A escolha da espécie forrageira a ser implantada em uma pastagem depende de uma série de fatores, dentre eles das condições de aeração do solo. Apesar da capacidade de adaptação das gramíneas tropicais a diferentes condições do ambiente, nem todas são tolerantes às condições de alagamento.
Haddade et al (2002) verificaram o efeito do período de alagamento sobre o desenvolvimento de Brachiaria decumbens, Brachiaria mutica e Setaria anceps. O experimento foi desenvolvido em casa de vegetação. As plantas foram cultivadas em vasos sob duas condições de manejo: com ou sem corte antes do alagamento. Os tratamentos testados foram: com ou sem alagamento por 10, 20 ou 30 dias. O alagamento foi imposto a partir de 45 dias após o plantio. Nos tratamentos com corte, este foi realizado um dia antes do início do alagamento. Foram feitos dois cortes de avaliação: 17 dias após o final do período de alagamento e trinta dias após o primeiro corte. As seguintes variáveis foram analisadas: produção de matéria seca de folhas, caule e material morto, comprimento e número médio de folhas do perfilho principal.
De modo geral, os autores não observaram diferença entre a resposta das plantas previamente cortadas ou não. A B. mutica foi considerada a espécie mais tolerante, pois não modificou seu crescimento mesmo nos períodos mais longos de alagamento. A S. anceps apresentou tolerância intermediária, pois teve seu desenvolvimento afetado nos períodos mais longos de inundação. Já a B. decumbens mostrou uma baixa capacidade de adaptaçãoà essa condição, reduzindo sua produção mesmo nos períodos mais curtos de alagamento (Figura 1).
Comentário: a escolha adequada da espécie forrageira é um dos primeiros passos para uma boa formação e manutenção do pasto. Apesar disso, a determinação da espécie a ser implantada é, muitas vezes, feita com base apenas em “modismos”, sem considerar suas características com relação à tolerância a fatores de estresse ambiental, capacidade de produção, exigência de manejo e objetivo do produtor. O experimento de Haddade et al. (2002) traz informações importantes sobre a capacidade de adaptação de algumas espécies ao alagamento. Os resultados obtidos pelos autores mostram claramente que a B. decumbens não deve ser implantada em áreas sujeitas ao alagamento, mesmo que por curtos períodos de tempo. A substituição de espécies forrageiras, sem que aspectos como este sejam considerados, pode levar a resultados indesejáveis. Em algumas situações, no entanto, as informações existentes sobre o capim em questão não são suficientes para a tomada de decisão. A pressão exercida por técnicos e produtores para o lançamento de novos cultivares faz com que, muitas vezes, estes sejam lançados sem que tenham sido suficientemente testados em diferentes condições. O trabalho de seleção de novos cultivares é extenso e deve ser feito com bastante critério, a fim de evitar prejuízos aos produtores.
HADDADE, I.R.; OBEID, J.A.; FONSECA, D.M.da; PEREIRA, O.G.; SILVA, M.A.P. Crescimento de espécies forrageiras tropicais submetidas a diferentes períodos de alagamento. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.31, n.5, p.1924-1930, 2002.