeras ocasiões embora isso tenha gerado muita discussão interna. O bom exemplo da defesa foram seus pronunciamentos em audiências nos parlamentos de países membros, nas reuniões com o DG Agricultura e no parlamento europeu. As provas podem ser encontradas nos relatórios dos encontros nas respectivas instituições.

Todavia os esforços, não puderam resistir mais aos ataques que em parte passaram do campo técnico para o político. O problema maior é que ficaram completamente isolados no tema e com poucos argumentos para rebater aos ataques, mesmo internos de muitos colegas oficiais da Comissão. Isso também (deve ser dito) pelo fato de que o Brasil não conseguiu lidar com os temas (pontos fracos) alertados em relatórios anteriores pelas inspeções da FVO.

O Brasil havia sido alertado em abril. Um outro aviso, foi dado em outubro na ocasião da visita do Ministro de Agricultura brasileiro em Bruxelas. A visita foi marcada também pelo “boycott” dos Euro-parlamentares ao encontro com o ministro.

Alianças estratégicas e uma grande bomba midiática contra o Brasil

Os agricultores irlandeses e escoceses utilizaram o verão passado para colocar em campo uma grande bomba midiática contra o Brasil. Um bom exemplo foi a visita do IFA a Edimburgo na Escócia forjando uma aliança estratégica com a Associação de Pecuaristas da Escócia (Scottish Beef Catle Association – SBCA). A SBCA lançou uma campanha de assinaturas (Brazilian Beef Petition), sobretudo no Royal Highland Agricultural Show solicitando interdição imediata nas importações da carne brasileira.

As táticas de ataques até então focadas nos diversos protestos realizados em frente de supermercados e lobby para implementação de legislação sobre origem de produto na rede de alimentação em geral (ambos com sucesso) evoluiu para um outro campo. Passaram a partir de então, a objetivar as instituições. Em junho a IFA iniciou seu lobby na Comissão Européia enviando o vídeo e relatório ao Comitê de Agricultura e ao Comissário de Saúde.

Em julho apresentaram as provas da missão de investigação ao Comitê de Agricultura do Parlamento Europeu que passa a apoiar a campanha. Alguns euro-deputados assinaram uma declaração conjunta solicitando interdição total imediata das importações de carne bovina do Brasil. Em Bruxelas também ganharam o apoio da Fairness for Farmers in Europe Association (FFE) e do COPA-COGECA força maior do lobby agrícola europeu. Também tiveram apoio de associações de consumidores como a “Food and Water Watch Europe”.

Lobby agrícola e os ataques às instituições

No final de outubro, os agricultores irlandeses liderados por Padraig Walshe, presidente da IFA, invadiram o escritório da FVO em Dublin exigindo a publicação do relatório da missão de inspeção realizada em março no Brasil e, que ainda não havia sido publicada. O relatório foi publicado logo após o incidente, no início de novembro, mesmo período em que uma nova missão de inspeção estava no Brasil. Este relatório de março e a visita de novembro foram a gota d´água para a decisão do Comitê Permanente para Cadeia Alimentar e Saúde Animal da Comissão Européia em dezembro.

A pressão da IFA foi tão grande que até mesmo o Comissário de Saúde foi acusado de negligenciar as preocupações dos relatórios da FVO. O caso foi levado ao Ombudsman (ouvidoria) da União Européia em agosto. Os irlandeses não estão plenamente contentes com as decisões de dezembro. A IFA exige que o relatório da missão de inspeção de novembro seja publicado o mais breve possível. Eles esperam usar o poder consolidado de seu lobby agrícola/político para exigir uma restrição ainda maior das importações, a dizer, o impedimento total. Estão confiantes de que o relatório de novembro deverá reafirmar novamente o que eles têm alertado (segundo artigos publicados na imprensa européia) e com isso teriam um motivo a mais para reforçar o pedido de interdição total.

