Por Alexandre Doria1
Para que a carne brasileira tenha maior receptividade no exterior faz-se necessário investir em mercadologia. Apesar de sermos fortes candidatos a “celeiro do mundo”, ainda temos muitos obstáculos a vencer, principalmente no que tange à carne bovina.
Isso não quer dizer simplesmente superar as barreiras fito-sanitárias que nos são impostas, tão pouco resolver o problema de rastreabilidade que tanto alvoroço tem causado ultimamente. Precisamos nos especializar. Quando a aftosa for erradicada, teremos que nos preocupar com alguma nova doença.
Rebanho saudável não é diferencial, é condição <>sine qua non para a comercialização da carne. Principalmente quando tratamos de negociações multilaterais entre vários países e sabendo que barreiras fito-sanitárias continuarão aparecendo, sejam as doenças tratadas relevantes para saúde humana, ou não. Não adianta tratarmos apenas dos pré-requisitos para a exportação da carne, precisamos ir além.
Mercadologia nada mais é do que o termo brasileiro para marketing, ou seja, é a lógica do mercado, a atividade de mercado transformada em verbo. Philip Kotler em seu livro, Administração de Marketing, destaca que, através deste conceito, a maneira para que as organizações tenham sucesso em seus objetivos é através da compreensão das necessidades e desejos dos mercados-alvo, para oferecê-las de forma mais eficaz e eficiente que a concorrência.
Ou seja, precisamos saber para quem queremos vender e o que eles querem comprar. Uma vez que determinemos este aspecto, resta a pergunta: nós temos como fornecer este tipo de produto com a qualidade desejada e em quantidade suficiente? Kotler ainda destaca que não adianta apenas descobrir quantas pessoas estão interessadas em seu produto, mas sim, quantas realmente podem comprá-lo. Quer dizer que, se descobrirmos que não temos uma carne competitiva para o mercado japonês, mas que seria muito bem aceita no mercado africano, teríamos problemas para escoar nossa produção devido à falta de força econômica por parte do continente-alvo.
É claro que, quando se fala em abastecer um mercado, não estamos falando em ações mercadológicas para um produtor apenas, por maior que ele seja. É necessária uma produção homogênea de milhares e milhares de toneladas de carne com as mesmas características e padrões de qualidade. Estamos falando de uma região do mundo deixar de consumir carne de um país concorrente para consumir de fornecedor(es) brasileiro(s).
É necessário então que uma entidade, seja ela uma associação de produtores com o mesmo padrão de produção, ou um frigorífico que se especialize em abater determinado tipo de animal, até mesmo um distribuidor que se especialize em comprar carne de determinado padrão de diversos frigoríficos diferentes, em algum ponto da cadeia produtiva o escoamento da carne desejada precisa afunilar-se.
Tal afunilamento tem que acontecer ainda no Brasil, ou através de empresas sediadas no Brasil. É um avanço, por exemplo, que tenhamos frigoríficos que dentro de seu portfólio tenha uma linha kosher para ser exportada para Israel, mas se o importador hebraico está comprando lotes de diversos frigoríficos brasileiros e distribuindo para os supermercados do país o poder de barganha está nas mãos dele, não dos frigoríficos nacionais.
As Alianças Mercadológicas, iniciativas que envolvem produtores, indústrias frigoríficas e supermercados trabalhando em conjunto para o fornecimento de carne de qualidade, têm despontado como uma alternativa para o problema enfrentado, apesar de ainda serem muito incipientes e experimentais. Quando tivermos Alianças Mercadológicas com massa crítica para atuar em um mercado como um todo, aí sim estaremos no jogo.
Esse é o princípio da coisa, a partir deste ponto, já teremos os produtos e os mercados-alvo. Daí em diante, é hora de começar a por em uso ferramentas e técnicas mercadológicas, tais como criação de marcas, propaganda, exploração de canais de distribuição alternativos, etc. Porém, antes precisamos organizar e segmentar a cadeia de produção da carne para atender mercados com preferências diferentes, tomando uma atitude pró-ativa, ao invés de reativa como temos feito ao longo dos anos.
Os membros da cadeia produtiva devagar vêm apreendendo essa lição e tal organização se dará de forma natural através da concorrência e do livre mercado, é claro que precisamos de uma ajudazinha do governo para manter esse mercado livre para os produtores, mas isso é uma outra estória…
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1Administrador de empresas formado pela ESPM, especializado em logística, pecuarista e membro do conselho da administração da Usina Itaiquara de Açúcar e Álcool S.A.