Os dados com as estimativas da área desmatada no bioma amazônico divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), referentes aos meses de agosto a dezembro do ano passado, colocaram a pecuária na berlinda. O setor foi alçado à posição de grande responsável pela retomada do crescimento do desmatamento, que, como confirmaria qualquer brasileiro, é um problema que não podemos mais deixar de enfrentar. Nesse caso, a pecuária tornou-se a vilã. No entanto, quando se analisa o comportamento da área de pasto nas regiões que não são fronteira agrícola, ou seja, fora do bioma amazônico, o título não cabe.
Os dados com as estimativas da área desmatada no bioma amazônico divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), referentes aos meses de agosto a dezembro do ano passado, colocaram a pecuária na berlinda. O setor foi alçado à posição de grande responsável pela retomada do crescimento do desmatamento, que, como confirmaria qualquer brasileiro, é um problema que não podemos mais deixar de enfrentar. Nesse caso, a pecuária tornou-se a vilã.
No entanto, quando se analisa o comportamento da área de pasto nas regiões que não são fronteira agrícola, ou seja, fora do bioma amazônico, o título não cabe. Os dados preliminares do Censo Agropecuário do IBGE, divulgados no final do ano passado, comprovam que a pecuária liberou enormes contingentes de terra que foram convertidos para produção agrícola. Contribuiu, portanto, para evitar novos desmatamentos, levando a um aumento da produtividade da terra. Nesse caso, cabe à pecuária o título de mocinha.
O Censo do IBGE, tal qual o levantamento do Inpe (embora os dados não sejam exatamente comparáveis), também mostra que a pecuária se expande na fronteira agrícola. Quando se faz um balanço entre o crescimento da área utilizada com pastagens na fronteira agrícola e nas regiões de não fronteira, observa-se que a pecuária liberou muito mais área (velha) do que abriu (nova). Em outras palavras, a conversão de terras de pasto pouco produtivo em produção de grãos, ou mesmo em pastos manejados, reduz o impulso de desmatar. Dessa perspectiva, no longo prazo, o lado mocinho da pecuária é mais forte que o lado vilão.
Assumindo que os dados do Censo não passarão por uma revisão significativa, em dez anos, entre os Censos de 1996 e 2006, na região de não fronteira agrícola – aqui definida como o território onde predominam os biomas da mata atlântica e dos cerrados (Estados das Regiões Sul e Sudeste, da Bahia, de Mato Grosso do Sul, de Goiás, do Tocantins e apenas a área de Mato Grosso que está fora do bioma amazônico) -, a área de pasto foi reduzida em 18,6 milhões de hectares (ou 186 mil km²). A área utilizada com lavouras anuais e permanentes, não por acaso, cresceu cerca de 17,6 milhões de hectares, mostrando que o crescimento da agricultura se deu em área de pecuária. Somando o espaço utilizado com pasto e lavouras, o Censo indica que houve queda de 1 milhão de hectares entre 1996 e 2006.
Já no bioma amazônico, aqui considerada a região de fronteira agrícola, que engloba uma boa parte de Mato Grosso e todos os Estados da Região Norte, com exceção do Tocantins, a área utilizada com pastagens aumentou 11,1 milhões de hectares. A expansão da área com lavouras foi de 7,6 milhões de hectares, resultando numa expansão total de 18,7 milhões de hectares. Esses números mostram que, embora a pecuária tenha, comprovadamente, avançado na fronteira agrícola, sua contribuição, liberando terra para produção agrícola, foi consideravelmente mais importante nas áreas de não fronteira.