Pressões contra o Brasil devem aumentar e novos vídeos/relatórios serão lançados

Certamente nos próximos meses, novas visitas e novos vídeos serão lançados. Pode-se dizer que este é apenas o começo. A próxima visita será de Neil Parish, presidente da Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu a convite do governo brasileiro. O Euro-parlamentar inglês, vai poder checar com seus próprios olhos as condições da pecuária brasileira. Um grupo de jovens agricultores escoceses igualmente visitou o Brasil, em dezembro, financiados pela Associação de Pecuaristas Escoceses (SBCA). Visitas como estas são certamente extremamente importantes. Todavia, deixam sempre uma “pulga atrás da orelha”. Levantam dúvidas sobre as reais intenções dos visitantes e de como a visita será reportada no retorno. Há também sempre o risco de se encontrar “algo a mais”.

Brasil precisa avançar culturalmente e politicamente para conduzir seu potencial agrícola mundial

O caso da carne brasileira na UE confirma mais uma vez que o Brasil deve fazer grandes esforços para finalmente avançar culturalmente e politicamente ao patamar necessário para conduzir e defender seu potencial agrícola mundial. Não há dúvidas de que os resultados de novas campanhas, ainda mais fortemente organizadas politicamente deverão criar empecilhos para demais produtos agrícolas do Brasil.

O país corre o risco de perder sua posição de prestígio em mercados de alto valor. Isso afeta significativamente os trabalhos de abertura de outros mercados de luxo como Japão e Estados Unidos. Restrições na UE, até então o melhor “carimbo no passaporte” do país, igualmente afeta sua imagem nas negociações com demais mercados desenvolvidos. Prejudicam também as relações com países atuais compradores como a Rússia e a China, entre outros grandes compradores brasileiros que aos poucos devem procurar outras fontes exportadoras.

A Rússia recentemente mostrou-se interessada em ter novos fornecedores mesmo na América do Sul. A Suiça, por exemplo, é outro país que poderá ser influenciada pelas decisões da UE.

Dificuldades para o Brasil, oportunidades para os concorrentes

Países tradicionais exportadores como a Argentina, Uruguai e Austrália devem lucrar com a redução de participação no mercado europeu. Estes três países anunciaram programas governamentais para estimular a produção. Mesmo que não tenham a capacidade competitiva do Brasil, eles possuem uma relativa boa imagem no mercado europeu (não estão na mídia com questões ambientais, trabalhistas e aspectos sanitários). O mercado europeu em torno de 400 a 500 mil toneladas ano não tem como ser ignorado ou mesmo substituído. Isso não apenas pelo seu volume, mas também pelo fato de que proporcionam boas credenciais aos países que ao bloco exportam facilitando abertura de novos mercados como dito anteriormente.

Além disso, é importante dizer que a UE deve aumentar sua dependência externa nos próximos anos com o aumento do custo da ração animal que inviabiliza a produção interna entre outros motivos. A Argentina, por exemplo, todavia seus problemas internos com restrições a exportação deve voltar mais firmemente no mercado internacional a partir de 2008, já que as eleições passaram, e o novo governo necessita agora fazer dinheiro.

Uma das melhores formas é a exportação, e por isso Senhora Kirchner deve reduzir restrições impostas desde 2006. Este assunto parece ser uma coincidência, mas pode ter sido também um dos fatores que ajudaram na tomada de decisão da UE em restringir o produto brasileiro já que o bloco trabalha importações de forma a equilibrar preços internos.

A liberação de exportação de animais com mais de 30 meses (majoritariamente vacas holandesas velhas) do Reino Unido em maio de 2006, após um impedimento de 10 anos certamente não foi apenas devido resultado de provas científicas sobre “redução de riscos sanitários”, mas também devido à escassez de carne no mercado europeu.

No quadro atual, o Brasil poderá voltar ao seu antigo posto de exportador (majoritariamente de Corned Beef na UE) em uma análise mais pessimista. Uma alternativa para equilibrar as perdas na UE é aumentar o consumo interno. Todavia, este está ligado ao aumento da renda no país (em parte pelo aumento das exportações agrícolas). Estamos, portanto, em um círculo vicioso.

Uma segunda alternativa seria abrir novos mercados, mas para isso o país necessita boa imagem internacional. Nesse ponto, ter o mercado europeu firme é essencial. As lideranças do setor e do Ministério da Agricultura devem entender que aparecer bem vestido com grandes stands e churrasco para convidados especiais em feiras agroalimentares é importante, mas não é tudo. Há necessidade de revisão da estratégia tanto no programa de promoção internacional, na representação comercial e na própria pecuária (produção, exportadores e agricultores). Há urgência por um programa de trabalho mais firme e contínuo por aqui, no dia-a-dia.

