Por Lydio Cosac de Faria1, Pedro Alejandro Vozzi1, Marco Pinto Corrado1, Ana Rosa Zambianchi2, Raysildo Barbosa Lôbo1
Introdução
A pecuária bovina de corte do Brasil tem se mostrado, cada vez mais, uma atividade econômica de fundamental importância no agronegócio brasileiro e mundial. Projetando-se, com aproximadamente 21,6 bilhões de dólares na economia nacional do corrente ano, com uma produção de 1,1 milhão de toneladas de carne. Em termos mundiais, a pecuária bovina brasileira destaca-se sobretudo, pela sua inesgotável potencialidade de crescimento na produção de protéinas de origem animal (DBO, 2003).
Apesar da pujança do setor agropecuário com o Brasil, esses índices produtivos, colocarão o Brasil praticamente empatado na segunda posição de maior exportador mundial, junto com os Estados Unidos. A raça Nelore tem participação importante na cadeia produtiva da carne por representar 75% do rebanho nacional.
O germoplasma da raça é constituído pela contribuição genética de seis touros importados, com um aporte de aproximadamente 22% de seus genes nos rebanhos, sendo que o touro Karvadi é responsável por aproximadamente 11,66% (MAGNABOSCO et al, 1997; VOZZI et al, 2002). A utilização destas principais famílias pode contribuir no aumento da endogamia e com preocupante diminuição no tamanho efetivo da população presente na Raça Nelore (FARIA et al, 2002).
O conhecimento das informações do pedigree, tais como: coeficiente de parentesco, endogamia, número efetivo de fundadores e ancestrais, disponibiliza aos programas de melhoramento genético parâmetros importantes para diagramar o processo de seleção e acasalamento. Dependendo de tais parâmetros, metodologias adequadas serão aplicadas para maximizar os progressos genéticos e minimizar os efeitos da endogamia sobre a variabilidade genética.
O Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), desenvolve desde 1995, em parceria com as fazendas participantes, o projeto da Reprodução Programada de touros jovens (RP), o qual é um teste de progênie, que visa colocar em centrais de inseminação touros com idade entre 18 e 36 meses, com alto valor genético para características de importância econômica, promover sua multiplicação nos rebanhos, o que diminui o intervalo de gerações para aumentar a resposta à seleção. Determinar o parentesco dos touros selecionados anualmente com os principais genearcas, pode ser um auxílio importante na seleção dos animais a serem testados.
O presente trabalho teve como objetivo quantificar o parentesco genético aditivo de touros pré-selecionados da Reprodução Programada 2003 com genearcas nacionais de grande impacto populacional e avaliar a variabilidade genética presente nos touros testados no PMGRN – USP.
Material e método
De 25.500 machos nascidos no ano 2001 foram pré-selecionados 1164 touros que apresentaram DEPs positivas para todas as características utilizadas no PMGRN -USP e MGT igual ou superior a 1,13, oriundo de 106 fazendas.
Para a estimação dos coeficientes de parentesco, número efetivo de fundadores, ancestrais e genomas remanescentes, foi utilizado o software PEDIG e o Sistemas de Acasalamentos Otimizados (SAO).
O número efetivo de fundadores representa o número de animais com igual contribuição que produziria a mesma variabilidade genética encontrada na população estudada; o número efetivo de ancestrais representa o mínimo de animais (fundadores ou não) necessários para se explicar a total diversidade genética da população estudada; o número efetivo de genomas remanescentes representa o número de fundadores com igual contribuição que produziria a mesma diversidade genética da encontrada na população estudada e o coeficiente de parentesco mede a probabilidade de dois indivíduos ter genes idênticos por descendência determinada pela presença de um ancestral comum entre eles.
Resultados e discussão
As informações correspondentes ao número efetivo de fundadores e genomas fundadores foram: 89 e 32 respectivamente; Embora os dois principais ancestrais (Gim de Garça e Karvadi IMP) contribuíram com 14% de genes nos machos candidatos à reprodução programada 2003. Os valores obtidos referentes ao número de animais e genomas fundadores encontram-se acima dos dados encontrados na literatura,
Na Tabela 1 é apresentado o parentesco aditivo médio de sete geneárcas nacionais descendentes dos touros fundadores, com os 1164 touros pré selecionados da reprodução programada 2003.
Conclusões
O aumento do parentesco, observado nos últimos anos com o touro Ludy de Garça, pode ter conseqüências na redução da variabilidade genética aditiva, em decorrência da maior probabilidade de acasalamentos consangüíneos.
Implicações
O conhecimento da composição genética dos touros a serem testados torna-se de fundamental importância para a seleção nos testes de progênie, evitando o aumento da endogamia com conseqüente perda de alelos que podem ser importantes nas futuras gerações.
Agradecimentos: PRONEX-CNPq, CAPES, FAPESP, ANCP
Referências bibliográficas
FARIA, F. J. C; VERCESI FILHO, A. E; MADALENA, F. E. et al. Pedigree analisis in the brazilian zebu breeds. In: WORD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 7, 2002, Montpellier, FR. Proceedings.Montpellier, WCGALP 2002.
JOSE, M. Cenário para o agro continua “azul”. Revista DBO, DBO Editores Associados, Ano 22 – n° 271, Maio de 2003.p. 08-12.
MAGNABOSCO, C de U.; CORDEIRO, C.M.T.; TROVO, J.B de F.; MARIANTE, A da S.; LÔBO, R.B.; JOSAHKIAN, L.A. Catálogo de linhagens do germoplasma zebuíno: raça Nelore. Brasília: Embrapa-Cenargen, 1997. 52 p. (Embrapa-Cenargen. Documento 23).
SAO (Sistema de Acasalamento Otimizados) em desenvolvimento por pesquisadores da USP-RP, UNESP- Botucatu e Jaboticabal, EMBRAPA Cerrados, UFMG-Belo Horizonte e ANCP- Ribeirão Preto.
VOZZI, P.A.; BEZERRA, L.A.F.; LÔBO, R.B. Contribuição genética dos genearcas nos touros participantes do PMGRN-USP presentes nas centrais de inseminação. In: 11o Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores. Ribeirão Preto, dezembro, 2002.
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1Grupo de Genética e Melhoramento Animal e Computação – Departamento de Genética-FMRP-USP
2Coordenadora de Pesquisa da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores – ANCP.