Em condições tropicais, o mais observado seria a ocorrência parcial do restabelecimento do peso através do ganho compensatório. Vários fatores vão atuar no crescimento compensatório, determinando a intensidade de recuperação de peso após restrição alimentar.
Idade de ocorrência da restrição alimentar
A idade de ocorrência da restrição pode explicar a ausência de compensação, ou a maneira como ela ocorre. Quando a restrição ocorre logo após o nascimento, os animais tendem a responder com pequena compensação no ganho, pois a restrição alimentar severa em idade jovem altera significativamente as taxas de ganho, podendo afetar também o peso adulto. Com isso, os animais atingirão o peso adulto em idade mais avançada. Morgan (1972) trabalhando com animais cruzados europeus, submetidos à restrição alimentar entre a 16 e 32 semanas, observou pequena compensação de ganho de peso da 32a semana até o abate, comparado aos animais controle. Já animais desmamados sofrendo restrição no primeiro inverno de vida, poderão apresentar compensação completa no verão subseqüente. Essa informação é bastante importante quando da utilização de “creep feeding”, indicando que para se manter a vantagem em desempenho obtida com esta tecnologia durante amamentação, os animais deverão permanecer em plano nutricional elevado após a desmama. Caso contrário, bezerros que não receberam suplementação durante amamentação, compensam parcial ou totalmente o menor ganho de peso desse período, inviabilizando economicamente o processo. Waldsworth (1988) comparou crescimento compensatório com ou sem suplementação para animais recém desmamados e de sobreano, e observou que para os animais mais jovens houve compensação completa, enquanto que para animais de sobreano a compensação foi parcial.
Cunha et al. (1984) avaliaram a suplementação durante amamentação, com recria a pasto e terminação em confinamento. Os dados da tabela 1 mostram que houve compensação parcial durante a recria, porém sem compensação durante o confinamento.
Tabela 1. Desempenho de animais Canchim suplementados ou não, durante amamentação com recria a pasto e terminação em confinamento.
Severidade da restrição alimentar
A severidade da restrição vai proporcionar períodos diferentes de tempo em ganho compensatório para o animal. Segundo Ryan (1990), esse é a principal influência da severidade da restrição sobre o crescimento compensatório. Scales e Lewis (1971), citados por Lanna (2001), obtiveram resultados em que animais com perda de 0,08 kg/dia tiveram 82 dias de crescimento compensatório, enquanto outros com perdas de 0,230 kg/dia, apresentaram crescimento compensatório por 180 dias.
Berge (1991) observou que, para animais acima de 6 meses de idade, quanto mais severa for a restrição, maior seria a compensação de ganho posterior.
Duração do período de restrição alimentar
O período de restrição alimentar está intimamente relacionado à severidade da restrição, sendo que, quanto maior a severidade da restrição, maior a influência do tempo de restrição sobre o ganho compensatório, aumentando o mesmo. Restrições pouco severas não tem influência do tempo de restrição, não afetando o ganho pós restrição. A duração do período de restrição afeta o crescimento compensatório, aumentando a taxa de ganho no período pós restrição, a medida que aumenta o tempo de restrição (Ryan, 1990).
Grupo genético
O grupo genético pode afetar o ganho compensatório, pois raças de origens diferentes apresentam composição corporal distintas, influindo nas taxas de ganho compensatório. Composição corporal distintas vão apresentar composição de ganho diferentes, sendo diferente a eficiência de deposição dos tecidos, afetando diretamente o crescimento compensatório.
Grau de maturidade
A maturidade têm influência direta sobre a eficiência energética e a conversão alimentar, afetando assim o crescimento compensatório.
A maior eficiência energética é alcançada quando o animal atinge 25% do seu peso adulto, diminuindo com o aumento de peso. Já a conversão alimentar, começa a declinar quando o animal atinge aproximadamente 30% do seu peso adulto (Thornton et al., 1979, citados por Lanna, 2001).
Conclusão
Os fatores descritos acima nos mostram a grande complexidade do crescimento compensatório em bovinos de corte, devendo-se ter muito critério na adoção dessa prática na bovinocultura de corte. Os inúmeros fatores influindo nesse “processo” poderão levar a prejuízos econômicos e aumento da idade de abate dos animais, se não houver compensação completa.
Referências bibliográficas
BERGE, P. Long term effects of feeding during calfhood on subsequent performance in beef cattle (a review). Livestock Production Science, v. 28, p. 179-201, 1991.
LANNA, D.P.D. Nutrição de bovinos de corte em ganho compensatório. In: III Seminário Internacional Nutron Sobre Nutrição de Bovinos. Campinas, 2001.
RYAN, W.J. Compensatory growth in cattle and sheep. Nutrition Abstracts and reviews. v. 60, p. 653-664, 1990.
CUNHA, P.G.; TUNDISI, A.G.A.; FIGUEIREDO, L.A. Manejo do Canchim para rápida produção de carne. Revista dos Criadores, n. 9, p. 60-64, 1984.
EUCLIDES, V.P.B.; EUCLÍDES FILHO, K.; FIGUEIREDO, G. R. ; OLIVEIRA, M.P. Suplementação a pasto com concentrado para produção de bovinos de corte. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 34., Juiz de Fora, 1997. Anais. Juiz de Fora: SBZ, 1997. v. 2, p. 22-38.
MORGAN, J.H.L. Effect of plane of nutrition in early life on subsequent live-wheight gain, carcass and muscle characteristics and eating quality of meat in cattle. Journal of Agriculture Science, v. 78, p. 417-423, 1972.
WALDSWORTH, J. A note on the effect of dry season feeding treatment on the subsequent growth at pasture during the wet season of Brahman steers. Animal Production, v. 47, p. 501-504, 1988.