O estudo das inclinações e do progresso das raças, examinando a vocação dos animais para a pecuária, pode indicar a melhor utilização do potencial genético. Com a finalidade de conhecer a mudança ocorrida na população Simental durante a última quadra do século (1975 a 2000), foram usados registros de pesos e de pedigree dos animais, incluindo a “população base” desde a fundação, com os pilares nascidos em 1957. Os dados, cedidos pela Associação Brasileira de Criadores da Raça Simental (ABCRS), são atualizados em fluxo contínuo e já foram utilizados nas publicações de ABCRS/Sumários (1998, 1999, 2000 e 2001) e de Marques et al. (2000 e 2001).
Histórico: A raça Simental tem origem na Suíça, de onde comercialmente migrou (Séc. XVI) para a Itália, a França e a Alemanha, países nos quais se naturalizou e recebeu denominações específicas, como: Pezzata Rossa, Montbélliard e Fleckvieh. Por sua eficiência produtiva, explorada em múltiplas aptidões – leite, carne, trabalho e cruzamentos, a raça Simental foi logo difundida para todo o continente europeu. A partir do século IXX, tornou-se cosmopolita, presente em todos os continentes: América, Ásia, África e Austrália, como raça pura (Simmental) ou em cruzamentos com zebuínos ou outros (Simbrasil, Simbrah e Simbra). Os genótipos Simental podem ser explorados para produção de leite. Apresentam grande capacidade de crescimento, são dóceis e originalmente precoces, apresentando farta massa muscular, com boa qualidade da carne. A primeira importação realizada para atender o melhoramento do gado comum do Brasil, data de 1910, junto com outras raças continentais da Europa, em programa de fomento nacional. Naquela época e até meados da década de 1950, ocasião em que novas importações foram realizadas, ocorreram seguidas perdas, ocasionadas por doenças e inadequada alimentação, conseqüentes do incipiente modo de nutrir e cuidar da saúde animal. A associação de criadores (ABCRS), com sede em Cachoeiro de Itapemirim – Estado do Espírito Santo – foi fundada em 1963 para controle e orientação deste patrimônio genético da pecuária, com o aprimoramento iniciado a partir do resgate de um rebanho local.
Material e Metodologia: Registros de pesos, referentes ao controle de desenvolvimento ponderal (CDP) de 35 mil animais e da genealogia (55 mil), foram usados sob modelo animal para obter as Diferenças Esperadas de Progênies (DEP’s) e os coeficientes de endogamia (Fx), utilizando o programa MTDFREML (Boldman et. al., 1995). Os grupos de contemporâneos foram animais criados sob igual manejo alimentar, mesma idade, sexo, ano, estação de nascimento e fazenda, produzidos por vacas de equivalente maturidade. As principais características analisadas são: Peso ao Nascer, à Desmama (205 dias), ao Ano (365 dias), ao Sobreano (550 dias) e efeito Materno Total (corresponde à metade do efeito direto, somado ao efeito materno do peso à desmama. A tendência genética anual foi obtida pela regressão da DEP média de cada ano, em função do ano de nascimento.
Resultados: Períodos de cinco anos foram agrupados melhor interpretar o conjunto de DEP’s :
Observa-se que o coeficiente de endogamia apresentou pequena variação ao longo do período analisado (1975-2000), com média = 2,52 %. De acordo com a literatura ( Razook et al., 1997 e Marques et. al., 1998), trata-se de valor baixo, insuficiente para ocasionar qualquer interferência no crescimento de bovinos. O Gráfico 1 complementa a interpretação, indicando tendência declinante deste coeficiente de endogamia (Fx), a partir do segundo período, um provável resultado das novas importações de animais, sêmen e embriões da raça Simental, retomadas a partir de 1970 (Costa, 1981), emigrações que proporcionaram diversificação da raça e conseqüente redução dos acasalamentos entre parentes.
As DEP’s referentes aos efeitos diretos dos pesos ao Nascer e à Desmama, tiveram resultado bastante estável, ao longo de todo o período analisado, bem como a DEP para efeito Materno; todas apresentaram leve decréscimo no final dos anos 1980 e um sensível crescimento até nossos dias; destaca-se a evolução do efeito Materno. Deve-se também considerar, que o efeito Materno é uma característica de fundamental importância para os criadores, vez que parte da capacidade materna é transferida (imunidade, qualidade do leite, potencial de crescimento e higidez dos bezerros) para a produção econômica dos futuros reprodutores, conferindo uma desmama saudável para suprimento da saúde animal.
