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A quem deve servir o melhoramento do Nelore?

Os recentes artigos publicados no BeefPoint com referência a seleção e melhoramento da raça Nelore abriram uma discussão interessante, que nos faz questionar a respeito do caminho que o melhoramento do gado de corte deve seguir no país. Como premissa básica, temos de ter em mente que a seleção em gado de corte deve levar em conta a cadeia da carne, onde estão inseridos produtores, frigoríficos, distribuidores e, por fim, e talvez mais importante, o consumidor. Portanto, as definições e direcionamentos da seleção tem de atender, com maior ou menor ênfase, a cada um destes elos, e não apenas este ou aquele segmento.

Os artigos do Sr. Orestes Prata Tibery Jr. deixam claro o repúdio ao momento que a seleção do Nelore de pista está passando, onde a “pureza racial”, que era o mais importante no passado, passou a ser sobrepujada pelo “ganho de peso”. Vale ressaltar que a seleção de pista, em função do tratamento nutricional oferecido aos participantes, está muito distante da realidade da pecuária produtiva, que está baseada na produção a pasto. Portanto, esta discussão sobre a mudança do paradigma da seleção subjetiva de pista deveria estar levantando opções que aproximassem a ponta e a base da pirâmide, e não apenas a troca de objetivos da ponta, longe das reais necessidades de nosso rebanho comercial, que produz a carne nossa de cada dia.

Entendo que padrões raciais podem conviver com a seleção por produtividade e, como bem colocado no artigo “Genética às avessas”, do Sr. Gilberto Pires de Oliveira Dias, raça é um conjunto de animais que apresentam grande número de características iguais, e não apenas um pedigree ou documento. Portanto, estes padrões devem fazer parte do processo de seleção, mas não podem sobrepujar as características produtivas e econômicas, pois o melhoramento genético em raças de gado de corte tem como finalidade a intensificação da produção de carne de qualidade. Este balanço entre raça e produtividade deve existir, e os programas de melhoramento e provas de progênie devem ter esta preocupação, afinal, quem deve ser atendido nos programas de seleção? A platéia que assiste julgamentos de exposições ou o pecuarista que precisa produzir eficientemente carne de qualidade para o consumidor brasileiro e internacional?

Com relação à discussão de LA e PO, concordo com o Sr. Carlos Viacava, mais vale um LA provado positivo que um PO negativo. Além disso, é incontestável a existência de genes de Bos taurus na população de PO, portanto, se a pretensa pureza racial se restringe a um pequeno intervalo de gerações não tem sentido discriminar indivíduos e populações mais produtivas, que poderiam estar acelerando o processo de melhoramento. Apesar deste preconceito inicial por parte de criadores tradicionalistas, a partir da unificação dos sumários, já em adiantada marcha, o mercado vai naturalmente encontrar o caminho de aproximar estas divisões. Uma vez que tenhamos estas bases de dados consolidadas, com LA e PO juntos, passaremos então a ter o maior programa de seleção genética de gado de corte do mundo, com grandes vantagens para os pecuaristas brasileiros, valorizando ainda mais a Raça Nelore.

As raças e suas características não podem ficar estagnadas e atadas a tradicionalismos, pois o ambiente muda, o cenário econômico e o mercado mudam. O Nelore ideal de hoje não pode ser igual ao Nelore de 10, 20 ou 30 anos atrás. As pastagens são outras, o manejo nutricional e sanitário mudaram, avançamos tecnologicamente ao longo dos anos, enfim, o ambiente é outro. As demandas por precocidade, fertilidade e qualidade de carne também já não são as mesmas. Temos de estar preparados para mudar os paradigmas da seleção, para que realmente possamos oferecer produtos que atendam as demandas do consumidor interno e externo, garantindo resultados para todos os elos da cadeia da carne, e fortalecendo ainda mais o agronegócio em nosso país.

0 Comments

  1. Jose Ribeiro Martins Neto disse:

    Caro Donário.

    Concordo plenamente com sua opinião e vivo me confrontando com radicalistas.

    Minha visão é a seguinte: Cada propriedade tem suas particularidades que indicarão o melhor produto a ser produzido.