A transferência de embriões é uma técnica recente, que se baseia na disseminação em maior escala do genótipo superior de uma fêmea. O Brasil tem o maior potencial do mundo para evolução da tecnologia de embriões. Possui o maior rebanho bovino mundial, existe uma grande demanda por animais geneticamente superiores, não há limitação territorial para criação de receptoras (como em outros países) e a tecnologia está totalmente dominada, com índices semelhantes aos de outros países. Estas condições colocaram o país na vanguarda mundial da evolução da técnica de transferência de embriões em bovinos, nos últimos 10 anos. Nas estatísticas de 2000 do IETS (International Embryo Transfer Society), o Brasil já figura como o 3o colocado em aplicação da técnica. Acredita-se que já em 2002 já alcançaremos o 2o lugar, pois o índice de crescimento da técnica aqui é muito superior á Europa, onde está a França, atualmente 2a colocada do ranking.
Antes de iniciar um programa de TE, a avaliação da doadora pode eliminar o risco de aborrecimentos futuros. É mais prudente atrasar o início de um programa, que arriscar os resultados com doadoras que não atendam os requisitos para tal. Deve-se ter em mente que a doadora é a fonte do material genético a ser multiplicado, daí a importância na sua seleção criteriosa. As características principais a serem consideradas são as seguintes:
Geneticamente superior: Precisamos entender a doadora de embriões como a fonte do material genético que se deseja multiplicar. Assim, cabe ao técnico uma avaliação cuidadosa do seu material de trabalho. Caso isto não esteja a seu alcance, é prudente o auxílio de uma pessoa capacitada para a avaliação das características zootécnicas deste animal, e principalmente para o acasalamento (touro mais apropriado) para o caso. Vale a ressalva que, quem vai parir é a receptora, e quando esta for novilha, o touro utilizado não deve produzir bezerros muito grandes (facilidade de parto).
Não apresentar anomalias congênitas e/ou hereditárias: Qualquer anomalia relacionada ou não à reprodução, que possa ter caráter genético e transmissível a progênie, desclassifica o animal para a reprodução e mais ainda como doadora de embriões, onde um característica indesejável seria disseminada com maior velocidade.
Histórico de boa fertilidade: A transferência de embriões não é alternativa para animais com problemas reprodutivos, pelo contrário, somente deve ser utilizada naqueles que possuem a fertilidade excelente. O levantamento da vida reprodutiva do animal deve ser realizado. Um aspecto muito importante é, se a futura doadora se encontra ciclando em intervalos regulares ou não. Esta variável, embora possa parecer banal, e o indicativo principal de quando vamos colocar uma possível doadora no programa de TE.
Trato genital compatível com a técnica e sem alterações: A coleta de embriões é feita por método não cirúrgico, ou transcervical, ou seja, o cateter de coleta é passado pela cérvix. As fêmeas cuja cérvix não permitem este processo, por serem muito pequenas ou tortuosas, não se prestam para doadoras. Também qualquer outra alteração, como infecções uterinas, vaginites e outras desclassificam a vaca ou novilha momentaneamente como doadora de embriões.
Boa condição corporal: Inúmeros trabalhos de pesquisa apontam os efeitos do escore corporal sobre a fertilidade de bovinos. Em doadoras, este efeito de expressa nos resultados da superovulação e também na viabilidade dos embriões coletados. É interessante um animal que não esteja magro nem excessivamente gordo. Numa classificação de escore de 1 a 5, o ideal seria um escore entre 3 e 4.
Livre de doenças infecto-contagiosas: Mesmo sabendo que algumas patologias podem ser controladas para os descendentes, através da transferência, animais que possuem doenças infecto-contagiosas com alguma relação com a reprodução, como brucelose, leptospirose, IBR e outras, podem apresentar piores resultados num programa de TE.
Fora de qualquer condição de estresse: Entende-se por estresse qualquer condição que na qual o animal não esteja em total conforto. Cabe ao técnico responsável pelo programa de TE, indicar o manejo adequado para as doadoras, visando minimizar estas condições. Os principais fatores são: o estresse térmico, pico de lactação em vacas leiteiras, problemas de casco e úbere ou outras patologias, nutrição ruim, mudança de ambiente, etc.
Outro fato importante a se considerar é que aproximadamente 30% das fêmeas bovinas não respondem satisfatoriamente aos protocolos convencionais de superovulação, portanto, mesmo preenchendo todos os requisitos acima, alguns animais não se prestarão á técnica como doadoras, pois o número de embriões produzido é economicamente inviável. A figura 1 mostra o resultado de trabalho com um grande número de doadoras de diferentes raças (1300 animais), onde podemos verificar as possibilidades das fêmeas bovinas colocadas num programa de TE, como doadoras.
Figura 1: Resposta ovariana e produção de embriões de vacas submetidas aos processos de superovulação e coleta de embriões (Donaldson, 1984).
Literatura complementar
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Interessante os seus comentários. Gostaria de complementar o item “geneticamente superior”, ressaltando esta característica como a de maior relevância no contexto geral para transferência de embriões. A seleção de doadoras através do seu índice genético, com forte seleção naquelas fêmeas com altas DEP’s nas características de interesse econômico, certifica o sucesso do programa de transferência. Afinal, não devemos esquecer que essa ferramenta aumenta a contribuição genética de certos indivíduos na população, e cabe a nós técnicos nos preocupar com o parentesco gerado para as próximas gerações.