Conquistas e derrotas do comércio agrícola brasileiro

Assim como em 2005, o Brasil encerra um ano com conquistas no comércio agrícola, mas também derrotas que perpetuam as dificuldades do país em manter-se firme frente a seus clientes internacionais sobretudo aqueles mais privilegiados.

Em 2005, nesta mesma data, mais de 50 países haviam impedido importações de carne bovina do Brasil como resultado do outbreak de febre aftosa em outubro daquele ano. Em 2007, dois anos mais tarde, daquele “dezembro negro”, o país perde significativa participação no mais importante mercado de carnes com 27 países. O impasse pode gerar perdas em mercados ligados ao mercado interno europeu como dito no caso da Suiça onde o Brasil respondeu por 70% do total importado de carne bovina fresca/refrigerada em 2005. O Brasil inicia 2008 com perdas em vendas a UE e em sua imagem internacional (seja pelo resultado do lobby agrícola ou não).

Em 2007, tanto UE como Rússia “puxaram a orelha do Brasil” em temas similares ligados a sanidade animal. A China igualmente tem grandes preocupações. Certos países nem comentam sobre a possibilidade de importar do Brasil como relatado por um representante do USDA na versão original do vídeo apresentado pela IFA em Edimburgo na Escócia em Junho.

Uma grande reflexão rumo ao estabelecimento da Inteligência da Agricultura Brasileira

A situação atual, finalmente, exige que parlamentares, líderes do setor agrícola, do governo e diplomacia venham a fazer uma grande reflexão sobre o futuro do país no cenário internacional. Isso tanto pelas complicações advindas do poder do lobby agrícola/político diante da competitividade do agronegócio brasileiro, como por suas deficiências internas da agricultura e, pecuária brasileira, a serem melhoradas.

Temas como desflorestamento da Amazônia, direitos de povos indígenas, sustentabilidade da agricultura brasileira certamente serão manchete de jornais e estarão na pauta dos debates de parlamentares europeus. Maior impacto será constatado quando consumidores adotarem a campanha.

Em recente conferência em Oxford por exemplo, o diretor executivo do McDonalds no Reino Unido alertou agricultores sobre o fato de que 70% dos consumidores entrevistados mostram-se mais preocupados com os chamados Green issues ou “temas verdes”. E que estes deverão direcionar o futuro da agricultura britânica.

Os temas comentados acima colocarão empecilhos para que o Brasil possa um dia sair da condição de exportador de carne bovina para catering e food service (hoje maior destino das exportações para a UE) para que chegue um dia a ter seu “Boi Verde produzido no Pantanal, por um sistema extensivo em perfeita harmonia com o meio ambiente” nas prateleiras do luxuoso supermercado Marks & Spencer. Isso, lado a lado com o British Beef/Irish Beef produzidos à custa de danos ambientais, um rombo no orçamento da UE (e de seus contribuintes), um footprint elevadíssimo, com graves riscos sanitários, sobretudo em 2007, com Blue Tongue, Tuberculosis Bovine, Febre Aftosa, Swine Fever, Gripe
Aviária (e que perderam importância na mídia graças ao sucesso da campanha contra o Brasil!).

Por último, o impacto negativo no cenário global (subsídios/protecionismo) que contribuem para disseminar pobreza nos países do Sul. A situação atual de crise da pecuária brasileira na UE, traz em questão novamente, a necessidade de se avançar nas discussões sobre a criação de Escritórios de Agricultura e de cargos de Adidos Agrícolas estabelecendo-se uma Inteligência da Agricultura Brasileira no mercado europeu e demais mercados de interesse. O sucesso na discussão e implementação de estratégias neste campo é fundamental para que o país possa ter garantias de que a Agricultura Brasileira (responsável pelo surplus na balança comercial do país) venha a distribuir sua riqueza de forma mais igualitária tanto ao cofre do governo, grandes agentes envolvidos, e sobretudo aos agricultores, aqueles que batalham no dia-a-dia, “faça sol ou faça chuva” e que são os maiores prejudicados com grandes decisões tais como esta da UE.



