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Doses e vias de aplicação de luteolítico para sincronização de cio

A sincronização do estro, através da aplicação de agentes luteolíticos, como a prostaglandina-F2-alfa (PGF2-alfa), ou seus análogos, tem sido amplamente utilizada, tanto em casos de monta natural, inseminação artificial, como na técnica de transferência de embriões (TE), para qual é imprescindível. Trata-se de um método prático e que induz um estro de fertilidade comparada ao natural. Porém, um ponto de estrangulamento, principalmente na sincronização de estros entre doadoras e receptoras num programa de transferência de embriões, que utiliza em larga escala a aplicação destas substâncias, é o custo relativamente elevado dos agentes luteolíticos. Embora tenhamos assistido um aumento significativo no número de diferentes produtos comerciais para este fim, o preço dos mesmos permaneceu praticamente inalterado, a despeito da maior concorrência.

Na tentativa de redução de custos, tem-se buscado alternativas, para que o procedimento de sincronização não represente uma parcela tão significativa dentro dos custos totais de um programa de TE. Uma das práticas, amplamente difundida, e que não apresenta embasamento científico, é a aplicação de uma dose reduzida de luteolítico na vulva da fêmea a ser sincronizada. Existem trabalhos na literatura comparando eficiência de sincronização entre a utilização de uma determinada dose de luteolíticos via intramuscular, e a metade desta dose, aplicada na vulva. O efeito luteolítico de diferentes doses de análogos de prostaglandinas aplicados por diferentes vias tem sido documentado. Porém, estes resultados se baseiam no aspecto fisiológico do transporte de prostaglandina do útero para o ovário, pelo mecanismo de contra-corrente. A literatura relata que 0,3 e 5 mg de um determinado produto luteolítico quando aplicados diretamente no ovário ou no útero, respectivamente, foram tão eficientes em induzir a luteólise, quanto 30 mg deste mesmo produto, aplicado via intramuscular ou subcutânea. Estes autores nada citam da possibilidade de uma conecção vascular entre vagina e útero ou ovários onde uma dose reduzida pudesse ser utilizada quando administrada na vagina ou vulva.

Em vários trabalhos, a aplicação de dose reduzida na vulva apresenta uma eficiência semelhante à dose normal no músculo, indicando ser a vulva um local de eleição para aplicação destas drogas. Porém, a maioria destes trabalhos apresentam resultados meramente empíricos, pois nenhum deles define claramente qual seria o mecanismo particular de ação destas drogas quando aplicadas via vulva. Além disto, existe um erro grosseiro de metodologia, pois não é incluído um grupo de tratamento, onde se aplica a dose reduzida, também via muscular, para que se possa avaliar se realmente o efeito se deve ao local de aplicação ou a dose do produto.

Os objetivos do trabalho descrito a seguir foram verificar a eficiência da aplicação de dose reduzida de luteolíticos, via intramuscular e subcutânea na vulva, e comparar os resultados com a aplicação de dose normal, via intramuscular.

O experimento foi conduzido nas dependências da Agropecuária Santana da Bela Vista, no município de Elói Mendes, Sul do Estado de Minas Gerais, durante 4 meses. Foram feitas 240 aplicações de D-Cloprostenol sódico, (Preloban – Hoechst) visando sincronização de estro em novilhas mestiças Holandês X Zebu, utilizadas como receptoras, num programa de transferência de embriões. Os animais foram selecionados pela presença de um corpo lúteo em um dos ovários, detectável à palpação retal, no dia da aplicação do produto. As novilhas foram distribuídas aleatoriamente em três grupos. No Grupo A, os animais receberam 150 microg, via intramuscular de D-Cloprostenol, no Grupo B, 75 microg, também via intramuscular e Grupo C, 75 microg, na parede interna da vulva, da mesma droga.

Após a aplicação do produto, os animais foram mantidos em piquetes de capim Brachiaria brizanta, na presença de rufiões preparados pela técnica de aderência de pênis. A observação visual do estro foi feita diretamente nos piquetes, pelo menos 3 vezes ao dia, por um período não inferior a 20 minutos. O reflexo de imobilidade, foi o sinal considerado para determinação do estro, sendo anotados o dia e a hora do início do sinal em cada animal. Sintomas secundários como a monta nos demais animais, inquietação, edema e descarga de muco pela vulva, foram anotados e considerados como indicativo, principalmente para uma melhor observação dos animais que exibiam tais sinais. Somente foram considerados os animais que manifestaram estro até 96 horas após a aplicação.

