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E a polêmica contra o gado cruzado continua

Estive recentemente participando de uma reunião acontecendo durante a realização da Expointer e fui questionado por vários participantes sobre até que ponto essa coisa de penalizar o gado cruzado tem ou não fundamento.

Para início de conversa não tem fundamento. Esse movimento contra o gado cruzado surgiu em Goiás, onde uma significativa parte do gado enviado para o abate tem uma boa quantidade de sangue de gado de leite. Na minha opinião isso não é gado de corte e não tem nada a ver com cruzamentos de raças para corte, para produção de carne. Produz carne também e é importante para esse segmento da economia, só que com as devidas ressalvas.

Porém, com o forte movimento dos frigoríficos contrários aquele tipo de gado, fica a impressão de que todos os cruzamentos são indesejáveis. Disse-me ainda um dos participantes: – Mas tem até gente da Universidade apoiando a produção de carne a partir de raça pura.

Primeiro, talvez o nome mais apropriado fosse diversidade ao invés de universidade, e que bom que é assim, que existam opiniões contrárias, e que elas possam ser debatidas abertamente na busca da solução que seja a mais adequada para toda a sociedade. Já pensou se todos os professores fossem como um batalhão de soldadinhos de chumbo? Pensassem, comportassem e agissem como tal, não precisaríamos estar lá gastando recursos, quando um ou dois seriam suficientes, já que, certamente, seria tudo a mesma coisa.

Segundo, comecei a pensar sobre os cursos que havia feito de genética, melhoramento animal, produção, tentando encontrar onde foi que erramos, se é que erramos!

Fui conversar com os meus colegas professores da suinocultura e da avicultura, eu estava com uma dúvida. Com que raça de suínos ou de frangos de corte vocês produzem carne? Raça me disseram? Há muito que na suinocultura ou avicultura não se fala mais em raças.

Puxa vida, aí é que as coisas se complicaram. Será que aquela genética e melhoramento que aprendi para o gado de corte eram diferentes das usadas na produção de carne suína e frangos?

Tentei encontrar a resposta fora. Comecei a pensar no que acontece naquele país que tem a maior bovinocultura do mundo. Mais que 80% da carne produzida naquele país é oriunda do cruzamento das raças A e B. A raça B, maternal, significa para a pecuária deles, o mesmo que a vaca zebu aqui no Brasil. Devidamente ou não são reconhecidos como produtores da melhor carne do mundo. E, como se não bastasse, comecei a lembrar das verbas bilionárias que são gastas (lá no norte) com pesquisas nas universidades na busca de melhores cruzamentos, até em composto para a produção de carnes já se fala.

Aí é que a coisa complicou ainda mais. E agora? Eu preciso dar uma resposta para aqueles pecuaristas que estão em dúvida, que como eu também acreditaram que o cruzamento iria ajudar na produção de mais carne e de melhor qualidade.

Já sei: tudo não passa da irracionalidade dessa gente (ainda, lá do norte) eles tem muito dinheiro sobrando, não precisam mais de lucros, um rebanho colorido é mais agradável aos olhos.

Desculpem-me minha gente, a genética que aprendi ainda não mudou. Será que mais uma vez, após alguns anos vamos ter que dizer: ah! não era bem assim?

0 Comments

  1. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Meu caro Albino:

    Ao comentar o gado cruzado, você ironiza com uma pergunta: “Será que mais uma vez, após alguns anos vamos ter que dizer: ah! não era
    bem assim?”

    Acho que não é mesmo! Durante recente estágio em frigorífico para reciclar e atualizar informações, ouvi o seguinte, em palavras aproximadas: “Nós temos que trabalhar com padrões uniformes. Com Nelore conseguimos obter milhares de carcaças igualadas, com boa cobertura e pouca banha entreverada e sebo abdominal.

    Os cruzados são um problema: às vezes querem vende-los ainda jovens demais e não apresentam acabamento; outras vezes chegam com excesso de gordura que as donas de casa recusam porque foge do padrão com que se acostumaram e que, se reduzida por limpeza, os criadores reclamam.

    Nas exportações é o mesmo, pois estamos criando um mercado de carne enxuta (lean), e temos mercadoria para oferecer em grandes volumes graças à raça Nelore.”Portanto, não é só uma questão de cruzados de raças leiteiras. Nem tão pouco os americanos são tão ricos que podem se dar ao luxo de escolher a cor do gado; é que lá, bem ao norte, eles preferem gado gordo com carne marmorizada que qualquer taurino, cruzado ou não, oferece quando engordado a milho; uma questão de padrão e de preferência do consumidor.

    Não pretendo contestar os criadores gaúchos, nem os especialistas. Mas ouso sugerir a todos um “retiro espiritual” olhando carcaças e se informando da mercadologia da carne. Um bom abatedouro muitas vezes ensina mais que as exposições, pistas e premiações.

    Com o apreço de sempre, envio meu cordial abraço.

  2. Albino Luchiari Filho disse:

    Resposta do Prof. Albino Luchiari Filho

    Caro Dr. Fernando,

    É sempre com muita satisfação que recebemos seus comentários, principalmente quando se trata da opinião de um profissional com a sua vivência e experiência.

