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Os equinos como produtores de carne

Por Fernanda Alves de Paiva1

No Brasil, a produção de carne de eqüinos, afastados do trabalho e da reprodução, tem aumentado nos últimos anos, tendo por destino principal a exportação. Sem dúvida, esta utilização subsidiária representa um estímulo a Eqüinocultura, pois os animais reformados devolvem assim parte do capital neles investido.

O preconceito contra a carne de eqüino torna o mercado interno inexpressivo, embora dispositivos legais permitam a sua venda para consumo público.

É interessante lembrarmos que na Europa, antes da Idade Média, os cavalos selvagens eram caçados, aproveitando-se sua carne e sua pele, mas a prevenção contra o consumo da carne de cavalo tem variado ao longo do tempo. Assim é que, na Europa, até a Idade Média, diversos povos a comiam a carne sem quaisquer restrições, até que o papa Gregory III, no ano de 732, com a finalidade de combater costumes pagãos, proibiu aos cristãos o seu consumo, assim como o da carne de lebre. Mais tarde, os cristãos foram acompanhados pelos judeus e islamitas. No entanto, desde o início do século XIX o preconceito contra a carne de cavalo vem decrescendo em diversos países e o seu consumo se expande durante os períodos de guerra.

Hoje, a carne de eqüino é consumida como alimento humano na Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Alemanha, Europa Central, Suíça, França, Itália e outros países. Na França, calcula-se que 10% da população eqüina é abatida anualmente para o aproveitamento da carne, da qual 1/3 vai para o consumo direto e 2/3 para a indústria de salsicharia.

Características da Carne

O sabor da carne de cavalo é um tanto adocicado, por sua riqueza em glicogênio, mas diminui com a idade do animal e varia com a raça e com o corte da carcaça.

A carne eqüina apresenta cor vermelha escura ou parda avermelhada, e suas fibras são finas e longas, de consistência firme.

Na Europa, a carne de cavalo tem crescente aceitação em salsicharias, por causa da atraente cor vermelha que dá à pasta e pela gordura escassa e fluída, que rodeia os feixes musculares sem misturar-se com as fibras. Pela riqueza em glicogênio, o músculo do eqüino dá uma pasta em condições excelentes de fermentação, sendo a mistura de carne de cavalo com carne de porco a mais empregada em salsicharia.

O rendimento de carcaça médio do eqüino é de 55%, variando de 40 a 50% nos animais mais magros e de 60 a 65% nos mais gordos. A proporção de ossos, em relação à carne, oscila entre 25 e 30%.

Os cortes de varejo são semelhantes aos da carne de boi, e os mais populares são: lombo, bife de filet, bife de anca e costelas. Os cortes de carne mais dura são moídos.

Além do preconceito, outro fator que dificulta o maior uso da carne eqüina é o econômico, pois é mais caro para o criador produzir carne de cavalo do que de bovino, ovino ou suíno, porque os animais destas espécies crescem mais rapidamente e engordam mais facilmente. Assim, é mau negócio criar e engordar eqüinos para destiná-los exclusivamente ao matadouro. Em contraposição, o abate de eqüinos imprestáveis é um aproveitamento fácil e vantajoso, não propriamente uma exploração zootécnica.

Situação mundial da produção de carne de cavalo

O país maior produtor de carne de cavalo é a China, com produção de 165,6 mil toneladas no ano de 2000. O México vem em seguida, tendo produzido 78,9 mil toneladas no mesmo ano.

Os países grandes exportadores de carne equina são Bélgica (28,9 mil toneladas em 2000), Argentina (28,9), Brasil (15,4), Canadá (12,6), e EUA (10,1). Os maiores importadores são Bélgica (33,1 mil toneladas em 2000), França (26,9), Itália (18,4), Países Baixos (12,2) e Japão (10,3). Nota-se que a Bélgica importa e exporta grande volume de carne, provavelmente este país deve comprar carne in natura e revendê-la processada.