Esta constatação enseja diversas implicações, sobretudo porque a pecuária é o setor que mais ocupa terra no Brasil. De acordo com os dados do Censo, há 172,3 milhões de hectares utilizados com pasto e 76,7 milhões utilizados com lavouras. A mais importante está em que, do ponto de vista do uso racional da terra e da redução da necessidade de incorporação de novas terras, a conversão de pasto em lavoura leva a um aumento da produção agrícola sem queda na produção da bovinocultura. Os 18 milhões de hectares na área de não fronteira representaram uma redução de 14% na área de pasto em relação a 1996. O rebanho bovino, por sua vez, caiu apenas 1,4% no mesmo período (o Censo de 2006 indica uma diminuição no rebanho de 1,6 milhão de cabeças). Isso significa que a pecuária apresentou, no mínimo, um ganho de 1,4% ao ano de produtividade. Ganho mínimo, porque sabemos que ainda existem relevantes contingentes de pasto degradado nesta região. Estimativas mostram que 20% dos pastos dos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás podem estar degradados, ou seja, não são mais utilizados como fonte de alimento para o gado bovino. Retirando cerca de 25 milhões de hectares de pastos degradados da área total de pastagem nesses Estados, o ganho de produtividade da pecuária passa a ser de 4,5% ao ano, certamente bem maior do que a maioria das lavouras.
Ganhos de produtividade, no entanto, não são prerrogativas das áreas de não fronteira. O Censo mostra que a pecuária da Amazônia também se tornou mais produtiva nos últimos dez anos, tendo apresentado taxa de crescimento da produtividade maior do que a observada nos Estados do Centro-Sul. Isso comprova que, nessa região, a pecuária é uma atividade viável e rentável. Portanto é uma forte concorrente na competição pelo uso da terra.
O desmatamento – e, mais grave, o aumento do ritmo do desmatamento – tem de ser combatido por todos os meios possíveis e eficazes, incluindo a ação fiscalizatória e repressora do Estado. Mas a melhor forma de fazê-lo é criar, na Amazônia, mecanismos já bem-sucedidos nas áreas de cerrado e mata atlântica: estimular ganhos ainda maiores de produtividade na pecuária e utilizar as terras já desmatadas para produção agrícola. Não descartaria também a criação de incentivos para estimular produtores a regularizar suas fazendas, mesmo que isto leve, num primeiro momento, a uma flexibilização das exigências de reserva legal.
No entanto, para que tudo isso seja possível, temos dois desafios fundamentais. O primeiro é reconhecer que a região amazônica precisa gerar riqueza e renda para sua população e a pecuária é parte da solução para vencer este desafio. O segundo é criar valor para a floresta em pé, balanceando a competição por terra entre agricultura e conservação.
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Prezado Sr Andre Nassar;
Parabenizando-o pelo oportuno texto,gostaria de acrescentar um dado que não pode ser relevado.
A fabricação de nosso mobiliario,de portas e janelas ainda não tem no Brasil uma alternativa economica e ecologicamente melhor.
Sómente com o plantio de espécies adequadas a esses fins,o que demandaria financiamentos a prazos muito longos e ainda inexistentes,poderiamos daqui a 30 ou 40 anos reduzir ou acabar com o desmatamento.
Sr. André Nassar
Envolvente o seu ponto de vista.
Além de pordutor de gado de corte, fui durante 23 anos madereiro aqui no norte de Mato Grosso, e sou reflorestador de Teca (Tctona Grandis) no município de Alta Floresta – MT, tendo feito o meu primeiro plantiu em 1996.
Gostaria de deixar público, o fato de que observando os pontos que o INPE, juntamente com o IBAMA, e o Instituto Chico Mendes divulgaram como desmatados entre agosto e dezembro de 2007, tem um dentro de minha propriedade, com área de aproximadamente 350 Ha (trezentos e cinquenta hectares), o mais interessante, é que esta área fica em cima de uma floresta nativa, e que nunca foi derrubada, portanto fica só a divulgação do fato, conclusão espero que cada um tire a sua, da maneira que achar mais conveniente.
Caro dr. André,
Também acredito nestes dois desafios citados no texto, pois se houver alguma exigência mercadológica ambiental, aí sim nosso amadorismo produtivo será revelado. Ainda possuímos o limitante social que é enorme na nossa produção agroalimentar nacional.