As DEP’s de Ano e Sobreano referem-se ao efeito direto dos genes do indivíduo, o qual se encontra em desenvolvimento. Para 1 ano de idade (365 dias), valores de DEP positivos são observados do início ao final do estudo. Houve regular progresso, pontualmente interrompido no final dos anos 1980 (período 3 – entre 1985 e 1989) e logo retomado com intensificação dos valores genéticos, favoráveis ao crescimento, em uma das fases mais importantes, em torno de 12 meses de idade, quando tourinhos, qualificados por DEP’s, são sujeitos ao comércio, remunerando melhor os criadores e estimulando a economia da pecuária de corte
A DEP Sobreano é obtida quando o animal atinge os 550 dias de idade e mostra, observando-se o Quadro e a Figura 1 que, durante a maior parte do período analisado, os valores foram negativos. O valor inicial é baixo, próximo a –1 kg, e pode ser atribuído à insuficiência de recursos técnicos – anos 1970, dado o desconhecimento, naquela época, sobre os processos de seleção nesta característica. Mas a partir da implantação do sistema de controle de desenvolvimento ponderal (CDP), pode-se verificar importante progresso e, atualmente, observa-se uma distinta evolução genética na precocidade sobreano da raça Simental.
No Quadro 2 está resumida a mudança média anual, condensada ao longo de todas as fases do estudo indicando, ainda, lento e regular progresso, entre os anos 1975 e 2000.
Verifica-se um ganho genético anual esperado, próximo a 15 gramas para o peso ao nascer; 100 gramas no peso à desmama e 600 gramas nos pesos de ano e sobreano. Para os efeitos maternos, o aumento anual esperado, encontra-se entre 2 e 30 gramas, respectivamente ao nascimento e à desmama. Frente aos pesos atuais, o ganho médio geral previsto, considerando o conjunto de características, ainda é baixo, pois está situado entre porcentuais de 0,2 e 0,3 % dos pesos vigentes na raça, tendência positiva, mas que deve melhorar nas próximas gerações de acasalamentos e seleção, tomando-se por base os Sumários com DEP’s – até alcançar as cifras médias de mudança anual esperada, entre 1 e 1,5% dos pesos médios da raça.
Com os resultados individuais a cada ano, publicados nos livros de Sumários e nos endereços www.simentalsimbrasil.com.br e www.gadosimental.com.br contribuem os pesquisadores para o melhoramento genético e cumpre a ABCRS de fomentar o aprimoramento da raça, orientando os associados e criadores de genótipos Simental.
Referências:
ABCRS / Sumários da Raça Simental para Touros, Matrizes e Animais Jovens.
Cachoeiro de Itapemirim, ES..Coordenação e análises: Luiz Fernando A. Marques (UFF
Niterói, RJ) e Henrique Nunes de Oliveira (UNESP/ Botucatu- SP). Sumários: 90 p. 1998,
1999, 2000, 2001.
Boldman, K.G.; Kriese, L.A., Van Vleck, L.D. et. al. A manual for use of MTDFREML: ,
set of programs to obtain estimates of variances and covariances. (DRAFT). Lincoln,
Department of Agriculture / ARS, 1995, 120p.
Marques, L.F.A.; Pereira, J.C.C.; Oliveira, H.N.; Fraga, A. Efeitos de endogamia nos peso,
pré-desmama da raça Simental no Brasil. In: Reunião Anual da SBZ, 35, SP, 1998. Anais..,
Botucatu, SBZ, 1998, p. 491-493.
Marques, L.F.A.; Pereira, J.C.C.; Oliveira, H.N.; Silva, M.A.; Bergmann, J.A.G.. Anális,
de características de crescimento da raça Simental. Arq. Brás. Méd. Vet. Zootec., v.52, n.5,
p.527-533, 2000.
Marques, L.F.A.; Oliveira, H.N.; Pereira, J.C.C.; Silva, A.L.S. Análises uni e bicaráter em características de crescimento da raça Simental. Rev. bras. Ci. Vet., v.8, n.2., p.65-128, 2001.
Razook, A.G.; Figueiredo, L.A.; Bonilha Neto, L.M.et al. Níveis de endogamia em rebanhos Nelore e Guzerá da Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho. In: Reunião Anual da SBZ, 34, MG, 1997. Anais…, p.148-150.