Figura 1: Países maiores produtores de carne eqüina e sua produção no ano de 2000 (mil toneladas)

Figura 2: Países maiores exportadores de carne eqüina e volume exportado no ano de 2000 (mil toneladas)

Figura 3: Países maiores importadores de carne eqüina e volume importado no ano de 2000 (mil toneladas)

Situação brasileira da carne de cavalo

O Mercado Interno

No Brasil, a venda de carne eqüina é permitida por lei, mas o consumo é ínfimo, ao passo que o volume das exportações cresce continuamente, principalmente com destino ao Japão, Holanda, Bélgica e outros países europeus. Para atender ao mercado externo, que procura carne desossada, congelada e vísceras, ao mesmo tempo que o mercado interno, que absorve subprodutos tais como couros, ossos e crinas, em 2002 funcionam no território nacional 07 matadouros frigoríficos especializados no abate de equídeos, distribuídos pelos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco.

A fiscalização sanitária desses estabelecimentos é feita pela SECAR (Serviço de Inspeção de Carnes e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), no que se refere às instalações e à qualidade do produto, cabendo à CCCCN (Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional do Ministério do Exército) a parte normativa referente à preservação numérica do rebanho, de acordo com o Decreto no 61. 797/67. Em obediência a este dispositivo legal, a CCCCN baixou a portaria no 50, de 23/07/68, publicada no D-O-U de 01/08/68, disciplinando o abate de eqüinos para fins industriais, como medida indispensável à preservação do rebanho eqüino, estabelecendo normas para todo o território nacional.

Figura 4: Número de equinos abatidos no Brasil (cabeças)

Figura 5: Peso médio da carcaça de eqüinos abatidos no Brasil (Kg)

Figura 6:Toneladas de carne de eqüinos produzidas no Brasil

Preparação da Carne para Exportação

Os animais adquiridos, depois de devidamente inspecionados, são abatidos observando as normas regulamentares. Em seguida, guinchados pelos quartos traseiros, são submetidos à sangria e à decapitação e depois, à esfola. Logo as vísceras são retiradas e as carcaças serradas no sentido longitudinal, pesadas, lavadas e colocadas na câmara de resfriamento, sob temperatura entre 0 a 10° C.

Após o resfriamento, são retiradas da câmara, divididas em quartos, desossadas e acondicionadas em caixas de papelão revestidas internamente com polietileno, com peso de 30 kg, no caso dos eqüinos. Para a exportação, a carne é classificada em dianteiros (“fores”) e traseiros (“hinds”).

As caixas fechadas são logo encaminhadas ao túnel de congelamento rápido, sob temperatura de -6° C, onde permanecem por umas 20 horas. Finalmente, vão para as câmaras de estocagem, onde ficam até o momento do embarque e de onde saem com temperatura em torno de -18° C.

O transporte para o porto de embarque é feito geralmente em caminhão frigorífico.

Os diversos subprodutos e resíduos, encontram as aplicações que se seguem:
– Os couros, depois de submetidos à salga por uns 60 dias, são vendidos no mercado interno ou exportados;
– As tripas são vendidas a fabricantes de lingüiça. Em muitos países da Europa, as tripas de cavalo são muito utilizadas na indústria de salsicharia. O intestino delgado, por sua firmeza e porosidade, é considerado como o envoltório ideal para embutidos de primeira qualidade; o intestino grosso, devidamente preparado, é usado como envoltório para mortadela. O tratamento é o mesmo dispensado aos intestinos de boi. Na Alemanha, as tripas de cavalo são vendidas secas;
– O fígado, o sangue seco e algumas glândulas, são adquiridos por laboratórios fabricantes de medicamentos;
– As crinas são utilizadas por indústrias de escovas, pincéis e entretelas;
– Os ossos e os cascos, depois de moídos, são incorporados a adubos.