Foto 1. Tenda da Associação de Pecuaristas da Escócia no Royal Highland Agricultural Show em Edimburgo, Junho 2007.

0 Comments

  1. Octávio Ferreira da Rosa Filho disse:

    Belo artigo que nos faz refeletir e olhar para os nossos próprios erros. Não basta ser grande, tem que saber bigar, e nesse quesito ainda somos muito amadores.

    Esse é um mercado pesado no qual incomodamos muitos interesses. Enquanto não tivermos uma representação firme, não nos organizarmos para cobrar por esta representação e principalemente fizermos a lição de casa (o básico) continuaremos a levar essa “surra”que estamos levando.

    Um país de dimensões continentais sucumbindo à um relatório de uma associação de produtores.
    Triste, mas é.

  2. Nilton P. Barbosa disse:

    Muito boa e lucida a matéria acima, fico pensando se não estaria na hora do governo brasileiro mudar de estratégia, ou seja, sair da defensiva e partir para a briga.

    Ontem eu ouvi de um pecuarista uma sugestão que me agradou: ele sugere que o nosso governo deveria aumentar a taxa de exportação para a UE e diminuir para os países que continuam importando nossa carne, esta medida poderia incentivar estes países a comprar mais os nossos produtos compensando a sobra qque teríamos com o embargo da UE. Mostraríamos para os europeus que eles não nos fazem tanta falta, aproveitaríamos o momento em que a oferta de carne no mundo é pequena, para mostrar que eles é que necessitam do nosso produto.

    Quando a carne ficar insuportavelmente cara, talvez eles voltem com menos exigências e aí sim, começaríamos tudo de novo sem rastreabilidades impossíveis de serem alcançadas.

    Esta na hora de dar mais valor ao que produzimos, temos a melhor e mais barata carne do mundo, com a diminuição do rebanho acredito que em pouco tempo somente o mercado interno consumirá toda nossa produção. Vamos exigir um pouco de respeito.

  3. Frederico Fick disse:

    Muito bom artigo Adriano. Parabéns! Você tocou nos pontos chaves dos desafios que temos à frente.

    A Noruega, país näo membro da UE, mas sanitariamente integrado à UE já seguiu as novas medidas da UE. O ponto ambiental é importantíssimo.

    Na Noruega já existem grupos extremamente articulados politicamente atuando fortemente na questão ambiental e vendendo a idéia da “inviabilidade agrícola” do Brasil devido a Amazônia. Espero sinceramente que nossos políticos e “decision makers” leiam seu artigo.

  4. Josmar Almeida Junior disse:

    Parabéns Adriano.

    A minuciosidade do transcorrer de toda novela é de se impressionar. Sem dúvida é digna do profissionalismo que conduz sua carreira, e é sobre profissionalismo que gostaria de enfatizar.

    Lendo o artigo pude observar que as restrições a carne brasileira não foram tomadas em uma mesa de boteco. Foram sim, tomadas com o profissionalismo pelas entidades de pecuaristas. Adianto que não pretendo discutir se foram razões políticas, econômicas ou sanitárias. Ou que estes nossos clientes conduzem ou não o seu sistema de produção conforme exigem de outros. Gostaria somente de salientar que eles obtiveram êxito.

    Profissionalismo!

    Inicialmente a rastreabilidade veio para “emperequetar” nossos bovinos. Lembro que ainda me encontrava em minha graduação, e imaginava que apenas os bezerros recém nascidos haveriam de ser “brincados”. Entretanto os brincos iniciaram sua carreira em animais para o abate, ou até mesmo nos porta luvas de caminhonetes e carros.

    Daí me surgia a pergunta, é rastreabilidade ou apenas brincagem! Pois o que entendo de rastreabilidade é o ato de rastrear o processo, o que infelizmente não ocorria. Ocorria apenas a constatação ou não do leite derramado.

    Imaginava um profissonal habilitado acompanhando o processo de produção daquela futura carcaça, e não apenas com o intuito de diminuir o risco sanitário, mas também para otimizar o sistema de produção tecnicamente e economicamente. Ou seja, profissionalismo.

