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Coleta de dados: o primeiro, e mais importante, passo para a avaliação genética dos animais

Por Selma Forni1, Laila Talarico Dias1, Adriana Luize Bocchi1 e Ana Carolina Espasandin2

Obter de forma precisa dados dos animais a campo e repassá-los de forma correta para o sistema de gerenciamento do rebanho, que pode ser composto por programas computacionais sofisticados ou simples fichas de controle, é a base para se obter informações de qualidade, que fornecem subsídios para a tomada de decisões em uma empresa rural. Informações inconsistentes ou registros imprecisos comprometem a escolha de práticas de manejo, análises econômicas e avaliações genéticas.

Um programa de melhoramento genético é executado a partir de informações que são coletadas no campo; diversas características são medidas nos animais e variações no ambiente a que esses animais são submetidos são relatadas. A avaliação genética estima o quanto da medida tomada em cada animal foi determinado pelo efeito genético e quanto foi determinado pelos efeitos ambientais, portanto, erros cometidos na medida de qualquer característica ou na descrição das práticas de manejo comprometem todo o processo, e em algumas circunstâncias podem inviabilizar a avaliação dos animais. A seguir são apresentados um exemplo de como um erro na coleta de dados pode comprometer decisões importantes ao longo do processo de avaliação genética e sugestões simples que podem ser adotadas para evitar este tipo de equívoco.

Suponhamos um rebanho de gado de corte onde é feita seleção e uma das informações que são registradas são as datas de nascimentos dos bezerros. Em função de um erro de anotação, a data de nascimento do bezerro No 1208, que nasceu em 4/11/2002, foi registrada como sendo 4/12/2002, e a data de desmama foi corretamente registrada no dia 4/06/2002. Todas as informações coletadas sobre este animal foram enviadas juntamente com os dados dos animais nascidos na mesma estação para serem submetidos à avaliação genética. Em função dos registros fornecidos, a idade do animal No 1208 a desmama foi determinada como sendo 6 meses, entretanto o bezerro foi desmamado com 7 meses. Assim, o ganho de peso que este animal apresentou em 212 dias foi considerado como se tivesse sido alcançado em 182 dias, ou seja, o ganho médio diário do nascimento à desmama deste animal foi superestimado em função de um erro no registro de sua data de nascimento.


Se a característica ganho médio diário do nascimento à desmama, ou peso à desmama corrigido para uma idade padrão, for utilizada como critério de seleção, o valor equivocado atribuído ao animal No 1208 irá influenciar o resultado da avaliação, comprometendo as estimativas dos valores genéticos de todos os animais que estão sendo comparados. Um único erro nos dados de um animal, que poderia parecer pouco importante, pode alterar a qualidade da avaliação genética; uma sucessão de erros em medidas, ou registros, de vários animais pode comprometer todo o processo.

Com os atuais programas computacionais é possível identificar uma informação inconsistente em um conjunto de dados, aquelas que não condizem com características biológicas da espécie ou que são muito discrepantes. Se essas informações não puderem ser recuperadas de alguma forma nos registros originais, precisam ser eliminadas dos arquivos, o que pode tornar o resultado da avaliação menos preciso. Entretanto, os erros mais prejudiciais são aqueles que geram registros aparentemente corretos, valores que condizem com a realidade biológica e com o manejo dos animais, esses erros não podem ser identificados quando o arquivo de dados já foi encaminhado para análise. Nestas situações, as informações acabam sendo utilizadas e prejudicam o processo de avaliação, como no exemplo citado anteriormente. Muitas vezes esses registros equivocados são utilizados em análises futuras, afetando a avaliações de animais de várias gerações.

O primeiro passo para iniciar uma coleta de dados eficiente é a adoção de um programa de controle de produção através da identificação única e permanente de todos os animais; um número de identificação nunca deve se repetir, mesmo após a saída de animais do rebanho. Um exemplo de sistema que pode ser usado em qualquer propriedade é aquele em que a identificação do animal é composta por dois números: o ano de nascimento e um número seqüencial dentro de cada ano. No animal, o número de identificação não deve estar sujeito à perdas ou permitir dúvidas de interpretação no momento da leitura.

Por ocasião do nascimento, o registro correto do número da mãe e do pai, quando a paternidade for conhecida, é de fundamental importância, o conhecimento do parentesco entre os animais é essencial para a avaliação genética. É também no nascimento que se formam os grupos de manejo, todos os animais pertencentes a um determinado grupo necessariamente deverão receber as mesmas oportunidades até que novos grupos sejam formados, como por exemplo após a desmama. Informar corretamente o número do grupo de manejo de cada animal, em cada fase do ciclo de produção, é muito importante para o sucesso de um programa de melhoramento genético.

Sempre que se deseja melhorar características de produção, a coleta de peso dos animais é necessária. Em função de sua importância econômica e genética, as pesagens devem ser as mais exatas possíveis, assim devem ser utilizadas balanças de qualidade comprovada, as eletrônicas geralmente são mais rápidas e precisas.


Os animais devem ser pesados em jejum completo de 12 a 14 horas, isto porque os bovinos armazenam grande volume de líquidos e alimentos no aparelho digestivo que irão interferir no peso real dos animais se não forem eliminados antes da pesagem. Um procedimento que pode ser adotado consiste em recolher os animais no curral no final da tarde para serem pesados na manhã seguinte, impedindo o acesso a qualquer tipo de alimento ou água durante a noite. No caso de bezerros, os animais a serem pesados devem ficar separados das mães.

Os pesos e as demais informações devem ser registrados em formulários apropriados, que tragam o número de identificação dos animais e informações coletadas em períodos anteriores. A seguir, é apresentado um exemplo de uma planilha bastante simples que auxilia no registro de dados a campo.


Informações de qualidade derivam de uma coleta de dados de campo cuidadosa por parte de todos os envolvidos no processo. Os cuidados devem ser extremos também na alimentação do sistema, ou seja, na entrada dos dados vindos do campo para a base de dados do programa, ao passar pelos processos de digitação, conferência, atualização e consistência. Equipamentos computacionais de alto desempenho, métodos de pesquisa e avaliação genética modernos e sofisticados de nada servem se a qualidade dos dados analisados deixa a desejar.
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1Selma Forni, Laila Talarico Dias e Adriana Luize Bocchi são zootecnistas, mestres em Genética e Melhoramento Animal e alunas do curso de doutorado em Zootecnia da UNESP/Jaboticabal

2Ana Carolina Espasandin é engenheira agrônoma, mestre em Ciência Animal e Pastagens, aluna do curso de doutorado em Zootecnia da UNESP/Botucatu e professora da Universidad de la República – Uruguay

0 Comments

  1. Vagner Alves dos Santos disse:

    Gostei do trabalho, por ser uma das etapas do melhoramento mais importante. Sem essa, nada pode ser feito.