Conclusões

No Brasil, onde as possibilidades de aumento da produção das carnes bovinas, suína e de aves são enormes, não há sentido na criação de eqüinos somente para produzir carne. Todavia, o abate de animais inúteis, afastados do trabalho ou da reprodução, é uma medida aconselhável, por seus aspectos humanitário e econômico, pois assim eles são afastados do abandono e da fome na velhice, liberando grandes áreas de pastagens e possibilitando o aproveitamento da carne, do couro e de subprodutos diversos, que podem ser exportados ou absorvidos pelo mercado interno.

Não obstante o preconceito existente contra a carne de eqüinos, lembramos que a alimentação do brasileiro é em geral carente de proteína animal. E a carne de cavalo, bem mais barata que a de bovino, possui valor nutritivo equivalente e encontra bom emprego na indústria de salsicharia, assim como em rações para animais. Todavia, é de se esperar que o preconceito contra a carne de cavalo diminua com o esclarecimento popular, com o aumento da densidade demográfica e com o constante encarecimento das carnes de consumo tradicional.

Literatura consultada

ANCELLE, T. 1998 História de surtos de triquiníase associados ao consumo de carne de cavalo de 1975 a 1998 Eurosurveillance v.3 p.86-91.

BADIANI, A.; NANNI, N.; GATTA, P. P.; TOLOMELLI, B. MANFREDINI, M. 1997 Nutrient profile of horsemeat Journal of Food Composition and analysis v.10 p.254-269.
HOFER, E.; ZAMORA, M. R. N.; LOPES, A. E.; et al, 2000 Sorovares de Salmonella em carne de equídeos abatidos no nordeste do Brasil Pesquisa Veterinária Brasileira v.20 n.2 p.

TORRES, A. P. e JARDIM, W. B. 1979 Criação do cavalo e de outros equinos. 2aed. p.58-60, Livraria Nobel, São Paulo-SP.

WEYERMANN, F e DZAPO, V., 1997 Study on the post-mortem pH in horses Fleischwirtschaft v.77 n.12 p.1119-1121.

http://geocities.yahoo.com.br/equinosbrasil/oabate.html
www.agricultura.gov.br
www.boucherieduroi.com
www.cnpgc.embrapa.br
www.fao.org
www.melhorse.com
www.mhr-viandes.com

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1Fernanda Alves de Paiva é Zootecnista, pós graduanda em Qualidade e Produtividade Animal da FZEA- USP, Pirassununga, SP

5 Comments

  1. Carlos Eduardo Chiquetto disse:

    Parabenizo este artigo por mostrar a real situação acerca do abate de equinos no Brasil e no mundo. E também por esclarecer que o abate é regulamentado no Brasil assim como na Europa.

    O consumo da carne equina no Brasil, é uma questão exclusivamente de cultura que infelizmente tem como entrave o abate clandestino, que denigre a imagem dos produtos de origem animal.

    Esse descrédito sera superado somente com campanhas educativas e com artigos como este.

  2. MARTA MARIA B. B. S. XAVIER disse:

    Este é um assunto que deve ser abordado com mais constância, pois poucos têm conhecimento da existência e importância do mesmo.
    Como acontece a comecialização deste tipo de carne e seu valor nutritivo e do capital que gira em torno deste tipo de comércio.
    Talvez por falta de conhecimento da população ou por habito cultural…
    Mas um país como nosso, que é tão farto em fonte de proteínas, grãos, frutas, legumes, verduras, deixemos os eqüinos em paz!!!!

  3. Sandra Monteiro disse:

    Concordo com a Marta. Deixemos todos os equinos em paz!

  4. Andressa Suênia Ernestina da Silva disse:

    Parabéns pelo artigo. Informações bem embasadas.

  5. Léo M Pereira disse:

    Parabéns pelo artigo, e muito importante buscar outras alternativas, principalmente rica em proteína e com pouca gordura.