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Certificação da carne bovina e bubalina x gerenciamento eletrônico

Pedro Paulo Pires1

O BeefPoint tem convidado vários especialistas em Rastreabilidade para escrever artigos relacionados ao tema, estimulando o debate e a formação de massa crítica sobre este assunto, que passou a fazer parte de nosso vocabulário há muito pouco tempo e que ainda embute muitas dúvidas. Nesta ocasião, o convidado foi o pesquisador Pedro Paulo Pires, da EMBRAPA, que nos trás a sua visão sobre rastreabilidade.

A segurança alimentar passou a ser uma das maiores cobranças do mercado internacional, competindo com a oferta e influenciando o preço.

Com as mortes de pessoas causadas pela doença de Creutzfeld Jacob (relacionada à ingestão de carne bovina com o mal da vaca louca) e a eliminação de milhões de cabeças de bovinos por causa da febre aftosa, países da União Européia ditaram novas regras do mercado mundial da carne.

Novas exigências estão sendo feitas para que a garantia da saúde seja o bem mais importante da alimentação. Estamos associando garantia de saúde com a qualidade da nossa carne.

O Brasil tem um dos maiores rebanhos de corte do mundo e as melhores condições de saúde nesse contexto, pois no País o uso de hormônios é proibido e há campanhas de controle da aftosa, brucelose e tuberculose. O risco de ocorrência da doença da vaca louca é inexistente, classificando o rebanho do País como livre desse mal. As criações são extensivas e as pastagens garantem o ganho de peso suficiente para o mercado atual.

Caso melhoremos as condições atuais, adotando manejos mais adequados já conhecidos, poderemos até triplicar nossa produção usando a mesma área. A pecuária necessita mudanças para manter seu status e conquistar mais mercados que buscam essa boa carne.

Visando essa evolução e adequando a bovinocultura aos novos padrões zootécnicos, a Embrapa Gado de Corte desenvolveu um sistema de precisão para a criação de bovinos. Associou e desenvolveu um conjunto de equipamentos eletrônicos e softwares que permitem manejar os rebanhos com velocidade e confiança.

Permite conhecer individualmente cada animal do rebanho, anotando suas presenças nos diferentes piquetes e seus pesos no campo. Certifica a passagem dos animais pelo brete, nas campanhas de vacinações, e relata, a qualquer momento e com informações em tempo real, os dados zootécnicos e gerenciais dos rebanhos. Pode-se avaliar, por exemplo, o ganho de peso diário de animais em confinamento, sem a necessidade de levar o rebanho aos mangueiros para as tradicionais pesagens; pode-se também garantir, por exemplo, que todas as bezerras da propriedade receberam a vacina contra brucelose, evitando os possíveis abortos devidos a falhas na vacinação.

Trata-se, portanto, de um sistema que busca melhorar a produção dos rebanhos, permite a identificação dos animais por ondas de radiofreqüência quando passam próximos de antenas (pesam cerca de 4 kg) e como são portáteis, podem ser instaladas em cercas, porteiras, corredores ou bretes. As anotações podem ser feitas por campeiros, sem a necessidade de conhecimento de informática, nem da presença do computador no campo, como se poderia imaginar.

Os equipamentos foram desenvolvidos para uso na chuva e poeira, não passando, o teclado do peão, de um pedaço de pano que pode ser feito em casa e de uma leitora, a prova d´água, alimentada por pilha comum, que tem um único botão (tipo liga/desliga) para evitar qualquer tipo de confusão pelo operador. Esses dois “equipamentos”, que somados os pesos não passam de 1,5 kg, podem ser colocados dentro de um pequeno saco e transportados na garupa do cavalo para ser usado em qualquer mangueiro por vários dias, permitindo milhões de anotações com uma precisão necessária para garantir o avanço que a pecuária nacional está alcançando.

Os preços não são altos se comparados com os benefícios e com o montante do capital investido na empresa de agropecuária. Basta dizer que, para instalar o sistema de gerenciamento eletrônico em uma fazenda de 1000 hectares com 1000 cabeças que, se estiver localizada no Brasil Central soma um capital mínimo de dois milhões e meio de reais, serão necessários aproximadamente doze mil reais.

Os equipamentos para leitura podem ser utilizados em mais de uma fazenda e os identificadores (chips eletrônicos) podem ser reutilizados. Como estes equipamentos não têm tempo de vida útil determinado, baratearão seu preço cada vez que forem reutilizados para a identificação e gerenciamento das novas gerações dos rebanhos.

Para o cadastramento dos animais, o SISBOV (Instrução Normativa 01/2002 de 9 de janeiro) permite o uso de qualquer tipo de identificador, desde que seja individual e confiável.

Portanto acreditamos que a escolha, pelos produtores, do sistema gerenciador dos rebanhos deve permitir, além da Certificação, aumentar a produção devido ao melhor controle de cada animal, monitorando seu desenvolvimento e analisando a lucratividade dentro do sistema.

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1Pesquisador da EMBRAPA Pecuária de Corte

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