    No recente episódio sobre os cruzamentos, fomos o único a “dar o nome aos bois” citando a importância da raça Nelore (publicado em várias revistas) no processo de produção de carnes, porém, sob nossa ótica, na inexistência de uma raça ideal, (ideal para quê?), o cruzamento de raças pode ser uma ferramenta no auxílio ao produtor na melhoria da produção.

    As raças zebuinas com todos os seus pontos fortes, apresentam ainda, duas características de qualidade que necessitam ser melhoradas. O problema da maciez e a ausência de marmorização, no atendimento do grande mercado doméstico, são, na minha opinião, AINDA irrelevantes.

    Não sendo assim para o mercado importador de carnes que valoriza estas características. Acredito que, com as devidas ressalvas, a mais importante delas, aquela de que cruzamento não é a solução para todos os problemas da pecuária, a utilização de cruzamentos, quer pela utilização racional, sem paixão, da complementariedade, quer pelo aparecimento do vigor hibrido, também chamado de heterose, dentre outras, sempre será uma ferramenta importante utilizada pelo pecuarista na produção e melhoria da eficiência e qualidade da carne bovina.

    Receba um grande abraço

  3. Bruno Ceolin da Silva disse:

    Sou zootecnista e estive recentemente na região do triângulo mineiro conduzindo meu experimento de mestrado. Tive que negociar a venda dos animais para os frigoríficos da região. O que está acontecendo realmente é um desconto na arroba para boi “cruzado” ou mestiço. Aquele oriundo de rebanhos leiteiros que normalmente apresentam menores proporções de cortes nobres e carne de qualidade inferior.

    Não podemos confundir com o cruzamento industrial, onde se conhece o grau de sangue dos animais e o cruzamento objetiva melhores ganhos, precocidade e carcaça de melhor qualidade.

    Porém, alguns frigoríficos estiverem praticando boicote a esse tipo de animal, trata-se então de uma insanidade. Os frigoríficos não podem generalizar e fixar preços de compra somente pela cor do animal. Se é preto ou malhado é um preço, se é branco outro. Acredito que a nossa pecuária já se encontra em um estágio de evolução onde não podemos aceitar esse tipo de prática.

  4. ALEXANDRE TEODORO DE RESENDE disse:

    Para obter melhores resultados no que consiste em terminaçao de carcaças, rendimentos, resultados, lucros. creio que seja disto que estamos falando, a industria deve pagar melhor pelo tipo de carcaça desejado, e menos pelo que tem um mercado de menor valor.Habitualmente os frigorificos voltam a penalizar o produtor que tem sido o grande explorado do mercado mais uma vez . Muitos padroes que valem mais sao pagos a preços comuns, mas e incrivel como se lembram de pagar sempre menos pelo que nao atinge a excelencia.Mudem essa politica e verao o potencial do produtor em melhorar.me esqueci de um detalhe, a carne magra que e discriminada emcertos mercados esta se tornando excelencia em outros, depois que se tira o couro todas sao vermelhas e saborosas,preconceito nao vale.

  5. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezado Sr. Albino Luchiari Filho

    Pois é… uma frase repetida muitas vezes, mesmo que não represente a verdade torna-se verdadeira… é o Marketing da ABCZ… para quem propaga que o único animal adequado a Brasil seria o Nelore…

    Produzi animais cruzados com base inicial Nelore (Fêmeas), testei 16 raças taurinas sobre fêmeas Nelore, sobre as F1, testei taurinos puros, e adaptados, além de compostos com 25% de sangue Nelore, além de voltar Nelore nas F1…

    Todos os cruzamentos efetuados, produziram filhos com melhor desempenho que o Nelore x Nelore… tanto à desmama, quanto ao desempenho reprodutivo e abate… e isso no cerrado do centro-oeste, Tres Lagoas – MS, com Brachiárias e Mineral Branco…

    Até o cruzamento realizado acidentalmente com um Touro Holandês (não puro) de um vizinho que pulou a cerca e cobriu em 3 dias 15 fêmeas, produziu animais com melhor desempenho que os 100% Nelore.

    Veja estatísticas destes cruzamentos em agrocestalto.com.br (registros de 9.500 nascimentos),onde eram aproveitadas de 50 a 70% das fêmeas nascidas na propriedade…

    Puro Terrorismo, para que os criadores não experimentem nada diferente do que êles querem…

  6. Rogério Baptista disse:

    Concordo plenamente com o Sr. José Manoel de Mesquita. E tem mais, a carne do cruzamento é bem mais macia que a do Nelore puro.

  7. Rogério Baptista disse:

    Esqueci de dizer: Carne magra é boa! Se for de boi novo…

  8. JOSE FRANCISCO SOARES ROCHA disse:

    Prezado professor,boi bom é o boi que atenda os anseios do cosumidor final.pecuária boa é a que dá lucro.tem mercado para carne com marmoreio,para carne mais light,que é uma tendência mundial,para a pecuária extensiva,para a pecuária intensiva,para cruzados,para puros,só não temos espaço para a velha pecuária improdutiva. aproveitar a heteroze para produzir carne é receita de sucesso.temos clientes no norte,no centro oeste,no oeste baiano,inclusive com integração lavoura-pecuária em um belíssimo trabalho,com cruzamento industrial.
    mas também devemos dizer,programas de cria com a utilização de femeas cruzadas a longo prazo,levam a lugar nenhum.