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A paz do campo

Por Luiz Meneghel Neto1

Muitos já ouviram os nossos pais ou avós dizerem que o campo era o lugar mais tranqüilo para se viver, para produzir, e até mesmo para fazer uma visita de cortesia. Isto mesmo, o campo era um ambiente tranqüilo. Tempos bons aqueles, porque atualmente o que vemos é uma nuvem de insegurança pairar sobre as nossas cabeças.

Declarações que incitam o anarquismo e o ódio, e ações que se assemelham a atos terroristas são divulgados nos veículos de comunicação e mostram que a intranqüilidade domina, neste momento, a zona rural. Isto é inaceitável. Como um setor da economia, responsável pela produção de mais de 115 milhões de toneladas de grãos e que responde por cerca de 37% dos empregos gerados no Brasil, pode ficar a mercê de determinados grupos ou atender aos interesses de facções políticas?

Sabemos que o agronegócio nacional tem enorme potencial para colocar o alimento na mesa do brasileiro – desde o mais faminto até o bem abastado, e daqui a 12 anos pode se tornar o maior fornecedor do mercado agrícola mundial, como prevê a Organização das Nações Unidas (ONU). Mas é preciso que o verdadeiro produtor rural tenha sossego para fazer isso.

Como bem disse o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, “o campo quer a reforma agrária para promover a justiça social e compensar os excluídos rurais, vítimas de erros passados, de décadas de descaso para com o setor. Mas é absolutamente imprescindível que esta reforma agrária seja feita dentro da legalidade, com o respeito à Constituição, ao direito de propriedade e à intocabilidade das terras produtivas”. Penso que qualquer ato que infrinja a Constituição Federal será uma grande afronta ao poder democrático.

É preciso que o Governo Federal dê um basta nestas situações que procuram desestabilizar a ordem nacional. Reintegrações de posses devem ser cumpridas, e as invasões de terras, de órgãos públicos ou privados são atos inadmissíveis. E representam uma afronta ao cidadão que respeita a ordem e cumpre com todas as suas obrigações sociais. Não podemos aceitar que invasões, como as praticadas no terreno da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, e no prédio do antigo Hotel Terminus, na capital paulista, se tornem habituais e desafiem o poder público. Será que os líderes destes movimentos sociais querem apenas os “holofotes” da mídia? Ou, na verdade, têm o interesse de desestruturar a sociedade como um todo?

O homem do campo, com a real vocação para a atividade, quer e exige paz para trabalhar. Só assim teremos condições de continuar contribuindo para o superávit da balança comercial e gerar uma receita financeira que totaliza 27% do PIB brasileiro.

Outro ponto importante é que, além da distribuição de terras, precisamos fazer com que a educação e a assistência técnica cheguem de fato ao produtor rural e aos seus filhos. As autoridades federais, estaduais e municipais, não se atentaram ainda que, em breve, o mais importante setor da economia nacional vai necessitar de mão de obra especializada, bem informada e em abundância. E que todos os agricultores do país devem ser contemplados com um sistema educacional eficiente e um programa de assistência técnica rural que propiciem o advento da tecnologia à todas as regiões do Brasil. Instituições como a Embrapa, a Emater, o Iapar, entre outras, precisam receber mais investimentos e modernas ferramentas de trabalho. Assim, vão colaborar para ajudar na difusão da pesquisa e no intercâmbio de informações com todo o setor agropecuário.

Entretanto, volto a afirmar que, se queremos que o setor primário continue atuando com todas as suas forças produtivas e atraía novos investimentos para a Nação, é relevante e primordial que a paz volte a se tornar uma tradição da porteira para dentro da propriedade. Não podemos deixar que uns poucos que não acreditam na ordem e na democracia possam fazer todo um pais se curvar perante aos seus atos de arrogância e radicalismo.
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1Luiz Meneghel Neto é produtor rural e presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Limousin

0 Comments

  1. ricardo lima carvalho disse:

    Parabéns Luiz, por este manifesto de repúdio ao fechar de olhos do governo ao produtor e ao sem terra, que quando assentado é simplesmente jogado no seu lote sem nenhuma infra estrutura social, educacional e de saude.

    Onde estão a Embrapa, a Empaer e outros orgãos de assistência do governo??

  2. Felipe Bittencourt de Carvalho disse:

    Concordo e avalizo o artigo em questão, gostaria de acrescentar que a obrigação do produtor rural é criar excedente de alimentos através de maximização da produtividade, para a população urbana mundial.

    É como uma troca, recebemos da população urbana, desenvolvimento tecnológico e apoio nas áreas de educação, saude, lazer etc.. e temos que devolver a eles com alimentos.

    Quando escuto falar em agricultura de subsistência familiar, onde não se cria excedente, não tem produtividade pelo tamanho das areas, não tem tecnologia pelo tamanho do investimento, me deprimo olhando a experiência deste tipo em outros países, por exemplo como no Peru, onde em 1970 a ditadura de esquerda, implantou a reforma agrária no pais todo, acabando com todas as areas grandes e transformando em centenas de milhares de pequenas propriedades, que até hoje lavram a terra com bois e enchadas e que passou a ser um importador de alimentos, exatamente o contrario do que esta acontecendo na Europa hoje, que é a fusão de pequenas propriedades, ou criação de empresas agricolas com o objetivo de se produzir em uma area maior e com isso ganhar escala para diminuir custos, aumentar produtividade, ganhar força na comercialização etc..

    Espero e trabalho para que nosso pais tenha a lucidez de não cometer o equivoco do Peru de 1970.