    O novo modelo imposto pelo Sisbov, onde pelas minhas informações “deverá” ocorrer visitas de um profissional para obtenção dos dados do sistema de produção, e em que todos os insumos envolvidos no sistemas deverão também ser rastreados, pelos mais diversos processos de certificação de produtos existentes (ISO´S e BPF´S) é um ótimo caminho.

    Parabéns, se isto realmente ocorrer, e desejo profundamente que ocorra. É o caminho da profissionalização. Imaginem quantos profissionais estarão envolvidos no sistema de produção. Por quantos olhos profissionais nossos insumos e carcaças serão analisadas. Desta forma estamos sim caminhando para profissionalização.

    Demorou para enterdermos que não são apenas brincos e números que nossos clientes “chatos” e exigentes desejam, e sim profissionalismo na condução de nossa pecuária.

    Analiso que infelizmente a grande maioria das propriedades de pecuárias em nosso país não possuem sistema gerencial adequado para conduzir a rastreabilidade confusa e errônea que vínhamos conduzindo. Quem dirá neste novo formato.

    Precisamos nos profissionalizar.

    Abraços.

  5. Luiz Lahr disse:

    O seu artigo mostra com muita propriedade os nossos não acertos na condução da política externa para a carne bovina. Esperava-se que resultados negativos como esse não tardariam a acontecer face ao sistema complexo de rastreabilidade implantado pelo Sisbov, que é de extrema ineficiência e burocrático, parabenizo pelo artigo e externo minha opinião.

    Fomos penalizados pela nossa ineficiência ou pela incapacidade de reagir frente ao loby agricola europeu?

    A pecuária brasileira ainda infelizmente patina com a rastreabilidade pelas contantes modificações implantadas pelo Sisbov, gerando descrédito em boa parte de pecuaristas.

    Somos grandes, mas não os melhores, temos ainda muito que aprender,falta profissionalismo e sobra amadorismo. Pela cronologia de fatos usados pela IFA, desde maio de 2006 para montar sua aliança estratégica contra as nossas exportações de carne para a UE, o Brasil não acreditou, esperou e o que é mais grave não se posicionou e agora choramos a perda.

    Sabemos que os Lobys internacionais são fortes e que medidas protecionistas são utilizadas para minimizar suas ineficiências, mas sabemos também que temos que fazer nossa lição de casa e muito bem feita se quisermos retornar a mercados mais exigentes, não adianta prognosticar que pela falta de capacidade produtiva na europa a União Européia voltará até nós, não podemos esquecer que Argentina, Austrália, Uruguai são importantes alternativas de fornecimento e aguardam oportunidaes.

    Esse é o momento de reflexão e ação. O Brasil tem que ser mostrado como um país sério, com propostas sérias e não o país das CPIS, do desmatamento descontrolado, do meio ambiente agredido, da mão de obra escrava e outros quetais. A nossa obrigação é mostrar que somos fortes e que temos capacidade para atuar em mercados exigentes, para isso basta mais união e envolvimento de todos os elos da cadeia produtiva da carne.

    É pecaminoso uma exportação anual de 1,4 bilhoões de dólares ser jogada no ralo, principalmente estando por traz uma associação de pecuaristas da Irlanda que somando forças não representa um décimo da nossa capacidade produtiva de carne.

    Somos imbátiveis em tamanho de rebanho, em recursos tecnológicos, em custos, em extensão de pastagens, mas extremamente vulneráveis nas articulações e condução de políticas duradouras que envolvem o mercado exterior.

  6. Fernando Cardoso Gonçalves disse:

    Muito interessante artigo Adriano.

    Tenho algumas colocações a fazer. Em primeiro lugar, os europeus cansaram de avisar e alertar o que queriam e como queriam a carne para ser aceita com garantia de “segurança alimentar”.

    Todo o processo de rastreabilidade, cresceu e foi se aperfeiçoando de forma natural. Em 2004, quando os pecuaristas já tinham engolido o “sapo” de que seriam obrigados a rastrear todo o gado, o MAPA relaxou o SISBOV, deixando-o a deriva por um ano. Em 2005, houve interesse renovado por parte das autoridades (do MAPA) para irem a Bruxelas com uma delegação brasileira, e lá as autoridades falaram que o Brasil tinha apenas que cumprir o que havia dito que faria.