Porém a esperança é a última que morre, produtores e governos deveriam investir pesado na profissionalização produtiva, pois os recursos tanto finaceiros como ambientais estão cada dia mais escassos e a valoração do capital humano é um caminho sem volta.
Outro ponto importante é a informação, Brasil perde muito com crenças e manias, na produção agropecuária. Exemplo disto é o texto do empresário Antonio Francisco, que se intitula reflorestador na Amazônia, com TECA (espécie exótica).
Dentro de 50 ou 100 anos todos os países do mundo terão segurança alimentar e deixarão de pressionar o mercado mundial de alimentos para comprar arroz, trigo, milho, soja, frango, laticinios e carne bovinos.
Há dois principais fatores para que esses países tenham maior segurança alimentar: escolas primárias para todos e escolas agrotécnicas para todos os agricultores, de preferência em nivel do segundo grau.
Abraços.
Assunto apaixonante e por isso polêmico,a expansão da Pecuária de Corte para a Amazônia brasileira, merece ser avaliada e revista de forma séria.
Tem muito “gringo” ligado à ONG´S internacionais dando palpite no que deve ou não ser feito sobre esse tema.
Tem muito Fazendeiro que sabe que a fiscalização é precária, e dá mais um empurrãozinho prá derrubada da Floresta.
Tem uma Ministra do Meio Ambiente que se preocupa mais em debater milho e soja transgênica do que executar um plano viável e racional para evitar a devastação na Amazônia.
Na verdade o que esta Região precisa e pode é gerar riqueza!
Pergunto: um metro cúbico de Mogno ou Jacarandá vale mais ou menos que uma arroba de boi?
Será que não está na hora de estimular a exploração da madeira nobre de uma forma racional,planejada e com um compromisso firme em fiscalizar a implantação e execução desses projetos.
E o que dizer então das Plantas Medicinais?Sabemos que já existem inúmeros princípios ativos de medicamentos retirados de plantas da Amazônia que já estão patenteados por grandes laboratórios farmacêuticos internacionais!
Sem falar do látex extraído da Seringueira, Guaraná e outras frutas de alto valor no mercado internacional e que são nativas da Amazônia.
A mata equatorial pode se explorada economicamente sim.E com preservação.É só fazer um bom projeto.
Não precisa ser obrigatoriamente com grãos ou com gado.
Grato.
Não sou produtor de gado na amazônia pois tenho convicção de que o custo de produção de gado em terras mais férteis é muito mais lucrativo , mas gostaria de fazer algumas indagações: 1 – porque os EUA não assinaram o protocolo de Kioto? Porque não se propõe o reflorestamento da Europa e dos EUA ? Porque o fertilizante importado pelo Brazil não é subsidiado para baratear bem mais a produção em tarras já desmatadas (por exemplo , o fosfato importado acaba de aumentar o preço em 150 por cento mesmo com o dólar desabando ) Porque um trator vendido no Brazil tem a mesma carga tributária de um automóvel esportivo ( e as fábricas do Brazil são todas multinacionais ). Nesta discussao de Amazônia não há cordeirinhos, há somente lobos.
Queria deixar registrado para os leitores do BeefPoint, como produtor aqui no Mato Grosso (Juara), estão fazendo alarde falso sobre o desmatamento da região, a nossa ministra do Meio Ambiente, no seu trono de arrogância (sabe-se lá quais interesses nacionais ou internacionais) não quer reconhecer humildemente, que os dados do Inpe, agora conferidos em loco, pelo órgão responsável do governo, SEMA (secretaria estadual do meio ambiente) estavam errados, isso mesmo leitores, estavam errados.
Dos 523 pontos detectados pelo Inpe, apenas 6% (seis por cento) foram confirmados como desmatamentos, sendo que o resto, eram queimadas, pastagens degradadas, assentamentos e vejam só, até pequenas áreas de cerrados localizadas no meio da floresta. Por isso, podem acreditar sr. produtores, aqui produzimos gado, soja, e até madeira, sim, mas estamos tão ligados e preocupados com a Amazônia quanto vocês por ai.
