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Péricles Salazar expõe a visão da Abrafrigo sobre a atual crise dos frigoríficos

Em entrevista ao BeefPoint, o presidente da Abrafrigo, Péricles Pessoa Salazar, comenta que é totalmente contrário à ajuda do Governo a frigoríficos, quaisquer que sejam. Ele aponta que neste momento o setor deve agir com cautela e prudência, procurando agregar valor a sua produção. E ressalta a luta da entidade para corrigir a distorção tributária do PIS/COFINS. "Não há muito o que fazer por enquanto. As coisas vão se acomodar naturalmente. Mas a crise ainda vai longe. De nada adiantará ajudar frigoríficos se todos os fundamentos e fatores que resultaram na presente crise ainda vão perdurar ao longo de todo o ano de 2009".

Péricles Pessoa Salazar, é empresário, professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná, Presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná e Presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO).

BeefPoint: As notícias sobre a saúde financeira dos frigoríficos são bastante pessimistas. O que a ABRAFRIGO está fazendo para que o setor frigorífico se fortaleça com essa crise? Qual o melhor caminho a seguir?

Péricles Pessoa Salazar: Primeiro, a nossa luta para corrigir a distorção tributária do PIS/COFINS é a mais importante. Segundo, estamos orientando os nossos associados a agirem com cautela e prudência neste momento. Terceiro, estamos recomendando que as empresas procurem agregar valor a sua produção, não apenas vendendo carcaças inteiras, mas sim vender cortes e buscar nichos específicos de mercado.

BeefPoint: O Governo começa a desenhar um plano de ajuda para o setor frigorífico brasileiro, através de novas linhas de financiamento. Você acredita que esta ação é a ideal para sanar o problema? Na sua opinião, qual seria a melhor saída para que o setor enfrente melhor a crise atual e se fortaleça?

Péricles Pessoa Salazar: O Brasil inteiro sabe de nossa posição: somos totalmente contrários em ajudar frigoríficos, quaisquer que sejam. Vivemos numa economia capitalista, onde os riscos são inerentes à atividade. A eficiência é premiada e a ineficiência penalizada. Sobrevivem aqueles que são mais conservadores e que enxergam longe. Aqueles que quiseram crescer meteoricamente, atropelando a tudo e a todos, devem pagar o preço por seus erros. É a lógica do mercado. Se tiver que haver socorro financeiro do BNDES, que estes recursos sejam obrigatoriamente redirecionados para o pagamento dos créditos dos pecuaristas.

Estamos defendendo que se o Governo quer ajudar frigoríficos, deve:

1) acertar o PIS/COFINS (ajuda inclusive os exportadores, pois estão vendendo mais no mercado interno);

2) financiar pecuaristas (ajuda frigoríficos, através de incentivos financeiros para retenção de matrizes e melhoramento genético do plantel).

BeefPoint: Desde o final de 2008 estamos acompanhando o agravamento dos efeitos da crise de crédito sobre os frigoríficos brasileiros, com retração nas importações, aumento da concorrência no mercado interno, recuo nos preços da carne e até inadimplência de clientes no exterior, prejudicando a geração de caixa das empresas. Quais são as perspectivas para o decorrer de 2009? Neste momento, quais pontos devem ser melhor trabalhados?

Péricles Pessoa Salazar: Não há muito o que fazer por enquanto. As coisas vão se acomodar naturalmente. Mas a crise ainda vai longe. De nada adiantará ajudar frigoríficos se todos os fundamentos e fatores que resultaram na presente crise ainda vão perdurar ao longo de todo o ano de 2009.

Só vejo luz no final do túnel por volta do início de 2010. Até lá, sobreviverão aqueles que souberam se proteger enquanto o sol brilhava. Os demais permanecerão na sombra até que, por suas próprias forças e iniciativas, sem as benesses de governo, mereçam voltar a ver o brilho do sol. Isto é, desde que não desapareçam primeiro. Infelizmente, o produtor pagará a conta e indiretamente os demais frigoríficos que enfrentam e continuarão enfrentando as naturais desconfianças dos pecuaristas.