    1 – Quem determinou como a rastreabilidade seria feita foi o prórprio MAPA.

    2 – Quem não fiscalizou foi o MAPA. A delegação voltou com o rabo no meio das pernas!!

    Passando a frente, e considerando todo o cenário, temos que levar em conta que fazem parte da cadeia e do sisbov, o Produtor, o Frigorifico, a certificadora e o MAPA. Se um dos atores não fizer corretamente a sua parte, a rastreabilidade está comprometida.

    Dessa forma, não podemos esquecer que houve fraude por parte de produtores que não colocaram brinco nos animais, houve fraude por parte dos frigorificos que trocaram embalagens para dar origem de zona habilitada à carne para exportação, houve fraude por parte de certificadoras que criaram propriedades virtuais para bois eventuais, e tudo isso por falta de compromisso, seriedade e fiscalização rigorosa do Mapa.

    Mas temos dificuldades financeiras. O governo não amplia as verbas para o ministério. Então o governo sabe que tem culpa também!

    A atuação do MAPA após novembro de 2007(depois da última visita da UE no Brasil) foi igual a de uma criança no pré-primário.

    Não existe justificativa para tornar a obrigação de fazer o tema de casa bem feito em luta pró Brasil contra Irlanda. A situação não é essa.

    Desde o início da conversa da rastreabilidade, sabíamos que nada mais era do que protecionismo. A rastreabilidade é uma exigência protecionista. Não vai ser agora que vão levantar a questão. Temos que cumprir com a nossa obrigação sanitária!

    Dia 24 de dezembro, a UE publicou a resolução de penalizar o Brasil. Os Irlandeses, estão defendendo o que é deles por direito. E nós produtores brasileiros? Já fomos lá fazer vídeo, e divulgar uma situação de falta de condições humanas ou de mal trato de animais, como eles fizeram conosco?

    O Mapa tripudiou a UE. e teve que ouvir deles “nós não somos a Bolívia!”

    O MAPA atuou em parceria com o Ministério do Meio Ambiente onde a ministra, ao final de janeiro noticiou na Europa que a pecuária estaria avançando Amazônia a dentro!

    O MAPA atuou em conjunto com a mídia de rádio, TV e jornal, fazendo o maior alarde em função do embargo que a UE fez por causa dos 3% do que produzimos, como se o mundo fosse acabar agora e o Brasil ficaria abarrotado de carne.

    Tudo foi planejado!

  7. vacir P Oliveira disse:

    Embargo aos seus produtos, porque nâo taxamos seus produtos? Creio que o Brasil não tem políticos a altura para defender o agroneócio.

    Estamos no meio de uma tempestade e onde andam nossos líderes?

    Acorda BRASIL.

  8. Ataide Ramiro Campos disse:

    Não importa de quem é a culpa. Aconteceu. Vamos tirar os olhos do retrovisor. Temos que buscar a solução o mais rápido possível. E não será culpando esse ou aquele. Governos, federal e estaduais, Congresso Nacional, Assembléias Estaduais, Mapa, Abiec, CNA, Federações, Associações, Sindicatos, patronais e trabalhadores, produtores, técnicos, etc. vamos dar as mãos e decidir e executar.

    Isso executar! A gente planeja demais e executa de menos. Não estamos no fim do mundo não. Se o custo de produção de carne na Irlanda é 3 ou 4 vezes maior do que o nosso, como vão ganhar. Vai chegar o momento que o consumidor europeu vai brigar pela nossa carne. É só trabalhar direito.

    Toda derrota traz uma boa lição. Tenho fé que vamos ganhar mais essa. Lideranças e representantes dos produtores: vocês estão com a palavra. Busquem a união com os órgãos governamentais. Não é fácil às vezes. Mas não tem alternativa. Trabalhem juntos. Só assim chegaremos lá.

    Somos responsáveis pelo superávit da balança comercial. Somos o maior exportador mundial. Temos o segundo maior rebanho. Temos o boi verde. Será possível que o lobby de um paiseco como a Irlanda, com centenas de casos de “vaca-louca”, vai nos derrubar? Não que eu não admire a Irlanda, povo fantástico, em suas lutas seculares pela liberdade, mas eles não têm como nos vencer.