As aplicações na vulva demandaram maiores cuidados de contenção, devido a reação dos animais. Cinco dos 80 animais do grupo C, apresentarem um ligeiro edema no local da aplicação.

Os resultados demonstram que não foram encontradas diferenças entre o intervalo médio aplicação-estro nos animais nos diferentes grupos de tratamento (Tabela 1. As variações no intervalo aplicação-estro podem ser influenciadas por várias variáveis, inclusive o dia do ciclo estral no qual o animal se encontra no momento da aplicação

Os animais do grupo A, que receberam 150 microg de D-cloprostenol, via intramuscular, apresentaram um melhor percentual de sincronização, em relação aos grupos B e C que receberam 75 microg do mesmo produto. Esta maior eficiência se deve provavelmente a maior dose, que promove concentrações plasmáticas do produto por um período superior.

Tabela 1: Eficiência média de sincronização e intervalo médio aplicação-estro de diferentes doses de D-Cloprostenol sódico aplicado por diferentes via em novilhas mestiças.

Vários trabalhos relatam o uso de doses menores de análogos da prostaglandina aplicada na vulva ou vagina para a sincronização de estro em bovinos. Porém nenhum deles descreve o mecanismo particular de ação deste hormônio por esta via. Para que uma determinada dose fosse mais eficiente quando aplicada via vulva, haveria a necessidade de alguma conecção vascular entre a drenagem sangüínea da vagina e vulva com a irrigação ovariana, para que o produto aplicado por esta via atingisse o corpo lúteo sem passar pela circulação sistêmica, o que não ocorre.

Esta conecção vascular existe somente entre o útero e os ovários. Não há, portanto, possibilidade de uma droga, quando aplicada via vulva, atingir os ovários senão via circulação sistêmica. Com isto, a aplicação de uma mesma dose de um produto na vulva ou músculo, terá a mesma eficiência, pois vão percorrer a mesma via para atingir o corpo lúteo e promover a sua regressão. Esta situação foi comprovada neste experimento, onde não foram observadas diferenças com relação a eficiência de sincronização entre os grupos B e C, que receberam dose reduzida (75 microg) no músculo e vulva, respectivamente (Tabela 1). Alguns trabalhos que encontram eficiência semelhante entre a aplicação de doses reduzidas na vulva e a aplicação de doses normais no músculo, pecam por não incluir um grupo de dose reduzida, por via intramuscular.

Bibliografia consultada

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  1. Felipe Cordeiro disse:

    Sou Médico Veterinário e criador de Brahman no Estado do Acre e a muito tempo eu gostaria de saber qual a verdadeira lógica para a aplicação de uma sub-dosagem de um análogo de prostaglandina via intra-vulvar. Sou graduado na Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente – SP, me lembro que em um dos meus estágios realizados por lá, eu tinha um professor que trabalhava com isso, pois a tese de mestrado dele era justamente este assunto.

    Nem assim, assistindo a sua defesa, eu consegui entender o porque dos resultados obtidos por ele, perguntou-se para ele e também não soube descrever de forma técnico científica o por quê dos seus resultados, fisiologicamente falando.

    Eu concordo plenamente com você, ainda continuo administrando nas receptoras a PGF 2 alfa, via IM e a dose recomendada, tenho tido bons resultados trabalhando desta forma, porém é aquele negócio, eu não me sinto seguro de forma alguma, mesmo com trabalhos publicados sobre diferenças em locais e doses, para eu poder mudar meu sistema de sincronização em nível de fazenda, onde também utilizo PGF 2 alfa em larga escala, tenho obtido bons resultados também, porém, tenho selecionado as fêmeas através de corpo lúteo presente e sempre utilizando 2 administrações, com intervalo de 11 dias.

    Bom, gostaria de parabenizar seu raciocínio também, achava mesmo que era somente eu que pensava dessa forma.

    Grande abraço e continue colocando estes arquivos, é de extrema importância para todos os técnicos.