0 Comments

  1. Alexandre Foroni disse:

    Prezado Péricles Pessoa Salazar,

    Todos sabemos que a margem líquida de um frigorífico é muito pequena, no entanto existe alguns frigoríficos que descontam do produtor o Fundo Rural e recolhem, já existem outros que descontam e não recolhem e também existe uns que descontam mas não destaca na nota fiscal, isso é não descontam oficialmente.

    Isso não gera uma concorrência desigual, visto que o Fundo Rural é 2,3% do custo do boi que representa ao redor de 80% a 90% do custo total do frigorífico tependendo da região?

    Como o senhor ve isso?

  2. Guilherme josé de Oliveira disse:

    Prezado Péricles Pessoa Salazar, quanto tempo será necessário para o governo rever e fazer o acerto do PIS/COFINS dos frigorificos? Pois esta medida vai beneficiar todos do setor, inclusive os pequenos e medios.

  3. Alberto Baggio Neto disse:

    Caro amigo Péricles Salazar. É sempre um grande prazer ler seus comentários tão esclarecedores e de uma visão muito grande.

    Suas sugestões acertivas nos confortam neste momento em que todos os segmentos da cadeia produtiva da carne bovina está “pagando um preço alto” por cometer erros no passado aliados à esta crise quase estrutural [ainda não é por enquanto].

    Continue nos brindando com seu conhecimento não só como Líder Sindicalista, mas sobretudo como ser humano sensível que é.

    Mando um abraço aqui de Maringá. Felicidades e sucesso.

  4. Péricles Pessoa Salazar disse:

    Prezados Alberto Baggio Neto, Guilherme José de Oliveira e Alexandre Foroni

    Primeiramente, peço desculpas pela demora. A agenda está complicada, com muitas viagens e compromissos. Mas nunca deixo de responder qualquer carta, e-mail ou correspondência que me enviam.

    Meu prezado amigo Alberto

    Recebi com muita alegria os seus comentários. Guardo com muito carinho aqueles nossos ótimos papos sobre a pecuária e economia. Tenho comigo uma carinhosa lembrança de quando iniciei a minha atividade profissional no setor. O teu pai Heitor, o Sr. Zyres, ajudaram a tornar mais fácil a minha caminhada. Que Deus os tenha. Quanto a você, meu amigo, um grande abraço e fico feliz em ter notícias suas. Sugiro que você participe mais dos debates, pois com o teu conhecimento das coisas da pecuária todos teremos a ganhar.

    Caro Guilherme

    Depois de 4 anos de luta para corrigir a distorção tributária do PIS/COFINS, parece que agora a solução está se desenhando. E isto só está sendo possível porque a crise desabou as exportações e as dificuldades também chegaram nos grandes. Logo teremos novidades a respeito.

    Caro Alexandre

    Esta questão do Funrural também está prestes a ser resolvida no Supremo Tribunal Federal. O tema é complexo e delicado. Muitas empresas conseguiram liminar na justiça e estão autorizadas a descontar e não recolher; outras não descontam e também correm o risco, pois descontando ou não são os responsáveis pelo recolhimento. O mais grave é o caso que você comentou, quando, sem liminar, existe a retenção mas não o recolhimento, o que caracteriza o crime de apropriação indébita. Não acredito que empresas legalmente constituídas façam isto, a não ser os clandestinos que nós também combatemos.
    Seja como for, com liminar ou não, este assunto precisa ter uma solução definitiva, uma vez que perturba a relação econômica produtor-indústria e, evidentemente, como você bem afirmou, gera a desigualdade de competição no mercado do boi vivo.

  5. Everaldo da Silva franco disse:

    Caro Péricles Salazar, entrei neste mercado de carne bovina a pouco mais de dois meses, sempre trabalhei com produtos onde ou voce é verdadeiramente profissional ou voce não sobrevive – ex. mercado automobilistico, consórcio, investimentos e etc.

    O que tenho reparado é que as empresas ainda estão de pé neste mercado, é porque o boi (carne) é um produto fora de série. Eu vejo que falta muita informação dentro da cadeia produtiva, falta muito profissionalismo nos departamentos comerciais, há uma carência muito grande de tecnologia nos frigorificos, uma ausência quase total na área de marketing e o que é pior poucos profissionais com conhecimento de varejo.