Obrigado.
Gostaria de cumprimentar o Sr Paulo Mano, de Juara/MT, pela maneira clara e objetiva com que explicou a verdade do que se passa no Norte/Nordeste de MT, verdade essa que os maiores orgãos da imprensa tem ocultado, como o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, do qual sou assinante.
Ao Sr Gustavo Pivotto, de Imperatriz/MA, eu acrescentaria que o ex presidente, Fernando Henrique inviabilizou e forçou todos que já tinham iniciado seu trabalho agropecuário na Amazônia a operar em desacordo com a lei, ao restringir a exploração ao inviavel limite de 20%, lei essa (Decreto Lei) de discutivel conformidade com a Constituição.
A pergunta do mesmo sobre o que “essa gente vai fazer da vida” é de dificil resposta, pois essa gente, suas familias, são hoje centenas de milhares, e não gostam, têm ´”vergonha na cara”, de ficar pedindo esmolas, bolsas, cestas básicas e etc. ao Governo Federal ou às Ongs patrocinadas pelos Governos ou por estranhos intertesses estrangeiros.
Hoje estava ouvindo a radio Jovem Pan, e lá estava a modelo-atriz, Luiza Mel, dizendo barbaridades sobre a Pecuária na Amazônia, e também sobre a exportação de boi vivo para o Líbano, que foi uma salvação para o produtor do Pará, pois antes ficavamos nas mãos dos frigoríficos.
É por estas e outras besteiras que algumas pessoas completamente desinformadas tratam nós pecuarístas, agricultores e madereiros como criminosos, mas não deixam de usar suas bolsas e sapatos de couro que vem do boi, ou a madeira em suas casas.
Até quando vamos deixar que nos maltratem. Em Tailãndia no Pará tem gente passando fome por causa das ações do governo que fecharam serrarias e fornos, daqui a pouco vão fechar fazendas de gado. Aí eu também vou pedir uma bolsa-exprodutor rural.
Este tema é muito polemico, nós que moramos aqui e sabemos da nossa realidade contra o povo do sul e sudeste, contra países desenvolvidos contra ongs e muitos ambientalistas que nunca plantaram um pé de alface, pois bem como nosso amigo Paulo Mano falou tem pontos do Inpe, que aqui em Juara deram no meio de corregos! Então conseguimos até isto, desmatar no meio do corrego matrincha, tem lugares que era simplesmente ataque de cigarrinhas, pô o cara tá ferrado com seu pasto comido por cigarrinha logo depois de uma seca das mais brabas dos ultimos 25 anos.
Agora temos este decreto com prazo de 30 dias para fazermos uma coisa que se juntarem todos os tecnicos do Brasil levaria pelo menos 1 ano. Concordo plenamente que podemos melhorar em muito nossa produção de kg/hec ano e também podemos preservar nossa floresta, mas lembrem ela é nossa, nós pagamos por ela e nós mantemos ela em pé, qual é o pais do mundo que tem esta lei de preservar 80% de floresta? Ou 50% como era até alguns anos atras?
Pois bem, só nós temos floresta no planeta então paguem por ela tenho certeza que todos os donos de floresta vão cuidar de suas areas de mato, é simples, só que só nós que temos ela. Então vai custar alguns reais por hec ano para mantermos ela em pé.
Olha, o cara é um investidor no setor imobiliario eu sou um produtor de carne, derrepente baixa um decreto que só posso utilizar 20% da minha area produtiva e no setor imobiliario o mesmo o cara tem 10 apartamentos para aluguel, mas o decreto é o seguinte ele só pode utilizar 20% então alugue 2 e os outros 8 deixe fechado.
Só por curiosidade dos leitores, Juara-MT tem desmatado de seu municipio 30% o resto 70% esta em mata nativa floresta.