    Estou tatiando neste mercado. Venho estudando tudo que posso, lendo tudo que aparece. Já tô pensando até em comprar umas cabecinhas de gado. Sou vendedor a 30 anos e gostaria de saber como crescer neste mercado; como prosperar financeiramente e/ou profissionalmente.

    Grato

  6. Péricles Pessoa Salazar disse:

    Prezado Everaldo da Silva Franco,

    Primeiramente, agradeço pelo seu contato. Confesso que a sua abordagem me fez refletir um pouco antes de responder. Isto porque ela é diferente dos temas que normalmente estou acostumado a tratar.

    Você tem razão em muitos aspectos. Os frigoríficos brasileiros, com várias exceções, ainda se ressentem de uma administração mais organizada e profissional. Isto se explica por variadas razões, sendo as principais as seguintes:

    1) o dono do frigorífico é um self-made-man, de origem humilde e que não teve tempo para aprofundar os seus estudos;
    2) Via de regra, prevalece a tese de que se sempre deu certo, por que mudar?
    3) o ramo é contaminado por uma legislação tributária arcaica e deficiente, a qual estimula a atividade clandestina ensejando a competição desleal;
    4) ausência de visão estratégica de longo prazo, concentrando todas as energias na superação das dificuldades do dia-a-dia;
    5) extrema volatilidade dos preços do boi, da carne e dos diversos sub-produtos, gerando expectativas e incertezas quanto ao futuro próximo;
    6) a baixa rentabilidade do negócio impede investimentos em modernização, logística e inteligência corporativa;
    7) o setor frigorífico é atomizado sendo o preço da carne no mercado determinado pela oferta e procura, na maioria das vezes sem que no custo esteja incluído o ônus tributário, em razão da concorrência dos clandestinos;
    8) o oligopsônio dos grandes supermercados pressiona e achata a lucratividade da indústria, sem vantagens para o consumidor em função das altas margens por eles praticadas, inibindo o desenvolvimento da cadeia produtiva como um todo;
    9) a elevada inadimplência do pequeno varejo, ao lado da baixa rentabilidade, dificulta ainda mais a capacidade de geração de caixa necessária aos investimentos e
    10) a histórica desunião entre os elos da cadeia produtiva dificulta o diálogo com as autoridades, afetando a todos indistintamente.

    Mas, assim mesmo, com todos estes problemas, o setor é viável e extremamente dinâmico. Exatamente em função deles muito ainda há o que se fazer.

    Vence quem tem força de vontade, inteligência e lealdade para com os seus pares. O jeitnho e a astúcia desleal pagam os seus preços. O sucesso é fruto de muita dor e dedicação. Começar construindo a imagem de sério, disciplinado e útil é o primeiro passo para a prosperidade. O resto será consequência.

  7. Everaldo da Silva franco disse:

    Caro Péricles, eu agradeço as suas respostas, que para mim são de muita valia.
    Pretendo avaliar tudo o que foi dito, com o intuito de extrair informações e construir minha avaliação. Eu conclui meus estudo e a matéria que mais me atrai é o planejamento estratégico e pretendo fazer um trabalho neste sentido, voltado para o frigorifico, pois acho que é possivel termos frigorificos mais profissionalizados, com um sistema logistico adeguado, com CD aparelhado com bom nível tecnológico e usando as ferramentas de marketing para construir uma marca forte.

    Grato

  8. Regis Correa disse:

    Amigo Péricles só quem acompanha sua luta sabe o quanto tem lutado para que os governantes entendam que com este sistema tributario da industria frigorifica é impossivel sobreviver .Quantos amigos que começaram com a Abif , Vasco ,Plinio, Virgilio, sr Hamilton já falecido,Marcos Alexandre enfim, ficaria horas citando nomes de pessoas e amigos que deixaram a atividade que poderiam estar ai gerando empregos e ajudando o setor a se organizar.Vamos torcer para que realmente desta vez sai uma nova política tributaria para daqui um tempo está lista não seja lembrada com tantos nomes e tantas pessoas prejudicadas.

    Um abraço!